Ele era o mais sábio de toda a sua raça. E os outros macacos se reuniam à sua volta, e se encantavam com as histórias que ouviam. Mas também pudera, dizem até que mestre Siba tinha andado meio mundo, e por isso contava histórias de uns estranhos lugares, onde as matas são de pedras, e humanos moram dentro de árvores duras como ferro. Dizem ainda que ele foi macaco de circo, uma geringonça muito complicada, onde esses mesmos humanos acham graça quando sos macacos fazem o que eles fazem.
Quando Siba reunia os outros à sua volta, contava tudo isso. Falava dessas florestas, e dizia que chamavam cidades. E é por isso que todos comentavam de estranhos objetos que chamavam metrô, televisão, luz elétrica... E uma infinidade de outras coisas tão incríveis que era difícil de acreditar.
Mas na verdade, de vez em quando, um fato ocorria, que todos comprovavam que o velho sábio não inventava as histórias que contava. Qualquer novidade que surgia, como uma gripe, ou outra doença qualquer, ele era consultado, e sabia do que se tratava. E é por isso mesmo, que tinha uma reputação quase de um profeta.
Quando surgiram as faixas na floresta, os macacos se reuniram mais um vez ao redor do velho que ficava pacientemente deitado em sua rede de galhos. Queriam saber que novidade era essa. E o paciente macaco que era o único do grupo que conhecia as modernidade es da cidade, explicava o que era que estava escrito. O nome da CASTORPAUS, já explicava tudo. Era a nova firma de desmatamento que se instalava na floresta, e que tinha como proprietários, os sócios pica-pau e castor.
As faixas prometiam o progresso que a empresa traria, e dizia que todos teriam uma vida melhor daquele momento em diante, e que ninguém iria mais precisar andar procurando alimento, porque a própria empresa é quem importaria as melhores rações que viriam já prontas numas latas. As perguntas não paravam, e Siba tinha que explicar em detalhe cada uma das palavras novas que surgiam na conversa. Porque ração, lata, importação, empresa, eram coisas de um mundo desconhecido para os bichos que não tinham andado como o sábio macaco.
E ele ouviu calado quando os mais novos contavam entusiasmados, o que tinham ouvido no comício no centro da floresta. Só então, foi que pediram a sua opinião sobre a nova proposta de vida que lhes era oferecida.
_ Que acha de tudo isso, mestre?
Ele coçou o queixo, e fez bico com os beiços enormes de macaco, e disse:
_ Eu vejo que tudo isso não me cheira bem... Parece com todas as conversas que os políticos falam entre os humanos... – Coçou novamente o queixo, e continuou: - Os homens também fazem isso. Acabam com as matas, que é o único lugar onde se pode viver em paz. Aí constroem cidades no lugar, e os animais que conseguem escapar da morte, eles prendem em jaulas e gaiolas, ou os amansa como dizem, à custa de castigos, e colocam para trabalhar nos circos, como se fossem escravos para sempre.
_ Mas mestre, não são os humanos quem vão trazer o progresso... São animais como nós, e que querem o nosso bem... – disse o entusiasmado macaquinho que tinha até um adesivo da Castorpaus consigo.
_ Não acreditem em nenhum animal que traga esse espírito humano de engano e destruição. São mais enganadores, justamente porque são dos nossos. E conhecem os nossos costumes, e os nossos hábitos...
_ Que é que devemos fazer então, mestre?
_ Tenho um plano. – Disse o mestre. – Agiremos no tempo certo, porque também não podemos nos levantar contra o que ainda não aconteceu. Quem sabe o plano deles não seja mesmo de destruição como dizem. Mas se for...
Então o mestre falou tudo o que deveriam fazer, para impedir com sabedoria, que os inimigos da mata destruíssem o seu habitat.
Um dia, quando a macacada dormia sossegada nas suas redes de galhos, foram acordados com um barulho estranho que ficava cada vez mais perto:
TOTOTOTOTO, TOTOTOTOTO, TOTOTOTOTO...
Quase todos pularam ao mesmo tempo nos seus galhos, e foram verificar. Eram os pica-paus marcando as árvores da floresta. Voltaram para falar para o mestre o que era que estava acontecendo, e antes mesmo de contarem, ouviram outro barulho estranho:
NHECNHECNHEC, NHECNHECNHEC, NHECNHECNHEC...
Voltaram voando pelas copas das árvores, e viram dessa vez, os castores em ação, derrubando as árvores mascadas pelos pica-paus, dentro do rio. E em pouco tempo, viram que os castores tinham uma técnica nova, e já haviam devastado grande parte da mata perto do rio.
Foi aí que entrou em ação o plano do mestre. Toda a bicharada estava envolvida em defender a floresta: Os jacarés punham os castores para fugirem de dentro do rio; os lobos os perseguiam para que fugisse da terra; os macacos soltavam rojões, para espantar os pica-paus.
Então, a Castorpaus foi à falência, e a mata foi deixada em paz. E a macacada ficou feliz para sempre...
Para sempre não, porque um dia que estavam reunidos em volta do velhinho Siba, ouviram um barulho mais estranho ainda:
ROOOOOOM, ROOOOOOM, ROOOOOOM...
Mestre Siba disse que era o barulho de uma moto-serra. E explicou que era u’a máquina muito perigosa usada pelos humanos.
Mas o macaco estava já muito velho, e os outros não ligavam mais para o que dizia...