Os vizinhos de Dona Rica tinham verdadeira compaixão por ela e não suportavam seu neto, o moleque Tonhola. Também, ele não dava sossego, não deixava por menos. Entre os vizinhos havia uma senhora preta e gorda que morava duas quadras distante rua abaixo, sempre ela passava pela rua com seu caminhar vagaroso, nunca entrava, nem sequer parava, mas não deixava de cumprimentar quem estivesse na casa aos berros de lá da rua mesmo, muitas das vezes até mesmo sem saber quem lá dentro se encontrava. Além de obesa, a coitada sofria uma doença terrível que lhe causava inchaço numa das pernas, o que dificultava ainda mais o seu caminhar. A molecada da rua se divertia com a obesidade da coitada, e, é claro, nosso Tonhola não ficava atrás. Certa vez, ele apanhou uma daquelas plantas que parecem uma espada comprida e verde, “espada-de-são-jorge”, amarrou uma linha escura bem fina numa das pontas e a escondeu do outro lado da rua no meio do matagal, já quase escurecendo, se escondeu por detrás do muro baixo de sua casa e esperou coitada da preta passar na volta da missa das cinco na igreja da matriz. Assim que ele a viu se aproximando, começou a puxar a linha arrastando lentamente “cobra verde” diretamente de encontro com a pobre mulher. Deus do céu, vocês nem imaginam o tamanho que foi o susto da coitada quando percebeu aquele nojento objeto emaranhado em seus pés. Com todo aquele peso ela chegou a dar um salto para trás de tanto susto. Quando ela percebeu que tudo não passava de uma brincadeira do moleque Tonhola, o ódio a fez mudar de cor e saiu gritando: Tonhola seu moleque safado! Eu ainda te pego seu desgraçado! Você me paga! Parou um pouco, colocou a mão sobre o peito, curvou-se para frente tomando fôlego ainda aos berros. Seguiu seu caminho ainda esbravejando e com a respiração apertada.