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Infanto_Juvenil-->A ASA DO MORCEGO -- 21/12/2006 - 22:24 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





OS MENINOS HERÓIS DA SUPER QUADRA

(Hull de La Fuente)

O alarido dos meninos em baixo do prédio de apartamentos era grande. Algo muito especial acabara de acontecer. Renato, o mais empolgado dentre os coleguinhas de escola, gritava a todo pulmão, chamando os outros colegas moradores no edifício:
_Diogooo! Rodrigooo! Venham aqui! É uma emergência!
Rodrigo foi o primeiro a atender ao chamado e chegando à janela do sexto andar perguntou gritando:
_Que foi? Tô jogando totó, não posso sair! Se eu descer agora vou perder pra empregada... Deixa eu terminar a segunda partida, já ganhei uma!
No mesmo momento Diogo também apontou na janela do quinto andar. Estava todo molhado e enrolado numa toalha de banho e quis saber qual era a emergência:
_Quem morreu? Num posso descer agora! Peguei piolho na escola! A mamãe tá passando remédio, num tá vendo que eu tô pelado?
Renato não se deu por vencido e insistiu:
_Tá vendo essa caixa na minha mão? Aqui tá uma coisa que vai fazer a gente ganhar o prêmio Nobel da Bondade. É melhor vocês descerem, ou então só nós cinco vamos ganhar o prêmio. E olha! Pode trazer o “Remela”, seu irmão. E você Rodrigo, pode trazer a Lalá. Tua irmã é chata, mas merece ganhar o prêmio também.
_O que tem aí? – Quis saber Rodrigo.

_Venha ver aqui! Foi por isso que eu disse que é uma emergência. Desçam logo, ou “ele” vai morrer, ele precisa de nossa ajuda.
_Ele quem? Aí nessa caixa não cabe ninguém, só se for em pedaço. – respondeu Diogo zombando do amigo.
Renato olhou para os colegas a sua volta e eles pediram pra que insistisse. Então apelou mais uma vez aos amigos:
_Por favor! Se vocês não ajudarem, eu não vou mandar o nome de vocês lá pra Suécia. E lá na escola todos vão ficar sabendo que vocês não quiseram colaborar pra salvar uma vida, “é um ato humanitário”. O caso é sério!
Este argumento foi o suficiente pra que os dois se decidissem. Em poucos minutos todos estavam em baixo do prédio. Lalá foi a primeira a querer saber do que se tratava. Com muito cuidado Renato abriu a tampa da pequena caixa e mostrou seu conteúdo.
_Um Morcegoooo! Socorro! – gritou Lalá apavorada.
_Deixa de ser fresca, garota! Ele tá com a asa quebrada, e seus gritos fricotentos vão assustar o coitado. A gente precisa cuidar dele. Nós já pegamos o dinheiro das nossas mesadas e vamos levar ele ao veterinário. – disse Renato, logo acrescentando. – e vocês, não vão ajudar? Não temos a grana toda pra pagar a operação...
_Que operação? Asa quebrada não é operada. É engessada. – declarou “Meleca”, olhando orgulhoso para os colegas que estavam em volta da caixa.
Salsicha, o primo de Renato, ajeitou as hastes dos óculos detrás das orelhas e advertiu os colegas:

_Oceis tão demorando pra socorrer o “Joaquim quebrado”. Num sei não! Num demora ele morre de vez. E olha! Vão buscar a grana que tá faltando pra levar ele no doutor, oceis num vão ajudá não, é?
Os moleques se entreolharam, Rodrigo meteu a mão no bolso da bermuda, tirou uma nota de dez, estendeu a nota pra Renato dizendo:
_Puxa! Cabei de ganhar da Orminda, no jogo de totó. Nem esquentou no bolso. Agora só vou ver grana no fim do mês, mas se é pra salvar o vampiro... – concluiu sacudindo os ombros.
_Ocê é ignorante, hein cara? Num tá vendo que o “Joaquim quebrado” num é vampiro? O Joaquim só come fruta do mato, mas se oceis num ajudar, inté que ele pode virar um, mas só de raiva.
Rodrigo não o deixou sem resposta:
_Ih! Véi! O caipira pensa que sabe das coisas. Até batizou o morcego da asa quebrada...
_Ó mané! Num fui eu que pus este nome nele, foi o primo Renato, e foi desde a hora que nós achou ele. E ele tem mesmo a cara de Joaquim. Quem mais vai dar a grana?
Diogo coçou a cabeça pensativo. “Dentuço”, do apartamento 405, afastou-se dele reclamando:
_Hei, cara! Vê se dá logo a grana e vai se coçar pra lá. Eu num quero pegar essa droga de piolho.
Diogo fitou Dentuço e disse:
_Eu num peguei piolho, idiota! Foram eles que me pegaram. E agora tô me coçando num é por causa de piolho, é que tô pensando como vou tirar as moedas do cofre-porquinho. Eu num queria quebrar ele.
Sardento, irmão de Dentuço intrometeu-se na conversa e sugeriu:
_Dá laxante pro porco, cê vai ver como vai sair fácil, fácil.
Renato interrompeu a discussão e mais uma vez lembrou que não poderia mandar pra Fundação Nobel os nomes dos colegas que não ajudassem. Foi o que bastou pra que Diogo e Lalá se decidissem.
_Eu vou lá em cima buscar o dinheiro. Era a grana que eu estava juntando pra comprar outra Barbie. – disse Lalá, quase em tom de lamento.
_E eu vou ter que quebrar o porquinho que a tia Ágata me deu. – acrescentou Diogo ainda se coçando.
Finalmente, às onze horas da manhã, toda a turma se dirigiu ao consultório do Dr. Zé Roberto, o veterinário da quadra. O morcego foi examinado e sua asa esquerda foi colocada numa espécie de tala, que lembrava um cabide. A asa ficou parecendo um pequeno guarda-chuva aberto e quebrado. Dr. Zé Roberto orientou os garotos no sentido de que não deixassem faltar alimento e água ao morcego e recomendou que o deixassem sempre à sombra.
Animados com o grande feito, os moleques voltaram pra casa e é claro, decidiram que o “Joaquim quebrado” ficaria convalescendo na casa do líder, Renato. Mas ao chegarem lá, a mãe, a avó e a empregada, saíram correndo da sala e aos gritos, lá do corredor, os expulsaram do apartamento.

A segunda tentativa de alojar o morcego foi na casa de Salsicha. Também ali se repetiu a gritaria e a proibição de entrarem com o estranho hóspede.
Na casa de Dentuço e Sardento a cena foi pior. A irmã deles era doente e quase teve uma síncope. A mãe, ao ver a filha passando mal, os expulsou aos gritos:
_Vão embora daqui! Já não basta a presença dos cachorros e a bagunça que vocês fazem? Agora eu vou ter que hospedar um vampiro? O que mais vocês querem? Desapareça com essa miniatura de Drácula daqui desta casa!
E a recusa se repetiu em todas as casas. Desconsolados, o grupo foi falar com o porteiro se podiam deixar o hóspede na área de lazer, na cobertura do prédio. Francisco se comoveu com o carinho dos moleques pela criaturinha feiosa e resolveu ajudá-los. Na área de lazer não seria possível, mas na casa de máquinas dos elevadores havia uma chance, desde que eles prometessem não mexer em nada por lá. Agradecidos eles juraram não tocar em nada. Assim, subiram com o porteiro à casa de máquinas, onde deixaram “Joaquim-quebrado” num ambiente propício aos de sua espécie. Até aquele momento a candidatura ao prêmio “Nobel da bondade” estava assegurada.
Nos dias que seguiram, os garotos foram zelosos e levavam comida e água para o morcego. Na escola todos ficaram sabendo do feito do grupo e as professoras até escreveram no quadro de mensagens um elogio pra eles. Porém, na semana seguinte, foi batendo a preguiça de cuidar do morcego. Renato delegou a tarefa ao primo Salsicha, que por sua vez passou ao Dentuço e assim por diante. “Joaquim-quebrado” foi esquecido na casa de máquinas.
Um mês depois, uma das professoras perguntou a Renato se o morcego já havia sido posto em liberdade. O garoto então se lembrou de “Joaquim-quebrado” e de que nunca mais perguntara aos colegas como ele estava. A professora estava diante dele esperando uma resposta, meio sem jeito respondeu que o primo Salsicha estava cuidando do morcego e que logo ele poderia voar livremente. Naquela mesma manhã, ainda no colégio, Renato reuniu toda a galera que participou do salvamento e descobriu que nenhum deles foi levar alimento ao morcego. Decidiram então que na volta pra casa iriam direto à casa de máquinas.
Renato abriu a porta quase sabendo o que iria encontrar. Todo o grupo entrou no estreito compartimento com um misto de curiosidade e culpa. Salsicha pegou a caixa onde o morcego fora colocado e a inclinou na direção do grupo. Lalá soltou uma exclamação de nojo:
_Puxa! Que horrível, uma múmia de morcego! Foi pra isto que eu deixei de comprar uma barbie?
Quase simultaneamente Dentuço, Meleca, Diogo e Sardento começaram a lançar a culpa uns nos outros:
_Foi você que deixou ele morrer! Agora não vai ter prêmio de bondade nenhuma. E agora Renato?
Renato olhou para o interior da caixa onde jazia o morcego seco e sem perder a pose respondeu:
_Nós perdemos o prêmio Nobel da bondade, mas podemos ganhar o prêmio Nobel de ciências. Nós conseguimos mumificar o “Joaquim-quebrado” de maneira perfeita, vocês não acham? Ainda bem que não mandei nossos nomes pra Suécia.
Mas esta alternativa não convenceu os outros do grupo e cada um foi saindo do local, deixando Renato sozinho com suas idéias mirabolantes. Mas quando ele percebeu que estava realmente só, o receio bateu e deixando a caixa com o morcego de lado, falou em voz alta:
_Caraca! Agora que o “Joaquim-quebrado” tá morto ele pode virar vampiro e pode vir cobrar por que deixamos ele morrer de fome. É melhor eu sair daqui...
Dito isto, saiu em desabalada carreira e nem quis pegar o elevador, desceu correndo as escadas até seu apartamento no terceiro andar, onde buscou refúgio. O tempo passou, mas o “ato quase heróico” do grupo ficou fazendo parte do folclore da Super Quadra.


Fim



Os Meninos Heróis da Super Quadra

Agosto/2006













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