Estava meio confuso, duvidando de tudo e de todos. Desconfiava até das minhas dúvidas, pensei ser cético, mas era pura e racional precaução. Quando decidi olhar em volta vi-me sozinho, já era tarde. Você não passava de um sonho que me atordoava a cabeça. Decidi olhar para frente, mas o horizonte estava turvo, como que me delatando a iminência de tempos piores.
”Tudo que é ruim piora”, foi o clichê que me veio à mente no instante, juntamente com o tão temido “agora não dá para piorar”, e por incrível que pareça não piorou. Bom, por que seria insuportável algo pior do que aquilo. Talvez não, mas prefiro pensa-lo assim para dar um ar pessimista às palavras e enaltecer o meu espírito de herói de mim mesmo.
Chegou o momento em que se confirmavam as suspeitas de que é somente em você que se deve confiar. Achava sempre que não era verdade, pensava em meus pais, sendo já realista em descartar o que oferecem os colegas. De fato, pais são em geral sinceros, mas também não costumam abdicar de seus títulos de “ocupados” para tratar de supostas puerilidades.
Foi meio confuso pensar em satisfazer minhas próprias vontades sozinho, repugnava a comparação à masturbação, mas ela não deixava de me vir à cabeça. Com o tempo vi ser possível, e melhor do que aquilo – que moderninhos titulam “descoberta da própria sexualidade” – não havia pudor algum. Era puro prazer. Parava a observar meus devaneios e me via o mais sábio do seres, amava-me.
Pura tolice. Paro hoje e vejo a falta que me faz uma outra mente para compartilhar minhas emoções. Mas, se eu sair por aí e encontrar uma paixão nada vai passar de um complemento dispensável. Essa coisa de auto-satisfação vicia. Amo-me e até me sinto completo. Se encontrar alguém talvez seja para sondar-lhe as imperfeições para poder olhar no espelho e dizer-me: “És perfeito”.