O povo se queixa de Romãozinho - um menino travesso que esconde objetos. Câmara Cascudo registrou em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro” a história de um menino travesso condenado a vagar pelo mundo enquanto o mundo existir. Tentei descobri algum parentesco entre Romãozinho e Joaquim Nagô. Pois, este último - um escravo já falecido - é invocado para achar coisas perdidas ou escondidas por alguma entidade brincalhona. Teria, realmente, a mãe lançado uma maldição sobre Romãozinho e por isso, ele ficara vagando entre o céu e a terra? “Você não morrerá nunca! Você não conhecerá o céu ou o inferno, nem repousará enquanto existir um vivente sobre a terra!”
Não há mais limbo, os anjos que ficavam por lá – crianças não batizadas - purificaram-se e foram para o céu. Romaõzinho não! Nunca quis converter-se e continua a fazer malineza. É possível que Joaquim Nagô seja descendente desse traquinas, ou seu ancestral, pois nem a mitologia nem o folclore conhecem os limites do tempo.
Joaquim foi um escravo condenado à morte em 1836 em Montes Claros. Confessou a culpa pelo assassinato de um homem branco, para livrar da condenação uma escrava a quem muito amava. Dizem que a negra também escrava, amava Nagô e tinha casos com seu amo – um intercurso, talvez...
Nagô deu sua vida por ela e, por causa desse gesto de amor, no dizer do povo, tornou-se santo e milagreiro, de sorte, quando Romãozinho esconde alguma coisa, basta alguém dizer “Acha aí Nego Nagô, acha aí Nego Nagô”. E o objeto desaparecido, aparece. Mas tem que pedir a ajuda, cantando, porque Nagô, debaixo de taca, dançava para o senhor de escravos: “Dança aí, Nego Nagô, dança aí Nego Nagô” e fazia isso para encontrar coisas perdidas. Depois de sua morte o ritual dos milagres tornou-se música – uma apologia ao escravo:
“Dança aí, Nego Nagô! Dança aí, Nego Nagô!
Dança aí, Nego Nagô! Dança aí, Nego Nagô - ô - ô -ô -ô -ô -ô...” ••.