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Infanto_Juvenil-->Num Cantinho de Mundo -- 20/12/1999 - 23:24 (Eurico de Andrade) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NUM CANTINHO DE MUNDO...

Quem não conhece aquela abelhinha? Todos, num raio de quatro quilômetros, a conhecem. Chamam-na até pelo nome: Fabiana.
A abelhinha Fabiana percorre dia-a-dia o seu pedaço de terra, visitando as florzinhas para pegar o néctar que a Mãe-Natureza deixa em cada uma. Leva junto, também, de cada flor, o pólen. Um pouquinho vai para a sua colméia. O restante ela distribui pelas outras flores da mesma espécie para que fiquem fecundadas e produzam frutos.
Fabiana gosta de visitar as flores, admirá-las e agradecer ao Criador pelo fato de tê-las feito tão lindas. Em algumas a perfeição chegou a tão alto grau que têm até um caminhozinho mais colorido. Seguindo por ele, Fabiana vai bem no fundo da flor, onde a Mãe-Natureza deixou aquele docinho tão gostoso. O néctar, que ela leva para sua colméia. Junto com suas coleguinhas, transformam-no em mel, o manjar dos deuses.
De vez em quando ela gosta de dar umas voltas mais longas antes de começar a visitar cada flor. É curiosa e adora matar a curiosidade. Quer saber de tudo, quer conhecer tudo. Por isso voa alto, muito alto, nesses momentos. Tão alto como nenhuma outra abelhinha conseguiu chegar. De lá vê o mundo, aliás, um pequeno pedaço do mundo. E suspira, decepcionada e ansiosa, falando consigo mesma:
- Que pena, sou tão pequena para este mundo tão grande! Mas ainda hei de conhecê-lo todo! Quero mais! Muito mais!...
As vezes acontece que nesses vôos a grandes alturas Fabiana passa uns maus bocados. Um dia foi uma ventania acompanhada de uma chuva que seu instinto de abelha não previu. Tão absorta estava em contemplar as coisas da Mãe-Natureza... Foi levada a uma grande distância pelo vento e jogada num lugar estranho, desconhecido... Da chuva escapou por pouco escondendo-se debaixo de uma folha de embaúba. Demorou a achar o caminho de volta para a colméia e chegou tarde, muito tarde, em casa, bem depois das suas companheirinhas.
Noutro dia, ia bem alto, quando, de repente, deparou-se com um guloso bem-te-vi pronto para papá-la. Vai daqui, vai dali, sobe e desce, desce e sobe, até que conseguiu livrar-se do atacante. Ainda bem que ela não tinha pego néctar e nem pólen. Estava leve e, portanto, pôde fazer todas aquelas acrobacias.
Logo depois, nesse mesmo dia, teve outra desventura. Ficou presa bem no cantinho de uma enorme teia de aranha. Esperneou tanto e com tanta vitalidade que conseguiu livrar-se. Bem a tempo, porque dona Aranha já estava chegando para dar-lhe sua anestesia mortal.
Nesse dia Fabiana voltou para casa triste e pensativa. Descobriu que, embora nunca tivesse feito mal a alguém, tinha inimigos e inimigos que não se preocupavam com a vida ou com a morte dela. Bem que um dia a Rainha-Mãe havia avisado:
- Cuidado, minhas filhas! Saiam na hora certa e nunca voltem tarde. Não voem alto porque nas alturas é mais difícil fugir dos inimigos. Evitem usar a arma que têm para defesa própria, pois o seu uso significa sua morte. Usem-na, sim, para a defesa da colméia contra os invasores. Nunca ataquem ninguém que esteja em paz. Sejam dóceis. Sejam amigas...
Quanto mais os dias passavam, melhor Fabiana entendia como eram sábios os conselhos que a Rainha-Mãe dava para sua turma. Só que não agüentava a curiosidade de conhecer lugares diferentes e voava longe, bem longe. E, mesmo passando tantos apertos, voava alto, cada vez mais alto.
Enquanto ia voando, lembrava dos ensinamentos da Rainha-Mãe. Guardava cada detalhe do que lhe era ensinado. Não se esquecia de nada.
Por isso é que ela sabia que as abelhas eram exploradas pelo rei da criação há mais de cinqüenta mil anos. Que, numa colméia, há a Rainha, as operárias e os zangões, que são os machos. Fabiana descobriu que, como todas as operárias, ela era estéril, não podia ter filhotes. Só a Rainha. Por isso, pensava a abelhinha, é que ela via de vez em quando sua Rainha cansada. Não era moleza ter que botar cerca de cinco mil ovos por dia. Fácil era a vida do zangão, nascido de ovos não-fecundados. O zangão vivia para comer mel e fecundar a Rainha. Não fazia mais nada. E um só não conseguia dar conta da Rainha. Ela precisava acasalar-se com pelo menos doze zangões diferentes para receber os oitenta milhões de espermatozóides no seu vôo nupcial.
Certa vez Fabiana quis saber porque as operárias eram estéreis. Ninguém sabia ou ninguém queria contar. Até que uma operária, já no último dia de vida, resolveu, aliviada, abrir o bico:
- Olha, Fabiana, isto é segredo, mas vou contar pra você, já que é tão curiosa. Você é como fui quando tinha sua idade. Sabe a "substância da Rainha" que ela de vez em quando distribui para nós? Pois é. Aquela substância é um hormônio, produzido por ela, que não deixa nossos ovários se desenvolverem. Por isso nós ficamos estéreis...
- Mas então a Rainha é uma safada! Eu...
- Não, Fabiana! A Rainha é sábia. Só isso! Se ela não fizer assim, não haverá obediência nem união dentro da colméia. Só superpopulação. É graças à Rainha que nossa colméia tem estabilidade social e nossa espécie é preservada com o passar dos tempos.
Assim Fabiana foi descobrindo, cada vez mais, a importância da Rainha. Tinha que haver uma ordem dentro da colméia. Afinal, só de operárias, eram quase sessenta mil. Trabalho demais para a Rainha cuidar de tantas abelhinhas e botar tanto ovo. A "substância da Rainha" era como se fosse uma lei imposta à colméia para que funcionasse aquela sociedade.
Um dia a abelhinha descobriu um outro inimigo: o homem. Ficou decepcionada, desiludida, quando, depois de tanto trabalho, ele veio e levou quase todo o mel da sua colméia. Aquele mel seria a comida dos seus milhares de irmãozinhos que estavam por nascer. Nessa época ela tinha vinte e cinco dias de vida. Já era bem adulta, tinha que trabalhar mais a fim de juntas fabricarem mais mel para alimentarem as novas gerações. Mas o trabalho, que era sua maior diversão, pois, enquanto visitava as flores conhecia o mundo, passou a ser um sacrifício. Aí ela viu que era diferente das suas outras amiguinhas. Pensava diferente delas. Aliás, ela pensava. Enquanto as outras se dedicavam novamente com afinco à procura do néctar, ela resistia e passou até a ser mal vista pelas coleguinhas. A situação piorou mais ainda quando centenas delas morreram ao buscar néctar de flores nas quais o homem havia jogado veneno. Elas ficaram lá, mortas, algumas até dentro das próprias flores.
A abelhinha Fabiana passou a ficar mais tempo longe da colméia quando alongava cada vez mais os seus passeios, sempre com muito cuidado, mas com a curiosidade aguçada. Apesar dos pesares, queria ainda conhecer o mundo.
Foi num desses passeios que ela encontrou o menor pássaro que já tinha visto. Um pequenino beija-flor, todo colorido, que voava pra cá e pra lá, pra frente e pra trás. Era alegre o danadinho, não se cansava nunca. A abelhinha ficava encantada com as acrobacias do beija-flor e com a beleza de suas penas.
- Como você é bonito!
- Obrigado abelhinha! O Criador foi bondoso comigo de várias maneiras. Deu-me o par de asas mais velozes dentre todas as aves. Quando quero, chego a velocidades que quase nenhuma ave consegue chegar. Eu e todos os meus irmãos beija-flores voamos pra frente e pra trás, pra baixo e pra cima instantaneamente. Nosso ninho é o mais fofinho dentre todos. Feito de algodão, para agasalhar os filhotinhos do frio...
- Puxa! Como você é falante!...
- E tem mais. Tá vendo o meu bico longo? Sabe por quê? Ele vai fundo nas flores para buscar aquele docinho tão doce de que você também gosta, o néctar...
- Ah! Então você também faz mel?
- Não! Não faço mel... Meu alimento, nas flores, é o néctar e o pólen!
- Então somos concorrentes? Eu busco o néctar para fazer o mel e você o toma das minhas flores?
A abelhinha estava ficando meio brava.
- Não abelhinha! Há flores pra todo mundo. O que nós somos é colaboradores da Mãe-Natureza. Sabia que enquanto você leva o pólen nas patinhas, eu o levo no meu bico e que polinizamos todas as flores que visitamos?
- Disto eu sei!
- Então abelhinha! Tá vendo como somos colaboradores da Natureza?
- É... Você tem razão...
O papo continuou longo. A abelhinha estava encantada de ver como ele falava de tudo, conhecia de tudo.
- Como é que você sabe de tantas coisas, beija-flor?
- Você não sabe como sei? Simplesmente aprendi na escola! A escola do mestre Beija-Flor, onde a gente vai quando quer. É o maior sábio que conheço. Ele ensina tudo, tim-tim por tim-tim. Basta a gente querer aprender. É só ter uma dúvida, corro lá. Não nasci para ficar ignorante!...
- Será que ele me ensinaria umas coisinhas também?
- É claro! O prazer dele, como de qualquer bom professor, é ensinar. Mas olha, abelhinha, a melhor maneira para aprender é correr o mundo... Voar... Voar rápido... Sem perder tempo! Quanto mais você viaja, mais aprende...
A abelhinha ouviu isto engasgada. Estava triste, quase chorando. Nunca iria conhecer tantos lugares quanto o novo amiguinho. Voava muito lento. E o tempo, para ela, muito curto.
Já era tarde. Hora de ir embora. Abelha que se preza não dorme fora de casa.
- Olha, beija-flor, tenho que ir embora. Será que a gente poderia se encontrar para conversar mais?
- Pode. Amanhã cedo, aqui nestas mesmas flores, estarei esperando por você.
- Escuta, beija-flor, você tem nome?
- Tenho. Meu nome é Fábio. As suas ordens!
A Abelhinha Fabiana foi para casa radiante de alegria. Tinha feito um amigo. E que amigo! Sua cabecinha, antes de dormir, funcionava a mil por hora. Bolou um plano. Para realizá-lo ia precisar da colaboração do Fábio. Será que ele topava?
Mal amanheceu, Fabiana já estava a caminho do encontro com o Fábio beija-flor. Voou tão depressa que chegou cansada, esbaforida, à flor do encontro. Ele também acordava cedo. Já estava à espera. A emoção da abelhinha era tanta que, ao falar do seu plano, até gaguejava.
- Fá-Fábio! Se-será que você me ajuda?
- Mas é claro! Gosto de ajudar todo mundo. Ainda outro dia ajudei nossa colega borboleta. Ela...
- Não Fábio! Tenho pressa! Deixe-me falar!
- Pois não, senhorita! Manda!
- Quero que você me leve para conhecer o mundo. Eu vôo devagar. Você voa rápido. Meu tempo de vida não é longo. Por isso tenho pressa. Você me leva?
- Hum! Deixe-me pensar!...
Enquanto ele pensava, abelhinha estava aflita, com os olhinhos carentes, pedindo ajuda.
- Vai, Fábio! Prometo que vou ser bem comportadinha! Não lhe darei trabalho! Juro!
Fábio pensou, pensou...
- Tudo bem, mas...
- Ai, Fabinho! Como você é bom!
- Espera aí abelhinha! Não terminei! Tem o "mas"!
- Faço qualquer coisa! Topo qualquer condição! Desde que você me leve!
- Antes de irmos mundo a fora, proponho pedirmos a opinião do mestre Beija-Flor. Você topa?
- É claro que topo Fabinho! Vamos lá?
- Vamos. Suba nas minhas costas. Segure bem, viu?
Voaram. Alto e rápido. Abelhinha Fabiana, com os olhos estatelados, tremendo de emoção, queria ver tudo, conhecer tudo e aprender tudo. Seu sonho, graças a um amigo, estava se realizando.
Chegaram à casa do mestre Beija-Flor. Bem no meio da clareira da floresta, toda cercada de flores variadas e perfumadas. Um paraíso para as abelhas que estavam lá, em grande quantidade, buscando o néctar tão precioso para elas. Fabiana viu e gostou da harmonia reinante entre os beija-flores e suas coleguinhas que ela nem conhecia. Olharam-na curiosas e cumprimentaram-na quando, junto com o Fábio, ela entrava na casa do mestre.
O Fabinho estava até emocionado. Todo cerimonioso, porque iria conversar com quem sabia muitas coisas da vida. Alguém que já vivera muito e tinha muito para ensinar.
- Olá Fábio, como vai?
O mestre Beija-Flor falou tão mansinho, com uma voz tão carinhosa, que a abelhinha começou a se sentir em casa.
- Mestre, esta minha amiguinha, a Fabiana, quer conhecer o mundo e escolheu a mim para guiá-la. O que o senhor acha?
- Acho que ela está certa, meu filho. Quando alguém quer conhecer ou aprender, ninguém pode atrapalhar. O que pudermos fazer para ajudar, deve ser feito.
- Acontece que ela voa pouco e devagar...
- E o que tem isso, filho? Você ajuda! Voe por ela, assim como você a trouxe até aqui. Fuja dos perigos, não se meta em encrencas. Só voe durante o dia. Lembre-se de que a noite existe para o descanso. Cuidado com as flores que você visita e com os insetos que come. O homem pode tê-los envenenado com seus pesticidas e inseticidas... Fuja do gavião e da coruja. Para isso você tem asas velozes...
- Tá certo, mestre! Mas, antes de irmos, conte aqui pra minha amiguinha como é a nossa vida, a nossa história, aquelas coisinhas que você me contou!
- Você quer mesmo ouvir, Fabiana?
Foi a primeira vez que o mestre Beija-Flor dirigiu-se diretamente a ela.
- É claro que quero, mestre! Falou ela de supetão, até sem piscar, com medo de perder algum detalhe da conversa.
- Pois é, minha filha, nós temos orgulho da nossa raça. Não é que nos julguemos melhores que os outros. Mas tudo fazemos para tornar a natureza mais bela. Fazemos a nossa parte, com muito amor, de acordo com o que nos determinou o Criador. É por cumprirmos com o nosso dever, com o fim para que fomos criados, que temos orgulho.
- Veja só, Fabiana! Somos várias espécies, mais de seiscentas, de tudo quanto é cor e de tamanhos variados. Mas estamos entre as menores aves do mundo. Você já ouviu falar na "Calypte helenae"? É a menor ave do mundo e é um beija-flor. Pesa menos de vinte gramas. Você pode encontrar representantes da nossa raça desde o nível do mar até a mais de quatro mil metros, altitude em que quase nenhum outro animal consegue viver. Nossas asas são as mais rápidas. Batem cerca de oitenta vezes por segundo, tão velozes que nenhum olho pode acompanhá-las. Para que elas sejam assim, precisamos ter músculos peitorais muito resistentes. É por isso que eles representam um terço do nosso peso total. Outra coisa, e isso você vai descobrir com o Fábio, é que nós raramente descemos ao solo. Fazemos tudo o que precisamos sem ir ao chão. Nossas unhas são muito grandes e nos atrapalham andar, por isso, preferimos voar.
Na nossa alimentação, o que mais gostamos é do néctar e do pólen. Em troca desse docinho que a flor nos dá, que é o néctar, nós levamos no nosso grande bico muitos grãos de pólen e os vamos distribuindo para outras flores a fim de que sejam polinizadas. Assim fazemos nossa parte ajudando a Mãe-Natureza a produzir seus frutos que vão saciar a fome de muitos. Nós nos alimentamos também de pequenos insetos que vamos encontrando pelo caminho. Os prediletos são as pequenas aranhas que, por sinal, são suas inimigas, não é mesmo Fabiana?
- Hum? Hã! É! É claro!
Fabiana estava tão absorta nas explicações, sem perder uma palavra, que se assustou com a pergunta. O mestre continuou:
- Pois é, minha amiguinha, vá conhecer o mundo, vá! Só espero que você não se decepcione com ele...
Foram. Fabiana e Fábio. Mundo a fora. A cada dia voavam cerca de dois mil quilômetros. Como era rápido o seu amiguinho!
Fabiana via tudo. Apreendia tudo.
Passaram por lugares muito frios, onde conheceu neve e gelo. Também por regiões quentes. Grandes montanhas. Enormes florestas. Água, muita água. Viu desertos e abismos. Animais estranhos. Plantas que nunca tinha visto. E cidades. Muitas cidades. Bonitas, grandes, pequenas, ricas, miseráveis...
E Fabiana viu a ação do homem sobre a natureza. Grandes valas e buracos provocados pela água das chuvas nos lugares onde a vegetação tinha sido destruída deixando nua a terra. Árvores, algumas novas e outras centenárias, derrubadas. Florestas inteiras sendo queimadas. Vegetação destruída em volta de nascentes d água, dos córregos e dos rios. Quilômetros e quilômetros de pastagens onde antes só havia florestas. Rios poluídos, cheios de lixo e de sujeira. Peixes morrendo por falta de oxigênio nas águas apodrecidas. Fábricas e cidades matando os rios lançando neles seus esgotos. Em outros lugares Fabiana viu homens arrancando montanhas e destruindo a natureza para retirar minérios. Garimpeiros acabando com as margens e com o leito dos rios para achar ouro. Petróleo e lixo de tudo quanto é tipo sujando a água do mar e as praias. Viu fábricas soltando rolos de fumaça e de poeira emporcalhando a atmosfera. Gases podres e venenosos por todo lado. Aves e animais sendo abatidos a tiros por simples diversão de homens sem consciência. E Fabiana viu os próprios homens se matando em guerras. Construindo armas cada vez mais mortíferas para dominarem uns aos outros, explodindo bombas para matarem grupos rivais e gente inocente. E as flores, as flores de que Fabiana tanto gostava, em várias partes por onde passou, estavam envenenadas com pesticidas, fungicidas e inseticidas. Milhares de bichinhos tão úteis, de várias espécies, inclusive abelhas, ela viu mortos, em grande quantidade, dentro das flores e também no chão, em volta delas. Em vistosos jardins e em gigantescas monoculturas.
Tudo muito diferente da sua terrinha, nos seus domínios de quatro quilômetros de diâmetro, onde havia a alegria, a paz, a harmonia da natureza. Onde o homem ainda não tinha chegado com tamanha destruição.
- Fábio, quero voltar! Falou ela toda tristonha.
- O quê? Ele nem estava acreditando no que ouvia.
- O mundo não é como pensei, Fábio! O mundo que eu achava ser tão encantador, está acabando, está sendo destruído! Quero voltar para o meu pequeno mundo, o meu cantinho de mato, onde conheço uma a uma as minhas flores e onde todos me conhecem.
- Mas você não queria conhecer todo o mundo, Fabiana?
- Não quero mais, Fabinho!... Que adianta eu conhecer o mundo e só encontrar a destruição e a morte? Quero voltar!...
Voltaram. Em poucos dias chegaram ao cantinho do mundo de onde saíram. Fábio continuou com suas peraltices e acrobacias encantando a natureza. Logo encontraria uma companheirinha para, juntos, fazerem o seu primeiro ninho.
Fabiana voltou a fazer o trabalho na colméia como antes. Só que agora, com muito mais ânimo e sem resistência nenhuma. Os sonhos e as ilusões de conhecer o mundo acabaram. O bom mesmo eram sua terra, suas amiguinhas, suas flores e sua colméia. Lá ela tinha valor e fazia humildemente sua parte na tarefa que lhe cabia na passagem por este mundo.
Breve, muito breve, dentro de poucos dias, ela iria falar para uma irmãzinha mais nova:
- Olha, isto é segredo, mas vou contar-lhe, já que você é tão curiosa como fui quando tinha sua idade... Sabe a "substância da Rainha"?...

Eurico de Andrade (jea@brnet.com.br)
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