24.04.90
ERROS - O QUE APRENDI COM ELES?
Sei que valores morais têm como bens culturais correspondentes as relações sociais. Sei que a gama de valores morais que cultivo deve ser identificada por atos e palavras, ou melhor, por comportamentos que confirmem cada valor. Creio, agora, também, que os valores que devo cultivar devem ser consentâneos com os limites que a realidade impõe. À medida em que meus comportamentos não exprimem os valores que cultivo, então, aparecem meus erros.
Hoje, só hoje, vejo isso. E cada vez que vejo, sinto e/ou ouço alguma coisa que me leve a constatar a discrepância "valor x comportamento", vem o conflito, a explosão: um novo tipo de erro que me mostra e me põe totalmente frágil, sem capacidade para refletir, obsessivo.
Valores que assimilei, desde criança, foram sendo alimentados sem maiores esclarecimentos, sem maiores perguntas e adotados por imitação, por ouvir dizer, por modismo, por obediência... E, quanto aos comportamentos que os ratificassem, muito menos. Enquanto a realidade me permitiu errar, sem plena consciência de que estava errando, pouco pude aproveitar como lição de vida.
As lembranças desses erros se pareciam com fotos fora de foco, sem nitidez, sem significado. A não ser alguns valores vitais, como segurança e saúde, básicos para minha sobrevivência, os demais foram fontes inesgotáveis de erros; poucos se confirmaram, de modo contínuo, através de posturas e ações compatíveis.
O exame de cada discrepância, entre valor e comportamento, hoje, evidencia uma base única: a relação simbiótico-parasitária, decorrente de um vício de ambigüidade, pelo qual fiquei fascinado por todos os tempos e lugares que passei, fruto da observação de inúmeras contradições que me deixavam com a mente turva e pensando que era normal e saudável aceitar "a vida como ela é", sem pensar nas conseqüências dos erros sobre minha pessoa, sobre outras pessoas e sobre o ambiente.
Ecologia começa é por essas bandas... Sem o dom da pergunta e do diálogo, de nascença, só agora estou desperto para a importância dessas armas nas relações sociais. Tivesse eu saído de minha doentia timidez, do longo período de medo de errar e de perguntar, para não ser ridicularizado, eu estaria hoje aprendendo a fazer melhores perguntas e a entabular maiores diálogos, sem explosões, sem conflitos, sem ambigüidade.
Finalmente, algumas notas:
Erro é tido como tabu para o comum dos mortais. Alguns erros são pecados veniais; outros, são fatais.
"Errare humanum est", mas as conseqüências são desumanas quando cometidas pelo ingênuo ou pelo infiel.
"Omittere humanum est", idem.
"O caminho da sabedoria? É simples: errar e errar e errar novamente; mas, menos, menos e menos"(Piet Hein).
"É fácil escapar à crítica: não faça nada, não diga nada, não seja nada". (Elbert Hubbard)