Aprendeu a navegar rios e mares nas asas da imaginação. Pegar carona no Sputnik de Gagarin. Alçar voos interplanetários a bordo de uma nave espacial. Romper horizontes, ultrapassar barreiras. Ser um anjo latino a dar uma volta completa em torno da Terra.
Foi.
Visitou vales e cidade que não existiam. Sentiu na alma poesia descidas do céu e viu uma Bandeira ficada na sinagoga do poeta: Paisagem espiritualizada, musgo aveludado. Tudo que lhe chegava à alma vinha no cair da tarde. Não teve desgosto algum. Cobriu-se na escuridão de sete pelese enroscou-se na barriga da mãe como se fosse ‘ o Mozart da poesia’. Sonhou que era uma estrela de Cracóvia, brilhando no espaço sideral. Tinha quarenta anos, mas não agora. Do alto, contemplou toda a terra, e sentenciou: ‘Deus existe.’E se se Gagarin não viu Deus, deve ter pelo menos visto Corina no céu.
— Ei, Ravinha! Me chama para trabalhar, disse Emília ao perceber que o maleiro do guarda-roupas fora aberto.
— Dorme, menina!
A boneca dormia numa caixa de sapatos, como a menina que Ravenala sepultara dentro de si mesma, e não sabia acordá-la.
***
Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim...
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