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Infanto_Juvenil-->CRIANÇA MORANDO NA BARRACA NO MEIO DA RUA -- 26/12/1999 - 18:37 (Marcelo Bayma) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era uma vez uma criança que morava numa barraca.
A criança fugiu de casa e foi morar no meio da rua, numa barraca.
Em casa ela era mal tratada: não tinha as coisas dela, nem o espaço dela.
Não comia o que precisava, nem o que queria, nem como queria.
Não tinha carinho de ninguém, só ordens, gritos e pancadas.
Às vezes, sem que ela soubesse por que, tinha uma surra das boas.
Ela via outras crianças, nas casas vizinhas, apanhando mais do que ela.
E tinha medo de isso acontecer com ela também, algum dia.
Não era justo, ela sabia que não merecia nada daquilo.
Ela trabalhava em casa ajudando nas tarefas e gostava disso.
Mas ninguém elogiava o que ela fazia, nem dividiam as tarefas.
Por isso tudo ela fugiu de casa.

Lá no meio da rua, morando na barraca, aquilo era só dela.
Ela morava sozinha e tinha as coisas dela.
Fazia o que queria na hora que decidisse.
Tinha fome, sim, mas quando conseguia comida, era do jeito dela.
Na barraca ela dormia e esquecia da vida.
Dormia e sonhava, ninguém vinha atrapalhar o sono dela.
Sonhava coisas maravilhosas, às vezes em cores.
Em casa nunca podia ver televisão, os outros sempre estavam vendo jornal ou novela.
Agora no seu sonho, via coisas mais bonitas e mais coloridas que na televisão.
Quando acordava e ia pra rua, via coisas menos ruins do que passam todo dia no jornal.
A rua era ruim, mas em casa era pior.

Essa criança, morando numa barraca no meio da rua, aprendeu a se defender.
Ela tinha uns dentes fortes, e novos, que tinham forma de serra.
Ah, quem mexia com ela levava uma dentada bem forte.
Dentada de arrancar pedaço, de tirar sangue, feito gente grande.
Quem enfiasse o nariz pra ver lá dentro da barraca, levava dentada no nariz.
Quem levasse a mão pra apalpar dentro da barraca, levada dentada na mão.
Quem entrasse rápido e saísse correndo com medo, levada dentada na bunda.
Quem cutucasse a criança, para acordá-la, levada dentada no dedo.
Ai !, como doía. As poucas pessoas que passavam naquela rua aprenderam.
Nada de mexer na barraca daquela criança, senão ... levada dentada.

Um dia, um homem distraído, vinha lendo jornal pela rua.
Ele estava lendo a notícia de um surfista atacada por um tubarão.
O homem distraído chutou a barraca, sem querer, e levou uma dentada na canela.
Ai ! Ui !, gritava o homem sangrando, com a calça rasgada, falando alto assim:
"Eu vinha andando, lendo a notícia do tubarão que atacou o surfista e
daquela barraca ali alguma coisa veio e me mordeu a perna."
Pronto ! Estava armada a confusão. Logo a notícia se espalhou pelo quarteirão:
um tubarão, no meio da rua, atacou e mordeu a perna de um homem.
Depois, a notícia de que o homem tinha perdido a perna se espalhou pelo bairro.

Juntou gente na rua, todos certos do perigo que a barraca continha.
Vieram repórteres, bombeiros, viaturas policiais, ambulâncias.
Os policiais fizeram um cordão de isolamento e credenciaram os jornalistas.
Quem passava pela rua todo dia teve de ir por outro caminho, tanta gente amontoada.
Os lojistas nem conseguiam ver o local do ataque do tubarão, tamanha a multidão.
Na televisão, os plantões de reportagem mostravam a rua onde ocorrera o ataque.
No meio de tudo, a barraca, quieta, sem sinal de vida.
Chegaram veterinários do zoológico para capturar o tubarão.

Tubarão ?, indagaram os veterinários. Tubarão vive no mar, e não no meio da rua.
É mesmo !, diziam as pessoas. E uma enorme interrogação varreu o ar.
Se não era um tubarão, que animal perigosíssimo seria aquele ?
Um dos veterinários, vestido com uma roupa bem acolchoada foi até lá.
Com um bastão de madeira abriu a entrada da barraca e ... Nhact !
"Mordeu ! Ele mordeu !". O bastão ficou preso dentro da barraca.
O veterinário tentando puxar, e puxou. No bastão marcas de dentes.

A televisão filmou o bastão, os fotógrafos fotografaram em "close" a mordida.
Com aquela mordida, seria possível descobrir que animal se escondia na barraca.
Mas nenhum dos veterinários conseguiu decifrar aquilo.
Não era de onça, não era de jacaré, não era de urso, não era de leão.
Mas um dentista, assistindo a TV em casa, matou a charada ...
Era uma criança ! Ele ligou pra TV e a notícia se espalhou: era uma criança.

A polícia aumentou o cordão de isolamento, para a chegada de assistentes sociais.
Veio gente de igrejas, do Juizado, pais de crianças desaparecidas, psicólogos.
Todos cercaram a barraca de presentes, comidas, roupas, brinquedos.
Falaram pra criança que não iam machucá-la e que eles queriam ajudá-la.
A criança foi olhar fora da barraca e uma chuva de "flashes" a cegou.

A criança sumiu dentro da barraca de novo, mas seu rosto foi espalhado por todo o país.
Dali a algumas horas chegaram os pais da criança, desesperados, abalados, comovidos.
A mãe chorava e apelava: "Te amo, volta pra casa"; o pai chorava e pedia desculpas.
A criança saiu de dentro da barraca, com muito medo, e foi abraçada por mãe e pai.

Dali foram pra casa, de volta, com a cobertura completa da TV.
O juizado, seus assistentes sociais e psicólogos também acompanharam a criança.
No dia seguinte a história completa estava nos jornais, com fotos coloridas.

Agora de volta pra casa, a criança tinha seu espaço e lugar pra suas coisas.
Afinal de contas, ela tinha ganho muitos presentes, muitos brinquedos.

Se alguém mexesse com ela, ela não fugia mais, não; dava, sim, uma boa dentada.
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