Fingindo que dormia, Maria Emília cobriu o rosto, tentando compreender o que pensava a amiga a respeito dos monstros apresentados às crianças como inofensivos brinquedos. E concluiu: “Não existe monstro bonzinho. Monstros se apresentam como justiceiros, fazem o bem a uma pessoa e o mal a outra em nome da justiça.” Descobriu o rosto e pediu a Ravenala que contasse uma estória que lhe fizesse dormir. — Conte carneirinhos. Conte assim: “Um carneirinho pulou a cerca; dois carneirinhos, três carneirinhos pularam a cerca...” — Já contei 99 e ainda não consegui dormir. — É porque uma desgarrou-se! Não dormirás, enquanto não encontrares a ovelha perdida. A boneca andou por prados e campinas, cidades, mares e vilarejos. Viu o paraíso perdido. E lamentou: “O mundo encantado está em processo de desconstrução. Muitas bonecas foram jogadas no lixo, porque lhes faltavam braço ou pernas; outras agonizam arrastadas por águas turbulentas da liberdade descontrolada.”