De repente me vi com um velho tecido embainhado por minha mãe há muitos anos e que, nem sei como, veio parar em meus pertences.
Não sei explicar o porquê, mas, ultimamente ando querendo por ordem em minhas coisas, fazer tudo o que não fiz e terminar o que deixei inacabado.
Não faz muito tempo terminei um trabalho manual que havia começado e largado há uns seis ou sete anos. Assim, resolvi bordar aquele tecido e, para isso tive que me socorrer das amostras guardadas do meu curso de primeiro grau.
Enquanto bordava aquele singelo pedaço de pano, me veio à mente a pessoa que me ensinara a fazê-lo; minha professora de Educação Artística da 7ª série. Nossa!!! Quanto tempo!!!
Nunca pude me esquecer daquela pessoa. Foi no ano de 1975 que eu e mais dezoito garotas passamos a nos separar dos garotos de nossa classe uma vez por semana, a fim de sermos educadas por uma mulher que hoje, somente hoje eu tenho a capacidade de considerar extraordinária.
Onde e como estaria ela agora? Será que ainda existe?
As imagens passadas não me saem da memória. Foi uma chatice quando ela, já com seus cabelos grisalhos pintados de um tom azulado, entrou imponente na sala de artes da escola estadual em que estudei. Ela era magra e alta, o que lhe dava ainda mais um ar de imponência. Chegou dizendo várias palavras e, ao longo do curso, ensinou muitas coisas como: varrer uma casa, elaborar um cardápio, cozinhar, bordar, outros tipos de trabalhos manuais e, ainda, conhecimentos de puericultura (estudo de tudo o que se refere à criança), ou seja, ensinou como cuidar de um bebê desde o seu nascimento. Coisas estas que, a nós, alunas, pareciam inúteis.
Mas, o que mais ficou gravado em minha memória foi quando disse o seguinte: "Meninas, sei que a maioria das coisas que estou ensinando a vocês parecem ser inúteis na fase de idade em que se encontram. Porém, eu sou um exemplo de que tudo o que ensino pode ser muito útil daqui há pouco tempo, pois, me casei aos dezesseis anos de idade e completamente despreparada. Não se pode descartar a possibilidade de o mesmo acontecer com qualquer uma de vocês..."
Dito e feito! Não foi aos dezesseis, mas aos dezessete anos de idade que eu fui a vítima daquelas palavras.
Claro que não me arrependo de tê-lo feito, mas confesso, se não fosse a minha professora de Artes, não sei o que seria de mim!
Me casei grávida e minha filha nasceu logo que completei dezoito anos.
Minha mãe pouco pôde me ajudar, pois, por ter me adotado já com dois anos de idade e nunca ter gerado filhos, tinha menos experiência do que eu no assunto de dar banho, cuidar do coto umbilical e trocar um bebê.
Em casa sempre comentam que eu tenho a mania de guardar coisas inúteis. É porque eles não sabem o quanto útil foram e ainda são os materiais daquele curso de artes da minha 7ª série...