O Bom e Inevitável Sofrimento
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Alguns amigos sempre questionam o sofrimento. Se Deus é bom e misericordioso, como Ele permite tanto sofrimento? No mais das vezes, um sofrimento aparentemente injusto. Porque pessoas boas e honestas sofrem?. Pare entender a razão do sofrimento, antes, é preciso lembrar o sofrimento de Cristo. Que foi morto e crucificado para nos salvar dos pecados deste mundo:
“Jesus preso, amarrado, arrastado indignamente, esbofeteado, açoitado até a sua carne se converter numa pura chaga , coroado de espinhos, esfolado e esmagado sob o peso da Cruz, cravados com pregos ao madeiro, torturado pela dor, pela sede, ..Nada o detém na sua entrega amorosa”. Mistério do amor sem fim. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. (Jo 1,1). “Tudo está consumado” (Jo 19,30), antes de clamar: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. (Lc 23,46). (*)
“O Filho de Deus sofreu e morreu na Cruz para nos salvar. O sofrimento e a morte de Cristo na Cruz foram um ato indescritível do amor de Deus. Na Cruz, este amor de Deus transformou o sofrimento em vida e redenção”. (*)
Os seres humanos raciocinam no plano terreno. E Deus pertence ao plano divino. Nós associamos a dor ao desprazer, ao sofrimento. Mas o esforço adicional, a persistência, causam dores. Mas são necessários para alcançarmos nossos objetivos. Tudo que vem fácil, fácil vai embora. “Meus pensamentos não são os vossos”. (Is 55,8). Daí a procura dos seres humanos pelos prazeres da vida. Gozar a vida. Tem sido a tônica. Como se a vida terminasse a partir do momento em que morrêssemos. Como se nós não tivéssemos um objetivo maior. Através do amor, chegar à vida eterna. Ao plano divino.
E, assim, nos perdemos em divagações. Quando falta a fé e o conhecimento, a compreensão fica inibida. Quase cega. E assim, raciocinamos no sentido de que Deus, tão poderoso, poderia acabar com todo o sofrimento humano. Para quê? Com que finalidade? E porquê faria ele tal interferência? A misericórdia de Deus está justamente em não invadir o nosso livre arbítrio. Pensar que Deus poderia acabar com nosso sofrimento, é admitir que estaríamos diante de um ditador poderoso, que tudo pode e tudo faz pela força. E nós seríamos seu escravo. Teríamos a obediência interesseira. Forçada pelo medo.
Mas Deus é misericordioso e pensa diferente. Deixou que cada um escolhesse o seu caminho. E que se arrependa, sempre que julgar oportuno. Ele espera o final de nossa jornada. Para saber que caminhos seguiremos. É mais ou menos como um bom pai que ama seu filho. Dá-lhe carinho e amor desde pequeno. Mostra-lhe o certo e o errado. E quando ele cresce, concede-lhe uma espécie de livre arbítrio. E sofre quando seu filho envereda por caminhos sinuosos. E ele nada pode fazer. Pois o filho tem a liberdade de escolha.
Mas ele, o pai, tal qual nosso Deus, continua amando o filho. E esperando, de braços abertos, que ele resolva arrepender-se e voltar para sua casa. E abraçar o velho pai. E mudar de caminho. E o pai o perdoará. Porque é misericordioso. Mas não interfere na escolha do filho. Que é crescido. Que faz as sua opções, segundo suas convicções. A seu juízo. Do mesmo modo, o Pai não interferiu no sofrimento do filho. Que se fez homem. Que vivenciou os males de nosso mundo. E sofreu como qualquer ser humano. Mas ensinou-nos o que é o verdadeiro Amor.
Para nós, católicos, a sabedoria da Cruz começa pelo batismo.
“Sobre cada um de nós pousa a pomba do Espírito Santo, não só no dia do batismo, mas habitualmente ao longo de nossa vida. Instrui-nos na fé, fortalece-nos na luta, ampara-nos nas dificuldades. Mas só continua a pousar eficazmente sobre nós se lho permitimos, fazendo o melhor uso da liberdade que Deus quis conceder-nos, porque queria que o servíssemos como filhos bem -mados, não como autônomos ou escravos. Não nos esqueçamos de que, se o batismo cancelou o pecado original, não suprimiu a inclinação para o pecado: o desafio à nossa liberdade persiste. (...) Conselhos, descobertas feitas por nós mesmos, censuras no íntimo da consciência, por mais que nos pareçam algo humano, são intervenções divinas destinadas a conduzir-nos , a fortalecer-nos e animar-nos na nossa caminhada para a plena liberdade da glória dos filhos de Deus”. (**)
(*) A Sabedoria da Cruz, de Francisco Faus e
(**)O Rosário de Nossa Senhora, de Bártolo Longo, Edit. Quadrante.