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Poesias-->Carta marcada de um baralho viciado enviada pelo... -- 02/11/1999 - 16:53 (Guilherme Felipe da Silva) |
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CARTA MARCADA DE UM BARALHO VICIADO ENVIADA PELO CORREIO NUM DIA DE GREVE
Quando me sentei para te escrever
E olhei para trás para nos ver sorrindo
Não entendi a luz que me piscava
Fiquei sem saber
Se eram os pisca-piscas da árvore de natal
Que você sempre armava na nossa infância
Ou a radiação de uma bomba
Que explodiu sobre nosso futuro
Minhas lágrimas escorreram pela fachada do prédio
Deixando uma comprida e fina mancha escura
As janelas fecharam-se
Uma após a outra
À medida que a caneta deslizava
O papel ia tomando uma coloração rubra
À medida que ia recordando
O quanto seríamos felizes
Desfrutando o amor que sentiríamos
Um nó me apertava a garganta
Como seríamos felizes!
Papai nos levaria a passear
Em seu luxuoso barco de papel
E mamãe teceria nossos planos
Enquanto brincávamos com os cartuchos dos canhões
Estacionados no quintal de casa
Mas tudo já passou,
Podes voltar.
Aguardo-te no próximo míssil teleguiado
Que pousar em nossa cidade
Mamãe mantém em sua máquina
As agulhas descartáveis
Para remendar
Balançando em sua cadeira elétrica
Nosso passado
Papai ainda cria aquelas vacas de presépio
De onde tira o leite
Que mata nossa sede de vingança
Nossa professora suicidou
Afogou-se nas ondas dos seus cabelos
Eu pesquei uns peixes
Com a linha do horizonte
E abati umas aves
Pousadas na nossa árvore genealógica
Para nosso almoço de despedida |
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