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Poesias-->visitas brasileiras -- 30/01/2005 - 01:24 (maria da graça ferraz) |
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Visitas brasileiras
mdagraça ferraz
Hoje, estive numa vila
pobre, de gente simples
Tipo de gente que não precisa
de riqueza, de problema,
de complicação, das hipocrisias
que o mundo triste inventa
e os tolos pagam caro por elas
Casinhas de tijolos à vista
Janelas que se tocam
Teto horizontal de eternite
Portas que se abrem
umas nas outras
Tudo ali ajuda-se, apóia-se
sem reserva, sem limite,
dia após dia
E, por ali, sempre sopra
uma brisa suave das copas
altas das grandes mangueiras
forradas de frutos doces
Ali, a gente é hospitaleira,
sincera, coisa da terra
que céu azul abençoa
Ali, a gente é fácil , boa demais
*******
Sou vulnerável à paz
estendidas destas manhãs
A adolescente sentada
na calçada, guardava
um patinho dentro do sutian
Um menino brincava
com uma bola de meia
A velha, com a chaleira,
ao seu lado, preparava o mate,
com as ervas sobre a cadeira
improvisada com tábuas
Grupos de comadres
bordavam panos de pratos
mexericos, receitas de sobremesas,
santinhos de N Sra Aparecida
Havia ali a bondade
farta, a pureza, a felicidade,
coisas que dinheiro não compra,
e o que é pior, rouba-nos.
Eu vi abraços, risos, beijos,
sorrisos largos, resplandescentes,
a paz verdadeira do aconchego
daqueles que não precisam lutar
porque nada possuem
ou porque tudo possuem
É esta minha dúvida.
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Eu tive vergonha
do meu carro, das minhas roupas,
dos meus sonhos consumistas,
da minha angústia, do meu peso,
das guerras inúteis
que travei contra mim mesma
Poderia reuní-los
e clamar "eu tenho cultura"
Mas de que isto me valeria?
Poderia contar-lhes histórias
de mundos e de civilizações,
não tão belas quanto àquelas,
que ouviam em frente ao fogão
Poderia lhes mostrar que tinha
DVD, ar condicionado,
TV de mil polegadas, cheque,
meu sapato forrado,
um bando de porcarias no meu tocador,
meus diplomas e títulos,
minhas obturações de porcelana...
PARA QUÊ?
Eu que não sorria
Eu que não tinha amor
Eu que não tinha caminho
Para quê de tudo isto me serviria?
Ó EU QUE NADA TINHA!
Aquela vila pobre, mísera, feliz,
insuportável a vila, para mim,
quando me traíram, o quê me fiz,
porque não me viram,
em algum ponto entre esta
gente e eu, me perdi, algo foge,
me encontro, até hoje, ali,
de onde jamais eu parti.
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