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Poesias-->Ausência -- 21/02/2005 - 20:26 (Rodolfo Araújo) |
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Tua ausência é qualquer lâmina
que arde, agride a carne, sangra
É o vazio que aumenta o peito
do ar efêmero da falta, a expandir
os tentáculos exploradores
tateadores na atmosfera inócua
do mundo sem tua poesia
Ausência tua é o pescador fundido
ao horizonte, perdido na rede
e no desejo de voltar
É a folha que erra sobre os troncos secos
pairando depois sobre um abismo cinza
absorto pela névoa matinal que fascina
letal
É a voz que retumba no coração lépido
saltita como criança aflita
sem a mãe para abraçar
É a dor em suas letras que cingem
os mares da frieza e quebram-me em mosaicos
sem rima, ritmo e perdão
É a solidão do domingo à tarde
em que o mundo inteiro faz alarde
sob a janela e o altar
É o cerrar dos meus olhos,
que derrubam sobre minhas rugas
uma lágrima fugitiva, incontida
rio lírico do dissabor
É o paletó do burocrata
que repousa na cadeira
esperando a hora exata
da sonhada sexta-feira
É o menino que aguarda
a tua volta, impaciente
sem saber que realmente
a rosa em breve irá murchar
É o pôr-do-sol que acontece
apenas
sem que acompanhe sobre teus ombros
a ninar
É a chuva que fenece
sobre o chão que padece
dos mil passos que dou
para buscar
Esta ausência dilacera
toma poder de meus dedos
retém minha esperança ao alto
atrás de uma estrela tímida
que ousará, então, um dia,
a novamente brilhar
E silencio, mais uma vez
como já se fez rotina
a tarde é tão ferina
dá-me somente pesar
É quando vais embora
e somes atrás dos passantes
assumes tua vocação errante
deixando-me atrás, a esperar
Será que voltas? Se demoras, avisa
se partires, diga
para eu me apagar
Mas se tornares teus olhos aos meus
que alegria, que peripécia,
que moleca, cheia de arte!
Dê-me todos os beijos parte em parte
para que nunca mais
escapes do meu olhar.
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