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Poesias-->A CADEIRUDA -- 31/01/2000 - 21:37 (antonio temoteo dos anjos sobrinho) |
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A CADEIRUDA
“A prima vista se averigua que lhes falece
a convicção, a coerência, a lógica e a
unidade”. Antonio Feliciano de Castilho,
O Presbitério da Montanha, p. 116.
Todo dia às treze e trinta
na terça, às quartas, na quinta,
cada dia mais graúda,
pernas longas, muito estranha,
rancorosa como a aranha
mal desperta a Cadeiruda.
Como o seu Santo é de barro
puxa o maço de cigarro,
pede u’a média de café
toca a queixar-se do mundo
no impropério pisa fundo
pedalando na maré.
Briga com toda a família,
aos empregados humilha,
ata os alhos ao bugalho.
Pinta a unha e o rosto pinta,
muito chegado na tinta,
como se pinta um espantalho.
Logo sai descontrolada
toma o carro, pega a estrada...
Vai xingando o motorista,
o pedestre, o carroceiro,
no mais chulo e mais rasteiro
linguajar de vigarista.
Já bem perto do trabalho
põe na cauda o seu chocalho
põe no peito o seu Bentinho,
pois, como sempre, atrasada,
chega com a cara amarrada
onde ergueu seu pelourinho.
E se tranca a Cadeiruda,
cr’em Deus Padre não me ajuda,
nem me ajuda a penitência,
ante a rudeza e a grossura
a falta de compostura
vista com tanta eloquência.
Na sala pega o aparelho
toma o fone, desce o relho
nos colegas, detratados.
Desata a língua possessa
julga, estrangula e processa
desafetos trucidados.
Da angústia que causa a tantos
tanta aflição, desencantos,
penso e as vezes quero crer
que os seus lábios populares,
decaídos tão vulgares
não lhe querem obedecer.
Como a aranha, a Cadeiruda
preguiçosa, tão rabuda,
nas ancas guarda um mistério,
na bunda o tino e a libido
e u’instinto a mais que é bandido
nos desvãos do seu critério.
Peçonhenta no apelido
tem nas presas escondido
um veneno peçonheiro.
Está sempre atraz da porta
sempre fingindo de morta
para comer o coveiro.
“Era uma bunda e tanto, das de tanajura”.
Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos, p. 391
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