LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->FRENTE E VERSO -- 03/03/2005 - 03:22 (wladimir olivier) |
|
|
| |
WLADIMIR OLIVIER
FRENTE E VERSO
EM FRENTE AO VERSO
ENFRENTE O VERSO
Edição da CASA DO MÉDIUM
Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP
1. Caracterização do vate
Preciso consagrar-me nestes versos,
Para que o povo saiba distinguir
O bem do mal e faça, no porvir,
Os seus também, porém, não tão perversos.
Ajuda eu peço sempre ao Wladimir,
Que as rimas não detêm seus sons imersos
Nas vibrações sutis dos universos,
Que estrelas são bem poucos a ouvir.
— Perfídia, grave plágio, já não leio
Esta seqüência pífia em desatino! —
Se tudo quanto escrevo é muito feio,
Então, busco inspirar-me em verso alheio.
Pois para demonstrar-me pequenino,
Não posso elaborar formoso hino.
2. Limite considerado
Pretendo prestigiar o médium meu
Naquilo que o mantém mais apurado,
Ou seja, aqui jamais vou pôr de lado
A idéia de alcançar meu apogeu.
O verso, então, vai ser de médio agrado,
Desprezo pela forma do espondeu,
Que segue rigoroso, como eu,
Ao dar compasso certo, cadenciado.
Inútil pretender que a rima adorne
O pensamento pleno de beleza:
É bem mais fácil que este o caldo entorne,
Perdendo-se os sabores da poesia,
Pois hei de limitar-me, junto à mesa,
A imaginar, se gênio, o que faria...
3. Diante do chamamento
Jesus chegou-se um dia junto a Pedro,
Pedindo p’ra fundar a sua igreja.
— Mas, Mestre, não existe quem me veja
Um guia ou um pastor.; algum paredro...
— Se tens um coração para servir,
Irás reconhecer a melhor forma
De introduzir no povo a minha norma,
Para alcançar progresso no porvir.
O pobre rejeitou mas foi preciso,
À vista do madeiro, recompor
A tese de que tinha algum valor.
Ele também, depois de nobre aviso,
Se viu pregado à cruz, e de cabeça,
Exemplo de humildade. Nunca esqueça.
4. Obrigado, Senhor!
Enobrece-me o trabalho,
Quando o faço alegremente.
Quando estou triste, somente
Vejo os pontos onde falho.
Enobrece-me a virtude,
Se a conquisto humildemente.
Grandeza d’alma somente,
Quando lhe peço que ajude.
Por onde vou, vai também
A doutrina de Jesus,
A ensinar-me todo o bem,
Que a dois versos se reduz:
Se nenhum filho é ninguém,
Todos temos nossa luz.
5. Despertar
— Não tenho mais sossego em minha vida
Depois que comecei a ler os versos —,
Hão de dizer aqueles mais imersos
No rude aviso deste que os convida.
É que pretendo sempre oferecer,
Como recurso extremo a quem se ilude,
Reto caminho, aquele da virtude:
Obrigação, esforço audaz, dever.
O compromisso traz certo azedume.;
E, se o sujeito aguarda mansidão,
Acaba por dizer ao mestre: — Não!
É bom, em sendo assim, que se acostume:
Não perca a noite quem não teve o dia,
Para fazer o bem que lhe cabia.
6. Pacto de amor
Invólucro carnal, eu te respeito,
Agradecendo ao Pai tua textura.
Bem sei que tal matéria é toda pura,
Enquanto guarda o espírito imperfeito.
Kardec, em seus estudos, assegura
Que existem outros corpos, p’ra proveito
De quem, pelo trabalho, for eleito
Às dimensões do amor, que o bem perdura.
Assim, a dor de agora mais me anima,
Na caminhada excelsa que empreendo.
Embora não registre em forma opima,
Também não sei mentir que estou sofrendo.
P’ra demonstrar, amigo, a tua estima,
Reza por mim também, em nobre adendo.
7. Aspiração sublime
Espírito imortal, eu te abençôo,
Agradecendo ao Pai tua existência.
Quisera ter no mundo tal consciência,
Para alcançar o amor, em alto vôo.
A mim, porém, o dom dessa excelência
Penosamente atinge algum ressôo,
Pois simples reação de fé corôo,
Nesta escansão sem luz e sem ciência.
Supero a minha dor e faço os versos,
A revelar segredos de minh’alma,
Que aspira por pairar nos universos
De paz e de harmonia, sempre em calma,
Mas vai nos sofrimentos vis, perversos,
Que o coração refaz e a morte empalma.
8. Reconhecimento afetivo
Companheiros gentis, eu agradeço
As suas deferências p’ra comigo.
São tantos que me trazem seu abrigo
Que fico eu a dever-lhes forte apreço.
Alguns são meus irmãos do tempo antigo,
Que sabem que bem pouco amor mereço.;
Mas decoraram, sim, meu endereço,
De forma que estes versos mais castigo.
Que Deus lhes dê a bênção mais preciosa,
Porquanto a sua glória é a minha luz.
Meu coração é nela que mais goza.;
É nela que esta dor mais se reduz.
Assim, eu vou compondo a doce glosa,
No abraço desse amor.; e por Jesus.
9. Um passo importante
Caríssimo inimigo, eu te compreendo
Mas não te dou razão ao despautério:
Se os corpos decompõem no cemitério,
No etéreo, as nossas almas vão vivendo.
Precisa que haja sempre refrigério
P’ras dores que nos trazem mal horrendo,
Senão esta existência acaba sendo
Processo de loucura muito sério.
Perdão, hei de pedir-te eternamente,
Por ter causado um mal assaz profundo,
Mas, se puder tornar-me mais fremente,
Nas ânsias de volver de novo ao mundo,
Eu peço a Jesus Cristo que me aumente
A compreensão do bem que hoje fecundo.
10. Na mesma pele
Querido guardião, eu te pergunto
Se tens por mim afeto ou nostalgia.;
Se, estando em meu lugar, aqui faria
O texto que compõe o meu bestunto.
Se o pensamento te devora a melodia,
Pois não elegerias este assunto,
Jamais irei estar contigo junto,
A passear nos risos da alegria.
O mesmo hei de pensar lá no futuro,
Estando a receber mensagem clara
De algum pupilo lúgubre e inseguro.
Aí, vou retirar do bolso a apara
Em que escrevi meus versos, onde juro
Que compreendi o amor que já me ampara.
11. Ao mestre, com carinho
Amado professor da classe minha,
Modestamente embora, me apresento,
P’ra demonstrar total contentamento
Com sua devoção, que me apadrinha.
Peço perdão por ser assim tão lento,
Ao aprender a rima da quadrinha,
Que só não é perversa nem mesquinha,
Porque seu nobre ensino documento.
Um dia, hei de seguir o meu destino,
Na aplicação do bem que agora aprendo.
Então, irei cantar, erguendo em hino
O sentimento puro, num crescendo
De paz, para rogar o amor divino,
Pois devo muito ao mestre meu tremendo.
12. Dando um tempo
À minha própria alma eu me permito
Compor simples soneto, que daria
Motivos de alegrar-me a nostalgia,
Perante as esperanças do infinito.
Carrego esfuziante esta poesia
De tons mais prazenteiros, com o fito
De compreender um pouco mais do rito
Com que floreio a dor, nesta harmonia.
Bem sei que, no futuro, existe paz,
Que meu amor ao Pai irá crescer.;
Mas hoje esta prebenda me compraz,
Porque me desvencilho do dever,
De forma muito honesta e muito audaz:
No verso hei de provar meu bem-querer.
13. Contenção imprescindível
Impede-me a modéstia de dizer
Que tenho bons amigos cá no etéreo:
O verso deve ser severo e sério,
Pois cumpre junto aos homens seu dever.
Do mesmo modo, alguém sem refrigério
Não deve demonstrar só bem-querer,
Que a vida se resume em mais sofrer,
Depois que visitou o cemitério.
— Muito equilíbrio, irmão! — me pede o mestre,
Para mostrar ao povo o meu progresso.
Quando se pensa sempre em tom terrestre,
Não sabe a gente analisar a dor:
Põe-se a cismar que neste verso eu meço
Cada emoção, em rima superior.
14. Estabelecendo contato
Caríssimo leitor, eu te pergunto
Se esperas deste autor uma obra-prima.;
Se tens respeito e fé na minha rima.;
Se queres encontrar-te co’o defunto.
Por tudo quanto fiz e pus acima
Das normas dessa esfera, em seu conjunto,
Ainda se perturba o teu bestunto
E corres a rezar pela vindima?
Ou vens agradecer a tanta graça,
Por ter, na vida, o bem mais precioso:
Inteligência e paz, amor sem jaça,
Cadinho das virtudes superiores,
Para sorver de um gole, em nobre gozo,
Ubérrima homenagem aos mentores?!
15. Contato mantido
Estimo o meu trabalho socorrista
E dou-me por inteiro ao meu irmão.
Não sei se os bons leitores prezarão
Ver na trova o valor de tal conquista.
Se não disser, porém, que o coração
Me bate ao peito alegre, na revista,
Não poderei pedir que a gente invista
Nas obras beneméritas da ação.
O mestre me estimula a que refaça
Os textos que apresento toda vez,
Para tornar os sons quase sem jaça,
Porquanto a rima torta é má, soez:
Impede que o leitor levante a taça,
Saudando quem pregou mas nunca fez.
16. Direto ao ponto
Levado pelo vento, o meu poema
Há de espraiar-se pelo mundo inteiro.
Por isso é que ao leitor sempre requeiro
Que o leia com amor.; e nunca tema.
Nem sempre quem me lê será primeiro
Na lista dos que têm a luz suprema,
Mas vai adquirir firmeza o tema,
No coração de quem quer ser obreiro.
Os versos se compõem com tal desejo
De comprovar o bem da caridade
Que, às vezes, os problemas já não vejo
E escrevo sem saber se persuade
A rima o caro irmão mais malfazejo,
Que alguns torcem por ver que a trova enfade.
17. Visão do paraíso
Espero em Deus que o povo um dia escute
A voz do Cristo, em cânticos de amor,
Que assim é que terá de seu Senhor
Os dons dessas virtudes p’ra desfrute.
São dias mui ditosos, de esplendor.;
São tempos de prazer, sem que se lute
Por melhorar a vida, onde o quitute
É requintado gozo de sabor.
Por ora, vamos pondo o rude relho
Nesta carcassa feia em que ocultamos
O mal do mais terrível destrambelho.
Até que castiguemos os defeitos,
Os frutos vão estar nos altos ramos,
Pois somos escolhidos, não eleitos.
18. Presente de grego
Sugiro que se dê mais atenção
Aos versos que componho nesta casa:
Se quem não lê também jamais atrasa,
Ao ler, vai apressar a evolução.
Terá tanta importância a cova rasa
Em que sempre transformo esta canção?
Não falo já por mim, mas pelo irmão
Que deve recolher a melhor vaza.
Este soneto vem para aumentar
As rígidas pressões, para que estude
Aquele que não quer sair do lar,
Julgando que fará, nessa quietude,
O máximo do amor, algo exemplar,
Como no verso prego a tal virtude.
19. A obrigação de compor
Não posso confirmar minhas virtudes,
Embora os versos sejam do outro mundo.
Um sentimento alegre e mui profundo
Há de fazer, porém, com que tu mudes.
Estendo o meu prazer e a terra inundo
De risos e folganças, atitudes
Que gerarão lições, para que estudes,
Tornando o bem da vida mais fecundo.
Estranha-me saber que tenho medo
De vir com ríspidos sermões ao povo,
Pensando que, talvez, seja mui cedo
Para um puxão de orelhas de doer.;
Mas, se não se emendar enquanto novo,
Não vai fazer em casa o bom dever.
20. Disfarçando a pobreza
Duvido que apresente o caro amigo
A solução precisa para o orgulho.
Bem sei que, quando afundo, não mergulho
Nas emoções que ainda não lobrigo.
É grande a quantidade desse entulho
Que afeta a quase todos que comigo
Procuram desfazer-se do perigo.;
E para tal fazemos só barulho.
Eis como me atrevi a vir dizer
Que sou muito imperfeito p’ra poesia,
Que exige comoção de bem-querer,
Que sei citar mas nunca poderia
Elaborar em versos, que o dever
Me obriga a realizar sem todavia.
21. Disposição antiga
Estou choramingando cá no etéreo,
Querendo executar uma obra-prima,
Porém, não me acostumo com a rima,
Dês que cheguei ao fundo do mistério.
O texto que produzo não se arrima,
A fim de te propor um tema sério:
É que deixei a luz no cemitério
E agora este trabalho desanima.
Que luz deixei um dia para trás?
O brilho das fagulhas do talento
Que me perdeu em sonhos de rapaz.;
Vaidade e muito orgulho, sentimento
De estar acima sempre de quem traz
Muita humildade, enquanto eu me atormento...
22. Disposição atual
É bela esta poesia que lhes trago,
Depois que terminei de redigir.
Não sei qual seu destino no porvir,
Que os dons inda não tenho dalgum mago.
Carece deste apoio o Wladimir,
Embora o tema seja muito vago:
É que pretendo dar-lhes meu afago,
Nesta expressão mui fácil de fluir.
Se o sentimento estranham os leitores
Que esperam muito brilho e muita luz,
Não posso afiançar que estou de amores,
Que o peso das palavras me reduz
A simples e concretos destemores,
Sob os ensinos doces de Jesus.
23. Pensando no futuro
Jesus há de me abrir este caminho,
Por entre tais defeitos de visão:
Se tenho muito amor no coração,
Não posso vir dizer que me definho.
Também não vou mostrar tola ilusão,
Querendo despertar o teu carinho,
Se nestes pobres versos adivinho
Que trago muita dor ao meu irmão.
Preciso que me agüentes muito mais,
Até que ganhe força para o verso,
Que as trovas que componha sejam tais
Que um dia não dirás que sou perverso:
Jesus há de valer-te e eu sei que vais
Abrir doce sorriso, em paz imerso.
24. Passado sem saudade
Não tenho muita pressa de chegar,
Que tudo quanto faço, cá no etéreo,
Precisa que me ponha muito sério,
Pois devo oferecer como exemplar.
Um dia, eu lamentei, no cemitério,
A vida em que deixei um doce lar:
Estava muito certo do lugar.;
Errava por não ver o grão mistério.
Depois de muito errar de ceca em meca,
De haver batido a testa em muita luta,
Me vi bem ajustado nesta beca,
Que ostento agora, muito mais batuta...
Mas o entusiasmo o caro mestre breca,
Que o bem é com amor que se executa.
25. Conversa de amigos
— Renega os vícios, Coração ingrato:
Faze por mim um pouco de bondade!
Se tens a paz, o amor tu’alma invade.;
Serás feliz, enquanto o mal resgato.
Eis que a Consciência insiste em que se há de
Alterar os ditames do contrato,
Que a vida assegurou, por ser um fato,
O lucro de quem toma ou persuade.
Não venho p’ra alcançar a perfeição.
Também não quero ouvir p’ra sempre um não,
Que o sofrimento atinge a todos nós.
Fazei, leitor, que valha sempre a pena
O bom momento desta trova amena
Em que Jesus nos dá o dom da voz.
26. Limitação do vate
Carrego dentro ao peito muito amor,
Porém, não tenho meios de expressá-lo.
Um dia, recebi doce regalo
E pus-me a responder neste compor.
Pensei bastante e deu-se em mim o estalo
De demonstrar que existe algum valor
Até num ser deveras inferior,
Quando se adorna com fulgente halo.
Pedi que Jesus Cristo me inspirasse,
Buscando, no evangelho, alguma luz,
Que o verso não contém um desenlace,
Mas brilha como brilha a nobre cruz,
Que o sofrimento batizou em face
Da salvação, a que o poema induz.
27. Os maiores mandamentos
Devolvo para o povo os benefícios
Que tenho recebido neste mundo,
Se cumpro, com amor muito fecundo,
As leis e obrigações dos exercícios.
Os tópicos do bem que aqui difundo
São simples elementos, sem os vícios
Do que na Terra vi como artifícios,
Quando por lá vaguei meditabundo.
Não posso incinerar nos fornos d’alma
Os males que causei, estando vivo.
Mas tudo há de acabar, porque se acalma
A dor que hoje me oprime o coração.
Por isso é que, nos versos, incentivo
As preces com que ao Pai os dons irão.
28. Um modo de auxiliar
Felicidade, amigo, eu te asseguro,
Se tudo o que fizeres for bem feito.
P’ra tanto me dirás somente: — Aceito!
O mais eu te acrescento como juro.
Então, perguntarás se estás eleito,
Sentindo-te, na vida, um pouco impuro.
Responderei, livrando-me do apuro,
Que o sentimento é causa do defeito.
— Mas que vantagem levo na poesia,
Se tudo a mim tão-só cabe fazer?
Aposto que o amigo não daria
Um único empurrão no meu dever...
Ao menos, eu te alerto na alegria
De demonstrar que tens meu bem-querer!
29. Poesia cerebrina
Esforço-me, contudo, a minha rima
Não chega a comover a todo o mundo.
Se tento atenuar, então contundo
O coração fraterno que me arrima.
Não posso me arriscar indo tão fundo
Na descrição das dores, pois me anima
A forma dos compassos, como acima
A quadra prova um trecho mais fecundo.
Assim, tudo na vida tem seu mérito:
Se existe quem permita um raciocínio
Que exclua todo débito pretérito,
Nem venha a permitir mau vaticínio,
É justo que se faça rude inquérito,
Para aumentar do amor o seu domínio.
30. Busca de compreensão
— Duvido que haja tempo p’ra poesia,
Que as lutas vão somar no meu ativo.
Esse que vem falar em incentivo
Talvez esteja agora numa fria!...
É claro que o leitor que não motivo
Irá desconfiar que não teria
Aquele que demonstra esta alegria
Razão, para um compor exortativo.
Mas posso assegurar que venho em paz,
Sem apontar os erros mais comuns,
Que o bem que se aproveita é o que se faz,
Com muito amor e fé no coração.
Se, acaso, a trova comover alguns,
Os gajos desta turma exultarão.
31. Pelos que sofrem
Senhor, que sois o nosso arrimo e paz,
Fazei-nos mais felizes, por instantes:
Quiséramos saber como foi antes.;
Tememos que a maldade venha atrás.
Lembrai-nos que é de amor que o bem se faz,
Pois, no futuro, existem importantes
Conquistas, que oferecem aos errantes
Progresso e luz e o dom que vos compraz.
A prece que noss’alma eleva em luz
Vos pede que aceiteis a nossa fé,
Conforme o ensino puro de Jesus.
Olhai por nosso irmão que tanto pena,
Mas sem saber que a luta mais não é
Do que o rude resgate que serena.
32. Por respeito aos leitores
Não quero ver sofrer o meu amigo,
Nas trilhas da poesia que lhe trago:
Se é doce agasalhar do amor afago,
É triste compartir a dor comigo.
Quisera que meu dom não fosse vago,
Quimera a demonstrar que não me obrigo
Às rudes intempéries, grão perigo,
De vir dizer verdades, aziago.
Mas devo demonstrar estar seguro
De tudo quanto escrevo nestas linhas,
Não precisando aqui dizer eu juro,
Porque tu me compreendes e me alinhas
Entre os que sofrem mais pelo futuro,
Pois resgatar o mal são dores minhas.
33. A vida monástica
Depois de muito orar pelos irmãos,
O monge parte em busca de sossego:
Requer do Pai lhe dê soberbo emprego
E esfrega mui contente as rudes mãos.
— É isso o que se tem após a vida
Passada no silêncio dos conventos?
O barco é tão pequeno para os ventos
Que logo o nosso frade se elucida.
Aí, fica infeliz e muito chora,
Pois sabe que essa vida se perdeu,
E reza com amor: — Nossa Senhora,
Meu coração tristonho ainda é teu.
O que posso fazer, se peno agora?
Responde a boa Mãe: — Quem não sofreu?
34. Contraponto
Descrevo o sentimento que me traz
Alegre, pelo efeito da poesia.
Melhor agora sei que não faria.;
Mas o soneto dá-me gozo e paz.
Um canto de louvor levantaria,
Agradecendo ao Pai por ser capaz
De compreender o mal, o que me faz
Aceitar com amor minha agonia.
Mas temo que a virtude seja pouca,
Que a voz com que declamo esteja rouca,
Que meu sofrer perdure em cada rima.
O resultado é bom e mais fomenta
O meu puro desejo que a tormenta
Não leve para longe a tua estima.
35. Autocrítica
Trabalho o dia inteiro e, quando chego
Para dispor os versos nestas linhas,
Demando ao meu amigo: — Vê se aninhas,
No doce coração, o meu chamego.
Não dou, porém, na trova as provas minhas
De que te estou trazendo o meu apego:
Parecem as palavras rude emprego
Dos dons que nestas rimas entrelinhas.
Assim, o meu poema se conduz
Apenas nestas ânsias de ser bom,
Aliviando a carga dessa cruz
Que tens de carregar, no mesmo tom.
Aí, eu rogo as bênçãos de Jesus,
Amenizando os dobres deste som.
36. Minha alma não tem preço
Preciso melhorar meu desempenho
Nas áreas literárias, com urgência,
Senão vão me acusar de negligência,
Fechando para mim seu rude cenho.
Não sei se demonstrei inteligência
Na escolha deste termo tão canhenho,
Mas não irei fugir, porque não tenho
Receio de rogar gentil clemência.
Aí, corre um frisson na minha espinha,
Pois temo estar sofrendo sem motivo,
Porquanto o meu leitor não se amesquinha
Apenas por gostar do tema altivo
Em que troco o poder da lide minha
Pelo interesse em ver se alguém cativo.
37. Nas quatro estações
Estranha o caro irmão que o verso meu
Eleja novamente a triste rima
E peça que mantenha a sua estima,
Ainda que tão pobre seja eu?...
Mas sempre hei de pedir, pois sei que anima
O coração ferido que perdeu
Um tanto da esperança, se, sandeu,
Se pôs a imaginar uma obra-prima.
No etéreo, a formosura que se espera
Não nasce de risonha primavera
Mas vem do amor que brota e frutifica.
No outono e no verão tudo se aquece.;
No inverno recitamos nossa prece
Com muito mais calor, que a trova é rica.
38. Repensando a poesia
Não tenho pretensão de ser poeta
Nos moldes destes vates cá da Terra.
No etéreo é que o sujeito muito erra,
Querendo a sua trova a mais completa.
Ao pensamento o gajo mais se aferra,
Expondo o sentimento onde ele afeta
Que existe, no seu verso, obra de esteta,
Pois declarou ao feio rude guerra.
Mas tudo quanto escrevo traz problemas,
Na hora da leitura quieta em casa,
Pois meu leitor deseja que outros temas
Demonstrem que este arcanjo já tem asa,
Para voar seguro, nas supremas,
Etéreas formas, onde mais se abrasa.
39. Primeiro de abril!
Cansei-me de lutar contra o meu ego
E fiz promessa séria de melhora,
Sabendo que, no etéreo, o que vigora
É não guiar ninguém, em sendo cego...
Roguei a Deus auxílio, nessa hora,
Mas não fiz muita coisa, pois não nego
Que transformei paciência em fundo pego
E mergulhar não quis, que o dom penhora...
Agora faço versos sem valor,
Mui desejoso que o leitor me aqueça
Com suas preces de profundo amor,
Pois não me sai jamais desta cabeça
Que tudo quanto venho aqui compor
Um pouco há de servir... de forma avessa...
40. Versificação sem talento
Cheguei bem velho mas não vim feliz,
Porque sabia que não tinha bens:
Fiquei, no mundo, a vigiar vinténs,
Enquanto amor não dei, porque não quis.
É como o verso que componho agora,
A vigiar os metros sem poesia:
Se mais me dedicasse aqui faria
Belo soneto à paz, que já demora.
Se me contento sempre com migalhas,
Minh’alma aspira por melhores rimas.;
O coração desperta e diz: — Encalhas
Ao lamentar-te.; e mais te desanimas.
Por que é que não te ajeitas e trabalhas
Para compor estâncias mais opimas?...
41. Em paz?...
Pretendo ser mui breve na mensagem,
Mas são catorze versos, nada menos.
Se tal medida é certa, são serenos
Os sentimentos todos na triagem.
De que me adianta dar-lhes testemunho
Dos males que causei, estando vivo?...
A trova já sopeso e o mais não crivo
De rudes emoções, pois me acabrunho...
Feliz me sinto dentro do terceto:
É como toca a banda no coreto
A festejar a vida com amor.
Mas, no final, retorna a tal tristeza,
Pois sei que vai ficar vazia a mesa:
O derradeiro verso vou compor.
42. De bem intencionados...
Conheço muito bem o meu caminho
E traço estes meus versos com amor:
Não quero, simplesmente, vir compor,
Mas devo demonstrar que não definho.
Na lista destas rimas sem valor,
Tudo já disse, um dia, em desalinho.;
Agora, nada mais do que carinho
Pretendo vir trazer ao meu leitor.
É justo o sentimento que me anima
E leva o coração a bater forte.;
Mas tudo quanto faço, em nobre estima,
A mente me propõe tão largo corte,
Pois como pode um ser que mal se arrima
Expor sublime luz que ao bem exorte?!...
43. Para a frente
“Renego o meu passado porque os feitos
Não honram a doutrina que hoje sigo.”
Assim deve dizer o meu amigo
Que quer estar comigo entre os eleitos.
Se evoluir é o prisma mais antigo
De quantos a memória tem perfeitos,
Tudo o que se fizer merece preitos,
Pois deve ser melhor o seu abrigo.
Assim imaginava a vida etérea,
Sem as lembranças fúteis do passado,
Pois se transforma o mal nessa miséria
Com que pena minh’alma e mais me enfado,
Mas penso no futuro sem matéria
E vejo os meus amores ao meu lado.
44. Pensando além
Preciso acostumar-me co’a poesia
E não com simples versos, que componho
Mais preocupado em demonstrar que sonho
Poder ser publicado e lido, um dia.
Assim, devo evitar dispor medonho
O texto bem rimado que daria
P’ra suspeitar que alguém melhor faria,
Se compusesse, em prosa, algo bisonho.
A vida, meu amigo, eu levo adiante.;
Enrosco-me somente no soneto,
Mas sei que o seu perdão meu bem garante,
Porque, quando exercito e digo preto,
Em sendo branca a luz nobilitante,
Você vai corrigir-me, em bom dueto...
45. Momento de relax
Podia aqui deixar a minha marca,
Dizendo simplesmente que sofri.;
Mas tudo quanto tenho dou a ti,
Num verso, que a poesia tudo abarca.
Mas não prometo o bem pela beleza,
Que a forma literária não produz,
Sem refletir na mente a doce luz
Que os seres superiores põem na mesa.
Por isso, os versos meus são pobrezinhos
E os temas que hoje assunto tão mesquinhos
Que não merecem ter tua atenção.
Os sons se constituem instrumentos,
Mas sempre são levados pelos ventos:
Espero que me ouças... p’ro perdão...
46. Espantando a zebra
Estranho cada verso que produzo
E digo francamente o quanto sinto
Não possuir mais verve, pois extinto
Se encontra o coração, por muito abuso.
Mas trago um pensamento mui distinto,
Impróprio com certeza e bem confuso,
Pois quero descair em parafuso
No meio do teu cérebro.; e não minto...
Aí, tu vais dizer-me que estou certo,
Que é da loucura que me encontro perto
E não da formosura ou do equilíbrio.
Mas ergo-me da dor para sorrir,
Sabendo que terei feliz porvir,
Que a rima não me falta em tal ludíbrio...
47. Não tenho como parar
Perdão, Senhor, por ter desperdiçado
O tempo que me destes para os versos.
Devia rejeitar os mais perversos
E conservar alguns do vosso agrado.
E quais serão os dons incontroversos
Em que posso afirmar que desenfado
O meu pobre leitor, inda ao meu lado,
Porque quer ver os males já dispersos?
Existem as palavras com magia
Que nesta rima encantam toda a gente,
Mas é preciso pôr bem mais poesia
No sentimento prenhe que se sente
De amor, de luz, de bens sem nostalgia,
Que é como tudo encaixo, finalmente.
48. Criando coragem
Palavras que iluminam o poema,
Oferecei a mim o vosso brilho.;
Fazei com que eu mantenha no estribilho
A fórmula da luz que dor não tema!
A Deus ouviu Jesus dizer: “Meu filho!”.;
E quanto a mim, ignoto neste esquema,
Que deverei fazer que a rima prema
A suplicar perdão com que me humilho?
O último dos últimos, suplico,
Sem enfeitar o verso e sem candura,
Sabendo que serei um dia rico.;
Mas hoje eu mais me perco na procura:
— Senhor, olhai por mim também, pois fico
A desejar ser filho d’alma pura.
49. Minhocas na cabeça
Disponho do meu tempo e me preparo
Para compor um texto refulgente.;
No entanto, quanto escrevo à minha gente
Se vê que desde logo é pouco raro.
Talvez eu não consiga que me agüente
O bom leitor, que julga o verso claro,
Porque deseja ver como disparo
Meu último festim, inconseqüente.
O tal leitor sou eu, que mui me espanto
De estar a terminar minh’obra-prima,
Sem nada p’ra dizer neste meu canto,
Tristonho por romper, em pobre rima,
A lúcida jornada em campo-santo,
A cruz alçada ao vento, um pouco acima.
50. Ao leitor desprevenido
A cruz que hoje carrego está mais leve,
Depois de tantos versos cativantes.
Se não gostares deles, não te plantes
A criticar meu jeito de almocreve.
Mas faze bem melhor: os semelhantes
Se atraem nesta medida em que se deve
Compor, de modo alegre, um texto breve,
Mas sempre com vigor maior que antes.
Depois, respeita a paz em que te educas,
No seio de teu lar, junto aos parentes,
Pois lês João, Mateus, Marcos e Lucas,
Para saber que Deus mantém presentes,
No Reino da Verdade, as arapucas,
A ver se a minha crítica consentes.
51. Qualquer dia eu chego lá
Resolvo os meus problemas no improviso
E trago muitos temas sem complexo,
Mantendo esta esperança de ver nexo,
Conforme o sentimento que analiso.
Então, abro minh’alma em doce amplexo
P’ra receber do irmão seu nobre aviso,
Querendo pôr na tela o paraíso,
Sabendo que é do Umbral que o verso anexo.
Se falo de Jesus em harmonia,
Trazendo o seu ensino para a trova,
Não posso bendizer, nem conviria,
Porque Kardec explica a Boa Nova
De modo superior, sem todavia,
Que é como eu vou compor na escura cova...
52. Versos menores
Procuro não cansar o meu leitor,
Mas sei quanto estas trovas são terríveis.
Também quando me exprimo em baixos níveis,
Mais perco o bom impulso de compor.
Então, já me desculpo, pois falíveis
Sempre haverão de ser quanto ao valor:
Se tudo aqui se espera superior,
O vate quer amigos compreensíveis...
Na hora em que rascunho a minha rima,
Escolho a que melhor possa explicar
O sentimento oculto que me anima.;
Depois, peço licença, que o seu lar
É de respeito excelso e pura estima.;
E adentro temeroso, devagar...
53. Criando asas
Senhor, perdão vos peço se o meu verso
Não traz mais desafogo p’ra minh’alma.
Bem sei que, lá no fundo, eu quero a palma
E mais lamento ser, assim, perverso.
Depois deste ditado, já se acalma
O coração, que bate em dor imerso.;
No entanto, vai meu povo tão disperso
Que a rima se contrai e só me ensalma.
Aí, lanço nos ares tais mementos,
Que vejo a repetir-se algumas vezes
Nos cérebros bondosos e me encanto,
Sabendo que refletem sentimentos
Nem sempre tão mesquinhos, tão soezes,
Porque componho a trova com meu pranto.
54. Tangendo a realidade
— Um texto, um só poema é suficiente
P’ra comprovar que venho em boa paz,
Mas tudo o que componho nunca faz
Com que o leitor me estime e mais: me agüente.
Isso eu dizia sempre, um tempo atrás,
Bem antes de saber que muita gente
Vem lendo a produção e já se sente
Simpática e feliz, pois se compraz.
Aos poucos, vão chegando os belos textos,
Trazidos por mão hábil, generosa,
Enquanto os que são pobres vão p’ros cestos
Em que são esquecidos, já que a glosa
Precisa, para as almas, dos pretextos,
Pois quanto mais perfeito mais se goza.
55. No natalício do amigo
Aceite, meu amigo, este versinho,
Que trago com amor para você.
Bem sei que é com receio que me lê,
Mas saiba que lhe dou o meu carinho.
Às vezes me desvio do caminho,
Para colher primores, como vê.
Se alguém me perguntar também: — Por quê? —,
Terei de confirmar que passarinho...
Então, sua alegria me conforta,
No instante em que agradece esta lembrança.;
Do coração descerra a nobre porta,
Pois através da qual é que se alcança
A paz cheia de luz que nos transporta
Aos cimos da virtude da esperança.
56. Seguro de mim
Espero ser feliz daqui p’ra frente,
No embalo da poesia que me cabe,
Porquanto sei o quanto a gente sabe,
Nem mais nem menos: nada diferente.
Assim, caso este verso meu desabe
E caia sobre mim funestamente,
Eu oro ao bom Jesus que me sustente
E que de tanto amor jamais me gabe.
Espero ter escrito com sucesso,
A ponto de agradar o meu leitor,
Causando-lhe a impressão de algum progresso,
Que o gajo que aqui vem é superior:
Então fico feliz e mais eu peço
Apoio e luz e força p’ra compor.
57. Cumprindo a lei
Não tenho muito tempo pela frente,
Que o meu roteiro está p’ra terminar.;
Mas antes vou compor algo exemplar,
Um texto que me torne mais contente.
P’ra tanto vou pedir que este teu lar
Receba de Jesus, perenemente,
As bênçãos dum amor que te sustente
E faça este teu dom mais cintilar.
Também eu vou orar a melhor prece,
Rogando que o bom Pai nos abençoe,
Sabendo que meu verso não merece
Que alguém o leia e, menos, que o perdoe.;
No fim, alcançarei quem colhe a messe
Da rima que meu povo quer que soe.
58. Renúncia é tudo
Progresso permanente eu recomendo
A quem vai estudar Espiritismo:
Às vezes, já se está perto do abismo,
Perigo de cair em ermo horrendo.
“Existem companheiros com quem cismo”,
Há de dizer alguém, “e não me rendo
A suas fantasias, pois pretendo
Agir sem ressonância de egoísmo.”
Avante, caro irmão, que a luta é santa,
Pois melhorar-se a alma se requer.;
Mas da matéria a distração é tanta
Que logo se depara um mal qualquer
Que fere a vida alheia e alguém se encanta
Com nobre sacrifício, onde estiver.
59. Sempre sobra uma certeza
As dúvidas também têm seu papel
Na formação do espírita, que estuda,
Mas, quando a tese é simples e miúda,
A tal lição se aprende sem babel.
Se a análise resulta mais graúda,
Em tema que requer um bacharel,
Sugiro que na sopa caia o mel,
A ver se o seu agir de fato muda.
Se nada está perfeito cá no mundo,
O que se faz exige todo o amor,
Porque, se alguém disser: “Hoje me afundo!”,
É como este soneto que, sem dor,
Demonstra como é fácil, num segundo,
Perder a vida o prisma superior.
60. Sempre sobra algo no fundo do copo
Freqüentemente, peço ao meu amigo
Que escute os meus dizeres, numa boa:
Não gostaria de falar à toa,
Pois tal me saberia a vil castigo.
No entanto, quando escrevo, a alma voa
E, quanto mais distante, menos ligo,
Embora nisso exista o grão perigo
De não rimar ao gosto da pessoa.
Assim, tudo o que faço cá no etéreo
Parece desandar quando transmito,
Passagem que ressumbra a cemitério
E põe o grupo meu bem mais aflito,
Que o bom desta poesia é o refrigério
Da voz que vem tranqüila do infinito.
61. Nada é fácil
Não tenha preconceitos, companheiro,
E aceite este meu verso tão capenga.
Se o julga interminável lengalenga,
Credite um certo dom a mim primeiro.
Ninguém que faça trovas não arenga,
Por isso esta premissa eu lhe requeiro:
Me dê certa esperança que, altaneiro,
Um dia eu chego lá menos molenga.
As rimas me divertem nesta paz
Em que o soneto prima, sendo alegre,
Pois chega de sofrer que o mal me traz
As duras emoções, sem que me integre
Nas turmas mais felizes, incapaz
De decorar as leis, que ao bem me regre.
62. Não há festa de um só
“Espere um pouco mais, meu caro amigo,
Para volver ao mundo em que hoje estou:
Assista deliciado ao grande show.;
Partilhe o doce gozo aqui comigo.
A vida é de esplendor e de harmonia,
Se tudo o que fazemos nos apraz:
Tenhamos muita fé em que haja paz,
Nas rimas que compõem cada poesia.”
Assim pensava eu, estando só,
Bem longe do bulício e do queixume
Da multidão faminta a erguer o pó
Da estrada que palmilha em sofrimento:
Agora brilha o sol e acende o lume
Do amor que do infinito espalha o vento.
63. Há tantos como eu...
Desejo assegurar ao bom leitor
Que estou tentando pôr nesta poesia
Alguma coisa bela que faria
Vibrar o meu irmão com muito amor.
Mas tudo que imagino, todavia,
Esbarra nesta forma superior,
Pois co’as palavras tenho de compor
E o sentimento é fonte que irradia.
Perdoe-me, portanto, o ser canhestro
Nesta expressão falaz que cedo morre.;
Mas o soneto é nota que hoje orquestro,
Batuque sem sentido, mal de um porre
Que um dia me tornou vulgar maestro,
Sambista sem pendor que alguém socorre.
64. Tomando pé na situação
Existe muita luz nesta poesia
Que escreve a minha turma alegremente:
Queremos ver sorrir a toda a gente,
Senão bem pouco vate aqui viria.
Mas sempre que falamos deste assunto,
A repeti-lo em versos sem valor,
Tememos seja azedo o recompor,
Lembrando que este autor é só defunto.
Aí, vão perguntar que faz o povo
Que para cá passou sem expressão:
— Não tem de regressar p’ra cá de novo,
Sem esbanjar seu tempo na escansão?
Mas esta rima atroz requer denodo,
Pois temos de orientar o nosso irmão.
65. Versos menores
Nós vamos despejando tantas dores
Nos versos que compomos sem mistério,
Sabendo que a poesia é caso sério,
Se dela redundarem estertores.
Na busca da causar só refrigério,
Existem os que falam mais de amores:
São graves, são severos, superiores,
Bem longe de lembrar do cemitério.
Às vezes, se apresenta um gajo triste
Que põe para a consciência um dedo em riste,
Na acusação atroz de crime horrendo.
Porém, fica a pensar em cada rima,
Temendo ali perder a nobre estima
De quem, com muita fé, me estava lendo.
66. Compre este conselho
Não queira ser perfeito nesta vida
Mas faça tudo sempre de melhor:
Carregue de Jesus as leis de cor.;
E de Kardec aceite o bem da lida.
Trabalhe com denodo e muito amor,
Fazendo mais feliz quem o convida
A partilhar das dores, pois duvida
Do resultado quem não quer compor.
Um dia há de chegar com sua conta,
Somando e dividindo o que se fez.
Sabendo que a verdade ali se aponta,
É bom tomar cuidados de freguês.
Noss’alma quase sempre volta tonta:
Façamo-la mais séria desta vez.
67. Para resolver em silêncio
Existe uma palavra aí na Terra
Que é dita muito mais do que no etéreo.
Talvez esse problema seja sério.;
Talvez a nossa rima é que se emperra.
No entanto, quando alguém, no cemitério,
Acorda, libertando-se da terra,
Se logo o pensamento se descerra,
Recebe a tal carícia em refrigério.
Precisa ser esperto p’ra saber
Qual é tal termo que noss’alma invade,
Catadupa de luz e bem-querer?
Havendo amor e paz pensar quem há-de
Que possam ser palavras de dever?
É simples a resposta: é só saudade!...
68. Mais ou menos oração
Ajuda-me, Jesus, nesta jornada,
Fazendo-me feliz por te servir:
Não faças que me prenhe do porvir.;
Enxuga o pranto meu, que o tempo é nada.
Que valha para mim o devenir
Que a luta faz prever, o que me agrada:
Se devo levantar mais pó na estrada,
Que seja sempre alegre e a bom sorrir.
Faze de meu ardor a melhor forma
De dar aos companheiros lenitivo,
Seguindo de Kardec a excelsa norma.;
E põe meu compromisso na verdade
Que explica o sofrimento de quem, vivo,
Se apraz, pois para o amor se persuade.
69. Apesar de tudo
Eu quero que me entendam quando digo
Que estou sempre a serviço da virtude:
É certo que também o vate mude,
Porquanto vive à beira do perigo.
Quem quer vir reclamar outra atitude
Do povo que nos lê e pede abrigo
Não pode se esquecer que aqui comigo
Irá pedir em vão, que o mal ilude.
“Serenamente, eu chego já ao fim,
Sem nada ter notado de valor!” —
Há de dizer quem julga ser ruim
O verso que acabamos de compor.;
Um abraço, porém, concede a mim,
Que a rima se constrói com muito amor.
70. Porque não sabem o que fazem
Voltava da refrega onde, apurado,
Me vi a combater os próprios vícios:
Preciso agradecer os benefícios
Da gente que me tem muito ajudado.
As rimas mais parecem artifícios
Para mostrar o quanto sou amado.;
Mas a verdade fica do meu lado,
Se ao menos desse amor lhes dou indícios.
Não há quem mais feliz seja no etéreo,
Quando recebe apoio e compreensão,
Porque passa a fazer algo mais sério,
Rogando, com Jesus, ao Pai, perdão:
Não tanto para os outros, que o mistério
Está na caridade desse não.
71. Não menos sério
Requeiro que o leitor esteja atento
Aos versos mais sutis que lhe remeto:
Com fórmula econômica, o soneto
Exige seja curto este tormento.
Por isso, muito embora esteja preto
O ar que respiramos, mal agüento
A hora de voltar ao aposento,
Para ditar a rima do meu gueto.
Caso analise a trova com rigor,
Deve este amigo estar com apetite,
Porque vou reunir, para compor,
Idéias e emoções com que me agite:
Quem trouxe o coração cheio de amor
Pode embeber de luz este sulfite.
72. Num passe de mágica
“Notável a poesia que componho!” —
Ao atingir-lhe o fim, é o que mais digo.;
Mas brigo, quase sempre, cá comigo,
Que o som que repercute é mui medonho.
É claro que hoje enfrento o grão perigo
De provocar no amigo apenas sonho
E não o bom desejo dum risonho
Exame do real, ao modo antigo.
É com Jesus que conto no desfecho,
Que a luz deste soneto já se acende,
Ao colocar amor em seu entrecho:
A caridade do perdão me rende
Um verso mais formoso, pois remexo
No velho e bom baú deste duende.
73. Ensaio de despedida
Não sei como dizer que vou parar,
Se o verso que componho é tão bonito.
Com a menção do fato, mais me agito
E sinto já saudade deste lar.
Bem sei que só sussurro o que hoje dito.;
Que tenho um proceder muito exemplar:
Enxugo as minhas lágrimas sem par
Na história da existência deste aflito.
Mas tenho de seguir evoluindo
E a carne é que oferece condição
Para tornar meu ser melhor e lindo:
Preciso duma nova encarnação.
Um dia voltarei, pois sou bem-vindo.
Adeus! Deixo na trova o coração!
74. Noblesse... pero no mucho!
Ter asas eu queria aí na Terra,
Para voar nas nuvens, sobre os mares.
Agora, peço a Deus, nos meus esgares,
Se posso retornar sem tanta guerra.
Os homens não me assustam mas por Ares
Eu tenho medo, sim, pois esta terra,
Que sobre mim caiu e já descerra,
Foi tiro de escopeta de um dos pares.
De que me vale a vida, se tão logo
Hei de voltar p’ra cá talvez zangado?
Então devo dizer que a sorte jogo,
Sem me encontrar formoso do seu lado.
Um verso a mais e já me desafogo,
Que a briga é da consciência em desagrado.
75. Pensando em você
Carece de saber com que defeito
O verso que componho se apresenta?
Talvez esteja a idéia um tanto lenta.;
Talvez, sem ter recursos, mais enfeito.
Mas se Jesus nos traz, mais de setenta,
Sem medo, deverei de dar um jeito
De colocar na trova, em tendo eleito,
Um só que possa pôr-lhe a mente atenta.
O número de vezes do perdão
É muito superior que o necessário
Para fazer passar minha escansão,
Mas posso assegurar que o meu hinário
Contém bem duas preces pelo irmão
Que prima por me dar tudo ao contrário.
76. Para dar ânimo
Surpresa, meu amigo, esta presença,
Que traz um novo alento e um bom sorriso:
Às vezes, o incentivo é tão preciso,
Que o gajo pelo estímulo já vença.
Bem sei que não lhe falta nunca siso,
Para julgar o verso a recompensa
Que tem pelo trabalho sem detença,
Um dia após o outro, um paraíso...
Então, deve alegrar-se mais ainda,
Que a trova que hoje dito é muito linda,
Prece de amor, de luz, e de esperança.;
Abraço o seu pendor para a grandeza
De se sentir feliz, ao pé da mesa,
Pedindo ao bom Jesus doce aliança.
77. Orgulho vão
Eflúvios, simplesmente, de uma rima,
Os sentimentos causam-me alvoroço:
Um dia, quando eu era ainda moço,
Imaginei-me estar num mundo acima.
Por isso é que estiquei tanto o pescoço,
Olhando todo o mundo sem estima,
Achando que é dever de quem mais prima
Não atender a quem caiu no poço.
Queria ser esperto além da conta,
Apenas nos estudos da doutrina,
Chamando quem não sabe de alma tonta,
Palerma, candidato que amofina
Perante as leis de Deus, que não aponta.;
Mas hoje aquele mesmo é quem me ensina.
78. O dia da caça
Não tenho muito tempo p’ra poesia,
Mas venho, mesmo assim, trazer um verso.
Talvez não brilhe tanto no Universo,
Mas sei que é tudo quanto aqui faria.
Não posso reclamar, estando imerso
Em cismas da vontade, em alegria,
Sabendo que melhor farei um dia,
Pois nada é para sempre tão perverso.
Então, ao Pai eu rezo agradecido
Por compreender que tudo se perfaz
De modo tão perfeito, e não duvido
Que até neste soneto sou capaz
De me encontrar contigo, meu querido
E bom irmão, em luz, amor e paz.
79. Nem tudo é o que parece
Espanta-me o temor do caro médium
De que o ditado falhe alguma vez:
Tão certo é o compromisso do freguês
Que o tema é o resultado deste assédio.
Não quero versejar em mau francês
Nem busco surpreender, com tal remédio,
Aquele que procura dar ao tédio
Somente distração, e mal não fez.
Embolo o meio-campo e vou-me embora,
Mui crente que ajudei meu bom amigo,
Sabendo que, por rir, hoje demora
A compreender que é sério este perigo
De ver que jogo a bola, mas vigora
As regras da poesia, que castigo.
80. Responsabilidade antes de tudo
Prefiro caminhar bem devagar,
Nas sendas cá do etéreo, pois conheço
O quanto o coração causa de empeço,
Se digo alguma coisa sem pensar.
Também devo saber teu endereço,
Ó meu leitor querido, e do teu lar,
Pois a leitura aí tem de ofertar
Uma alegria boa, sem avesso.
Ao bom Jesus eu peço e, mais, insisto
Em ser o verso meu feliz, benquisto:
Um feixe de esperança e muito amor.;
Também uma oração mui comovida,
Conforme um bom poeta que convida
A todos se comporem no Senhor.
81. Qualquer dia eu acerto...
Peço perdão ao povo pela trova
Que vem p’ra demonstrar que ainda existo:
É pouco p’ra quem quer ser mais benquisto.;
É muito p’ra quem sofre triste prova.
Eu sei que entre os poetas não me alisto
Nem venho p’ra mostrar, em rima nova,
Que bem pode escrever quem desencova
O amor que tem ao Pai e a Jesus Cristo.
É fácil de compor um simples verso.;
Até quatorze trago e mais não faço,
Pois sei que vou perder-me, se, disperso,
O sentimento vaga em negro espaço.
Então, com meu compadre eu só converso.;
Da prece eu não me esqueço, mas não passo...
82. Que não seja só em sonhos
Sonhei, e no meu sonho vi Jesus,
Que me chamava, alegre, p’ro seu lado.
Olhei para o meu corpo esfacelado:
Notei que carregava ainda a cruz.
— Por que, Mestre querido, estou fadado
A ver que, nesta estrada, a tua luz
Me deixa tão feliz e me conduz,
Enquanto o meu destino é meu enfado?
Dormia e, ao mesmo tempo, já compunha
O verso que apresento, tão mesquinho,
Porque jamais peguei meu touro à unha.
Bem sei o que me aguarda em meu caminho,
Porque, do amor do Cristo testemunha,
Preciso demonstrar que o bem sublinho.
83. Sob as vaias da torcida
A bola corre solta no gramado:
Meu time joga duro e muito sério.
Unido, sob a luz do cemitério,
O povo nos aplaude, do seu lado.
Agarro bem a bola, em refrigério
Dos males que mantenho, por malgrado.;
Mas tenho de passar, senão me enfado,
Que o árbitro dá pênalti... mistério...
Tanto joguei na Terra futebol
Que aqui pensei chegar já de uniforme.
Sentei no banco e vi que o meu farol
Não tinha gerador e o mal não dorme:
Mesmo na escuridão, sem Lua ou Sol,
O sofrimento é grande e a dor enorme.
84. Um olho aqui o outro lá
Ao lado do Senhor, pretendo, um dia,
Sorrir para a miséria do passado:
Não quero conservar-me ali no enfado,
Mas como não estar em harmonia?!...
A paz, tal como penso, é só do agrado
De quem não tem pendor p’ra correria:
Não sei, agora, como lá faria,
Se mantivesse o tônus deste fado...
Então, evoluir é necessário,
Pois aprender preciso a me compor
Diante das virtudes do berçário
Da esfera que, a seguir, bem superior,
Pretendo freqüentar, de modo vário,
Diverso deste mundo o quanto for...
85. Assestando as baterias
Não tenho muito tempo p’ra perder.;
Então, escreva logo o meu ditado.
Não quero aqui, porém, ser criticado,
Pois não está em mim um tal poder.
Dos versos que lhe trago não me agrado,
Nem posso a sua ajuda agradecer,
Pois só lhe exijo cumpra o seu dever
De registrar o texto, do seu lado.
Aos poucos me desperto para a rima
E ponho, no compasso, o sentimento:
Preciso, então, contar com sua estima,
Pois a falar sozinho não me agüento.
Assim, não é o final que mais me anima:
É ter podido ver algum talento...
86. Alinhavando a peça
Eu preciso aprender a controlar-me:
A poesia me serve para isso.
Se marco, sem pensar, um compromisso,
Não sei como fazer para o desarme.
Então, este compasso é meu serviço
E a rima é que disponho sem alarme:
Se as sílabas me trazem muito charme,
Englobo o pensamento e já chouriço...
Não devo, então, supor que seja pouco
Levar um bom soneto até o final.
Se corro o risco de falhar, destouco
E emprego este recurso natural,
Fazendo p’ro perverso ouvido mouco
E sem ceder jamais a qualquer mal.
87. Crer é quase tudo
Não temo o meu futuro e me preparo
Para enfrentar a vida novamente:
O amor de Deus me ampara e a alma sente
Que tudo há de dar certo, estando claro.
Não quero que se pense ser freqüente
Saber qual o programa — é fato raro —.;
Mas se tal compromisso eu bem encaro,
É justo suspeitar que tudo agüente.
Não hei de receber qualquer missão:
Estou a divisar sério resgate.
Não basta, para o bem, tão-só perdão,
Preciso dar ao mal um xeque-mate:
Reforma interior do coração.;
Tarefa exterior que me arrebate.
88. Afinando o cravo
Sugiro que este verso seja lido,
Sem muito reclamar, pois tem defeito:
Se o mundo todo houvesse sido eleito,
Ninguém faria um verso só polido.
O som não mostraria seu efeito.;
Ninguém a predizer, com um duvido,
Que as coisas se teriam resolvido.;
Bem longe de eu dizer que tudo aceito.
A imperfeição, porém, é de rigor
Num mundo só de provas incompletas.
Nem quando eu terminar de aqui compor,
Posso dizer que a norma dos estetas
Eu respeitei, por força de um amor
Que me atingiu em cheio dessas setas.
89. Provocando reações
Não tenho muita coisa p’ra dizer,
Mas posso fabricar uma poesia:
A rima é muito fácil, quem diria
Que alguém para o compor não tem poder?!...
No entanto, o tempo não se perderia,
Se demonstrasse aqui mais bem-querer,
Pelo compasso alegre de um dever,
Mais sutil p’ra compor em harmonia.
Eu devo agradecer ao meu parceiro,
Que ajuda neste esforço do improviso,
Não tanto pelo ardor que lhe requeiro,
Porque tem mais que eu muito juízo
E vê a trave imensa e fino argueiro,
Dizendo o que emendar quando preciso...
90. Sem grande entusiasmo
Mantenho-me tranqüilo neste dia
Em que tudo parece tão perverso,
Pois tive duro encontro, estando imerso
Em cismas e problemas, sem poesia.
Depois que refleti neste universo
De límpidas virtudes de harmonia,
Pus no lugar o cérebro que havia
Pensado noutra espécie já de verso.
Mas devo demonstrar como venci
Os ímpetos de forte sentimento,
Conquanto a rima esteja por aqui
Tão fraca e tão anêmica no alento
Que dou ao descascar o abacaxi,
Provando pela trova que me agüento...
91. Não esperava tanto
Disponho de algum tempo p’ra poesia,
Enquanto não trabalho em socorrismo.
É quando me deparo em fundo abismo,
Mui longe de dizer que progredia...
Contudo, ao afinar a lira, cismo
Que é bom ouvir os sons da melodia.
Esforço-me e me ofereço, em alegria,
Para cumprir os dons do silogismo.
Então, o coração bate mais forte,
Porque penso em Jesus, no seu ensino,
Sabendo que é preciso que me importe,
Se, pelo amor dos homens, me fascino,
Deixando que o meu verso tenha a sorte
Daqueles que escrevi quando menino...
92. No lusco-fusco da psique
Rebrilhos e faíscas coruscantes,
Nos versos meus? Não sei se tal faria,
Que o tema dominante da poesia
Não deve se prender aos gozos dantes.
Então, vou moderar a melodia
E dar às emoções alguns flagrantes,
Porque preciso ver se me garantes,
Ó Musa do Dever, certa alegria.
No ensejo desta rima complicada,
Não sei se vou servir-me da doutrina,
Porque bem pouco sei, um quase nada,
Embora o seu concurso se defina
Como o real valor que mais agrada
Ao meu leitor, que a vida dissemina...
93. Psicanálise de araque
Nem tudo o que se quer alguém consegue
Sem grande esforço e luta permanente,
Embora ponha fé que se apresente
Quem tenha alguma luz e o bem lhe entregue.
Mas, como eu tenho de compor mais rente
Ao dom que na doutrina se persegue,
Não posso cá empacar, pois sei que o jegue
Só pára quando apanha e muito sente.
Se a carga está pesada, descarrego
E faço mais viagens: não sou tolo,
Que o fundo dos abismos serve ao cego.
Então, devo dizer p’ra meu consolo
Que tenho o ego, o id e o superego
Prontos p’ro verso, quando for compô-lo...
94. Passando a bola
Entrego-me ao trabalho com denodo
E faço os versos muito alegremente.
Talvez o resultado não se agüente,
Mas posso afiançar que me dou todo.
Aí, o que me lê é certo sente
Que é pouco o seu valor, quase um engodo,
Que levo a fantasia a dar a rodo
As rimas sem castigo e som carente.
Então, peço a Jesus que me acompanhe
Nos versos cá do fim, a chave de ouro,
Para fazer jorrar doce champanhe,
Se terminar a trova sem desdouro.
Faça você tal fim e não se acanhe,
Pois sei que qualquer um vai dar no couro...
95. Bem arrumadinho
Solícito é que volto para o verso
E dou este recado satisfeito:
O bem quando me fazem sempre aceito.;
Não posso aqui negar que o mal não terço.
Bem sei vou demorar p’ra ser eleito
Mas penso, se não for muito perverso,
Verei algumas luzes no universo,
Caminho a conduzir ao Ser Perfeito.
Espero que este amigo que me lê
Não possa ver em mim um intrujão,
Em busca tão-somente de mercê.
Aqui já deposito o coração,
Mandando um forte abraço p’ra você
A quem, pensando em Deus, chamo de irmão.
96. Sem graça
Procuro não errar na minha métrica,
Nem dar à minha rima um som estranho.
Mas o trabalho tem um tal tamanho,
Que a vibração só pode ser elétrica.
É quando, no quarteto, mais me assanho,
Achando a formação longe de tétrica,
Que estou a precisar mais da obstétrica,
Para que venha à luz algo d’antanho.
É que o moderno aqui, dom permanente,
É lei universal e sempre a mesma.;
E quando alguém nos diz estar presente,
Mantém-se a diretriz deste abantesma,
Que vem p’ra registrar que muito sente
Não ter nada melhor, que é simples lesma...
97. O tiro que saiu pela culatra
Prescrevo aos meus amigos a doutrina
Que nos legou Kardec, em sua vida.
A base da moral ao bem convida:
É bem Jesus quem no evangelho ensina.
Quando estiver su’alma combalida,
Basta pensar em Deus, que a adrenalina
Recompõe, de imediato, a sua sina
Nos trilhos da verdade, para a lida.
Se há sangue de barata em suas veias
E o coração não bate muito justo,
Hão de esperar que as coisas sejam feias.
Pois refugir do medo a muito custo
Vou prometer, ó Musa que me odeias,
E saio já daqui, porque me assusto...
98. Desvencilhando-me rapidinho
Preciso assegurar-me da audiência,
Pois espantar leitor não é profícuo.
Então, este poeta, além de iníquo,
Iria demonstrar não ter ciência.
O verso assim disposto é bem oblíquo:
Requer deste meu médium paciência.;
E do editor exige aquiescência,
Um jeito superior, gentil, conspícuo
O mestre que me anima tem cuidado
De que não mais ofenda os que têm fé,
Fazendo uma poesia com enfado,
Que o bom é tomar leite com café.;
Manteiga vai no pão, que é como agrado
O paladar da vida.; e dou no pé...
99. Só a forma não basta
Estimo que meu mestre me acompanhe
Nas horas mais difíceis da poesia:
Não sei como sem ele aqui faria
A rima que os leitores mais assanhe.
Repito tão freqüente a melodia,
Querendo que o meu tema não se estranhe,
Mas guardo p’ra depois o meu champanhe,
Que nada aqui merece essa alegria.
Não sei se os meus leitores chegam juntos
À conclusão que ponho neste verso.
Talvez nos dêem desconto, pois defuntos
Não têm como trovar, sem ser perverso
O fundo de doutrina dos assuntos,
Pois meu caixão compreende este universo.
100. Simples efeméride
Completo cem sonetos neste dia,
Porém, não foram feitos só por mim:
O grupo todo sempre disse sim
Ao arremedo tosco da poesia.
Não é que seja a trova tão ruim,
Mas falta muita coisa p’ra harmonia.
Um vate aí na Terra, eu sei, faria
Melhor que qualquer um, em vista o fim.
Não há como furtar-me a dirigir
Alegre saudação ao Wladimir,
Agradecendo a sua compreensão.
Não vale este soneto para as contas,
Porquanto a minha indiscrição apontas,
Ó tu, Musa matreira da escansão.
101. Misteriosa exigência
Não penso diferente do meu mestre,
Que exige dos alunos disciplina.
Então, o meu poema o bem ensina
A dar valor ao carma do terrestre.
Quem veio para o mundo, esta oficina
De dores a vencer, então se adestre,
Para enfrentar estrada rude, alpestre,
Pondo no coração amor à sina.
É como fazer versos quando as rimas
Se deixam descair para o difícil.
Aí posso dizer: Se tu me estimas,
Aceitarás que o som esteja físsil —,
Que é lógico saber que tu te arrimas
Num bólide do etéreo, verso míssil...
102. Nem sempre a tentativa vale
Eis que arregaço as mangas p’ra escrever
Algo que possa honrar esta Escolinha,
Mas tenho para mim que se avizinha
Apenas um momento de poder.
Quisera ver acesa essa luzinha
Que determina a rima e o bem-querer,
Nest’arte de escandir, não por dever:
Porque no coração o amor se aninha.
Jesus que me perdoe o traço incerto.
Nesta pintura amena do caráter
Que exige do leitor, por estar perto
Est’último terceto do poema,
Que aceite que te chame já de frater,
Ó tu que és duma bondade extrema...
103. Atualizando o verbo
Acordo para a luta nesta esfera
E vejo que a poesia é quase nada.
É claro que o leitor nem sempre enfada,
Mas sinto que o melhor é o que se espera,
Enquanto me dou conta da jornada,
Em trovas da esperança que acelera
O meu compasso, em nome da galera,
Que aplaude o meu vigor e mui se agrada.
A frase fica solta e se destaca
Das normas cá do etéreo para as rimas:
Então ao bem me ajusto e o verso empaca.
Só vai fluir de novo, se me estimas,
Ó Musa da verdade e da matraca,
Megera que me obriga às obras-primas.
104. O desafio é sério
Não forço a natureza dos meus versos
Para agradar a gregos e a troianos:
Se trago dentro ao peito desenganos,
Então devo fazê-los bem perversos.
É próprio acontecer entre os humanos
Que os sons, em maus ruídos sempre imersos,
Não deixam de enroscar-se, controversos,
Nas teses da doutrina dos insanos.
Mas dentro da Escolinha não se pode
Enfatizar tal erro, sem a crítica
Bem justa e bem certeira a tal pagode,
Que o bem, a ressaltar em cada rima,
Precisa ter por base a sã política
De tudo vir compor por nobre estima.
105. Destes o inferno está cheio
Jesus caminha ao lado dessa gente
Que tanto mal pratica neste mundo,
Pedindo ao Pai que apenas um segundo
Desperte cada qual interiormente.
Mas muito enraizada lá no fundo
Está tanta maldade descontente:
Não dá para o Senhor fazer que agüente
Um pensamento d’alma só, fecundo.
Quem sabe este poema realize
Um tal milagre, apenas uma vez,
Pois um segundo dá que se analise
O intento da pureza que se fez
Na rima que registro para a crise
Que possa despertar um só freguês.
106. Nem Dante faria tanto
Eu peço ao meu amigo que me esqueça,
Poeta sem poesia, um simples vate.
Que fique neste impresso um disparate
É tudo quanto almejo, selva espessa.
O tema é que me importa, neste engate
De frases com as rimas de cabeça:
Ó alma, não espere que faleça
O corpo, p’ra no mal dar xeque-mate.
Rigor não traz à crítica esse bem,
Se a forma prevalece ao conteúdo.
Por isso, o meu amor trago também,
Enaltecendo o dom, conforme estudo
O verso que componho, nota cem
Se exalto o pensamento, sobretudo.
107. O gato não escondeu o rabo
Não trago ao bom amigo um verso rico,
De límpida, graciosa formosura,
Porém, quanto aqui faço lhe assegura
Que existe uma outra vida — e eu certifico.
Será que essa tal vida é bem mais pura
Mas não produz um verso mais profícuo.;
Ou cai em negro abismo o gajo iníquo,
Cumprindo o seu destino a criatura?!...
Existe um descompasso nesta rima,
Conforme eu demonstrei um pouco acima:
Desejo de agradar, sendo perfeito.
Mas, quando a boca é toda desdentada,
Não pode ser feliz essa risada,
Nem quando o coração é dum eleito...
108. Acanhadinho
Prefiro dar à poesia
Um sentido mais cordato:
O médium já paga o pato
De me ouvir a cada dia.
“Eu não vejo desacato!” —
Nem outra coisa diria
Nosso amigo, nesta fria,
Pois é fato, não boato...
É tão pouco se soneto,
Inda mais se o verso é curto
E seu tema obsoleto.
“Mesmo assim, eu não me furto!” —
Diz-me o médium com afeto.;
E a poesia sai em surto...
109. Um bom início
A história deste mundo nos ensina
Que a vida deve ser tão bem vivida
Que, ao tempo de chegar sua partida,
Nos seja a tal maldade pequenina.
Mas ao voltar ao mundo, esta medida
Deve conter bem mais da sã doutrina,
Que o vírus da maldade se vacina
Com muita caridade, em rude lida.
Por que fazer poesia sem tempero,
Sabendo o resultado tão canhestro? —
Pergunta o meu leitor em desespero.
Talvez por ser tão pobre e parco o estro,
Atrevo-me a escrever com certo esmero,
Porquanto em meio à luta é que me adestro.
110. Outro velho tema
Não trago novidade para o verso
Nem mesmo a rima vai diferenciar.
O mestre que me ajuda quer mudar,
Achando que tal mote é mui perverso.
Bem sei que repetir não dá lugar
A novos sentimentos do Universo.;
Mas, como em farto amor eu vou imerso,
Não temo que esta trova irá falhar.
Assim, quem ler Jesus no bom Kardec,
Não pode ver mudados os tais temas,
Que o bem não vai sofrer, aberto em leque,
Nenhuma restrição, pois há problemas
Apenas para quem sentir-se em xeque,
Julgando que as virtudes são supremas.
111. Promessa é dívida
Não busco conseguir a melhor rima,
Que a vida aconselhou um som modesto.
É honra muito grande, à qual me apresto,
Apenas soletrar a minha estima.
O mais não pode ser somente o resto,
Mas tudo alcançará ser obra-prima,
Se feito para ver se alguém se anima
A dar tudo de si, em verso honesto.
Jesus um dia ouviu a minha prece
E me mandou alguém p’ra me ajudar.
Assim foi que colhi a minha messe
Plantada no recesso de meu lar:
Na trova, um dom melhor já transparece.;
Ao meu redor, a luz a coruscar.
112. Minha prebenda
Retiro-me feliz de junto à mesa,
Depois que já ditei a minha trova.
Assim, meu compromisso se renova
E as coisas se equilibram com justeza.
Faz tempo que deixei a minha cova,
Em busca de saber a tal proeza
Que me deixou sem ar, pela surpresa
De estar um ponto acima, em cada prova.
Foi o trabalho (diz-me o professor)
Que fiz junto à miséria mais horrenda.
Agora já estou pronto p’ra compor,
A ver se alguma luz aqui se acenda,
Pois tudo quanto faça com amor
Virá p’ra soerguer quem não compreenda.
113. Com um toque de inveja...
Pensei fosse falhar nesta poesia,
Que a prosa se estendeu e transbordou:
O gajo veio aqui nos dar seu show
E terminou de vez minha euforia.
A turma, satisfeita, comentou
Que tudo o que sentiu não falaria,
Mas teve que convir: paralisia,
Nem sempre mais demonstra quem parou.
Por isso é de improviso que apresento
O texto desta tarde proveitosa.
É pobre, que remédio, o sentimento:
Jamais serei feliz em nobre glosa.
No entanto, ao terminar, me volta o alento
De ver como a virtude o bem nos dosa.
114. Para que não invejem...
Parece que não tenho mais sossego,
Depois que comecei a versejar:
A hora do aconchego neste lar
É tudo quanto quero neste emprego.
Depois fico a cismar, neste lugar,
Em rimas permanentes, sem apego,
E ponho a fermentar, p’ro descarrego,
O que julgo melhor, mais exemplar.
Mas sempre o resultado é bem mais fraco
Do que desejo eu mesmo p’ra poesia.;
E quando está ruim é que destaco
Que alguém, melhor que eu, aqui faria
A rima de sucesso, quando empaco,
Pensando em já sair, que a trova é fria...
115. Lição que se repete
— Meu filho, a sua vida é toda sua:
Não queira atribuí-la mais a mim.
Não pense que a existência chegue ao fim,
Porquanto, além da Terra, continua.
Meu pai, ao me ensinar, me disse assim,
Enquanto eu só propunha endecha à Lua,
Pensando que no céu ela flutua,
Porque morreu ou segue bem ruim...
Agora, eu me dou conta da certeza
De que o mundo prossegue em harmonia.;
E venho demonstrar, junto a esta mesa,
Que tudo quanto é bom nesta poesia
Nem sempre dá tributo à vã beleza:
Mas eis o ensino meu, que lhe traria...
116. A felicidade é simples
Estimo o meu amigo e aqui festejo
A glória de servir-me desta pena.
Bem sei que o verso meu também acena
Com glosas que se dão no realejo.
Não posso lamentar a dor terrena
Nesta harmonia triste, pois almejo
Trazer ao meu leitor um bom traquejo,
Em busca de emoção, na cantilena.
Mas faço desta trova o meu troféu,
Que a paz que aqui disponho é superior.
Um verso só dos meus e estou no céu,
Pois lucro neste teste de compor,
Que a rima há de romper o espesso véu
Que oculta na matéria o meu amor.
117. Crítica ferina
Não posso compreender como a poesia
Atrai tantas pessoas, pelo inverso...
Se digo nestas rimas: — Faça um verso! —,
Alguém sempre dirá que não faria.
É claro que quem fica aqui imerso
Não tem como checar esta harmonia:
Precisa variar a melodia,
Buscar as vibrações deste universo.
Em termos de produto apresentável,
Os gajos cá da Terra nunca perdem,
Que o bom é despejar algo agradável
Nos pobres dos leitores sem cultura,
Em rimas ambiciosas que os enlerdem,
Deixando p’ra depois o bem que dura.
118. Ao mestre, com carinho...
Desejo agradecer ao professor
Que atende tão feliz ao seu aluno.
Cheguei eu mesmo aqui boçal, jejuno.;
Agora penso ter algum valor.
Por isso é que, nos versos, me reúno
À turma que comigo vem compor,
Para mostrar ao mestre o nosso amor,
Pois só quer ensinar, sempre oportuno.
Descarta o mestre amigo este elogio
E diz que só não gosta do poeta
Que vem para chamá-lo aqui de tio.
Corado há de ficar que é certa a seta
Que atinge o coração, em pleno brio:
Ó Deus, protege o mestre que nos veta.
119. Veja Pedro
Não nego que já tenha algum talento
P’ra versejar, um dia, com proveito:
A rima que disponho deste jeito
Vai dar prazer ao gajo, se o contento.
Então, muito me esforço e não aceito
Um verso que não tenha um bom momento,
Pois tudo que lhe peço e que sustento
É dar-me um voto só, leitor afeito.
Mas como versejar assim pro forma,
Sem ter um conteúdo bem bacana,
Alguma tese arguta, alguma norma,
Que o bem é da virtude que promana?!
Aí é que se aguarda uma reforma
Do espírito que traz a falha humana.
120. Contradição e fulgor
Artistas cá do etéreo, os meus colegas
Se aprestam p’ra vencer o desafio
E treinam tantos versos. com tal brio,
Que às vezes mui se esfolam nas refregas.
Eu mesmo não prossigo sem um fio
Do mel desta esperança a que te entregas,
Ó Musa salvadora, em rimas cegas,
Pois sabes perdoar meu calafrio.
Não quero entusiasmar-me além da conta,
Que o resultado é fraco é não me agrada,
Depois que tudo escrevo e que se apronta
O médium p’ro ditado em disparada:
Também a hesitação com que se afronta
Precisa melhorar, p’ra não ser nada...
121. Para remediar o anterior
Um simples exercício, este meu verso
Não serve p’ra constar na antologia.
Um dia vou ditar outra poesia
E todos vão dizer: — Mas que universo!...
Agora aqui registro um todavia,
Para moldar de vez o som perverso,
Saudade elementar de tom diverso
Que soube distinguir na melodia.
Pediu-me um bom amigo que fizesse
Um verso mais bonito, alguma prece,
Lembrando que Jesus é todo amor.;
Mas, como me falece a inspiração,
Procuro não dizer-lhe apenas não,
Erguendo a minha voz: — Perdão, Senhor!
122. Fogo de artifício e companhia
Preciso contentar-me com bem menos
Ou dou co’os burros n’água dentro em pouco:
A rima faz pensar que fiquei louco,
Enquanto os versos vou compondo amenos.
Se o som sai todo torto, é que estou rouco,
Malabarismo infrene de somenos,
A receber ao longe alguns acenos
De quem não leu ou faz ouvido mouco...
Pertenço a certa turma do barulho,
Ou seja, que compõe só com ruído,
Frenética harmonia deste entulho
Que chega a entusiasmar, porém, duvido
Que cause alguma coisa além de orgulho,
Por causa dum silêncio de alarido...
123. Omnia quibus erat.
Sugiro que o leitor se desalinhe
Apenas p’ra saber como se faz
P’ra compreender que as normas para a paz
Exigem que, nas brigas, se engalfinhe.
Se de verter latim já for capaz,
Não perca a compostura e se encaminhe,
Sabendo, se vis pacem, cá escrevinhe
Um simples para bellum mui loquaz.
Pois quem deseja a paz prepara a guerra,
Que é tudo o que o saber antes dizia,
No tempo em que o sofrer aqui na Terra
Um verso bem formoso merecia.
Agora, o mal cresceu e a gente encerra:
Ó Pai, quando haverei mais harmonia?!...
124. Recaída temática
Sustento que este dia eu vou compor
Um texto bem mais fácil de ditar:
As rimas vão sair bem devagar
E o gajo me vai dar maior valor.
Preciso enfatizar que tenho o amor
Do mestre que reserva este lugar,
P’ra que demonstre ser mui exemplar
A trova que componho, superior.
Circulo eternamente ao derredor
De minha própria forma e compostura
E as rimas que disponho as sei de cor,
Que é como a minha mente aqui censura
Um mundo imaginado bem maior,
Porquanto eu quero a rima ainda mais pura...
125. A aurora do amor
É lei que aqui no etéreo não vigora
Aquela da fratura por fratura.
No entanto, p’ra tornar a gente pura,
Precisa que haja dor.; e sem demora.
Quem é feliz e sabe esta estrutura
Da rima que sorri mais do que chora
Propõe o benefício e vai embora,
Contente por prover a criatura.
Assim é que este tema se sustenta,
No exemplo de um terceto mui azado,
Que a gente que me lê, por ser atenta,
Já sabe o que acontece deste lado:
O louco sanguinário aqui se assenta
E espera por Jesus, pois é seu fado.
126. Com algum sentimento
Eu trilho o mau caminho da penúria
E, conformado, vibro a melodia.
Se mais tivesse, aqui colocaria,
Para fugir dos vezos desta incúria.
Então, eu bem me lembro da alegria
Que sentes, meu leitor, se, sem lamúria,
Descrevo esta desdita, longe a fúria,
Rogando que me estimes na poesia.
Imita a quem te pede uma oração
E reza ao Pai também por este irmão,
Que sofre tanto agora por seus crimes.
Suspende o teu rancor, abrindo os braços.
Aceita quem tremeu com seus fracassos,
Pois é com teu amor que me redimes.
127. Novo despertar
Não posso prosseguir sem lhes dizer
Que o dia está mui quente por aqui.;
Que tive idéia enfim de que vivi
Apenas p’ra cumprir o meu dever.
Foi bom, pois consegui saber que aí
Cheguei a um belo fim por bem-querer
Do povo que me dava tal poder,
A quem, sem ter noção, retribuí.
No etéreo, percorri a escuridão,
Durante muito tempo, que a consciência
Não despertava nunca p’ro perdão
Dos erros praticados na existência,
Pois uma só brilhante encarnação
Não basta p’ra se ter tanta abrangência.
128. Até onde podemos ir?
Não vamos dedicar nossa atenção
Aos casos de falência da vontade,
Pois hoje desejamos que se agrade
Aquele que tem fé no coração.
Mas vamos desejar felicidade
A quantos nos entoam a canção,
Louvando com amor a cada irmão,
Sentindo alguma vez forte saudade.
Ó Pai, dá-nos que a prece seja boa,
Para tornar o dia mais feliz,
Que um verso sem sabor aqui destoa,
Que o bem eleja agora quem nos quis
Propor uma esperança que se doa,
Deitando dentro d’alma uma raiz.
129. Quem dorme ainda?
Senhor, perdão vos peço para os crimes.;
E tu, leitor, compreende esta poesia,
Pois, com mais luz, o vate te daria
Outras razões p’ra que meu texto estimes.
Antigamente, vinha em harmonia,
Sem suspeitar que queres ver sublimes
Todos os versos, dês que tu não rimes,
Para mostrar que o gajo se iludia.
Mas, devagar, já chego à conclusão
De que mais vale um pássaro na mão
Que a multidão voando pelo espaço.
Um dia, eu me avizinho e falo certo
De que venho dormindo e não desperto,
Porquanto pairo ao longe do que faço.
130. Precisa de boa vontade
Não posso aqui perder um só momento,
Porque, depois da trova, é que trabalho.
Por isso é que meu médium quebra o galho
E põe na tela um nobre pensamento.
Mas, como? Este poeta é um espantalho
Inútil para os versos?! Não me agüento!
Pois vá catar coquinhos, pois atento
Ninguém há de ficar, neste escangalho.
O “nobre pensamento” então se perde.;
O tempo vai p’ro espaço e já não rima,
E o texto hoje sugere que se enlerde
Quem quer fazer aqui uma obra-prima.
Eu deixo o posto a ver se quem o herde
Consegue desfrutar total estima.
131. Com as mãos já calejadas
Não tenho outro prazer na minha vida,
Senão vir escrever este poema.
É pobre, de pobreza assaz extrema,
Mas mui honesto e lúcido na lida.
O gajo que comigo luta e rema
Nem sempre p’ro entrevero me convida,
Pois sabe que, ao perder, não dá guarida
O coração do povo ao tal problema.
Mas vou levando a rima mesmo assim,
Que um dia eu chego lá, tu podes crer,
Pois tudo quanto agora é tão ruim,
Se muito trabalhar, ganho o poder
De melhorar a vida para mim:
Promessa de mais luz e bem-querer.
132. Misteriosa voce
Não quero bater papo inutilmente,
Que a rima tem momentos de poesia,
Nem todas, pois aquelas que eu faria
Talvez só contivessem pó de gente...
Eu pus acima um termo diferente,
Mistura de intaliano e fantasia,
Querendo que alguém diga: — Todavia,
O gajo flerta um tanto.; e segue em frente...
Mas tudo de alegria que introduzo
Nos versos metafísicos do povo
Não vai além de simples, vil abuso,
Com um sotaque louco muito novo.
Aí, alguém vai ver se encontra incluso
O texto da lição.; e quebra o ovo...
133. Estou melhorando!
Se o texto for bem simples, me contento,
Que é mais difícil ser mui natural:
Na rima se revela todo o mal,
Se é com vaidade que meu verso enfrento.
A trova permanece p’ro mortal,
Pois obra quem escreve, mesmo lento,
De sorte a oferecer um sentimento
Que fica, no presente, sempre igual.
Por isso é que importante ser mui puro
O texto que resulta deste esforço,
Às vezes, muito triste, eu lhe asseguro,
Porquanto é de notar que nunca torço
Os males que declaro e que conjuro,
Tornando este soneto um bom... escorço...
134. Sincopadamente
O som que vem do etéreo nos acorda
E põe novo sentido em nossa vida:
Talvez seja um mistério que convida.;
Talvez seja a caçamba sem a corda...
É tanta a graça alheia nesta lida
Que nem de graça vamos nessa horda,
Pois quem nos chama agora pinta e borda,
Que a rima é tosca, fútil, desabrida...
Mas ao clamar por Deus, tranqüilamente,
Sabendo ser seguro aqui viver,
O gajo é lá nos íntimos que sente
A brincadeira séria e o bem-querer,
Que o gosto é sem desgosto permanente,
Fogo que queima e arde sem doer...
135. Um bom começo
A luz desta poesia é que me obriga
A vir falar de amor a toda a gente.
Quisera este meu verso diferente,
A ver se bem ao mundo algum instiga.
Mas é no coração que o povo sente
Que Deus é pai de amor e que nos liga
Ao mundo superior, mas sem fadiga,
Que a prece aqui não cansa, eternamente.
Então Jesus nos trouxe da verdade
Quem pôde compreendê-la e explicá-la.;
Kardec é quem nos diz que o bem invade
O coração de quem seus vícios cala.;
Mas somos responsáveis, se a maldade
Impede de crescermos nesta escala.
136. Ignorância e contra-senso
— Não posso perdoar quem não perdoa! —
Prediz, com seus botões, um pobre tolo.
E nada há de servir-lhe de consolo,
Se alguém mostrar-lhe a idéia muito à-toa.
Quem come até fartar-se desse bolo,
Dizendo emagrecer, que a hora é boa,
A voz da consciência um dia soa,
Para mostrar que amor vai recompô-lo.
Mas tudo quanto alcança é desespero,
Porque falhou atrás ao semelhante.
Agora quer livrar-se do exagero,
Mas fica sem saber que o bem garante
Um molho mais feliz, pois seu tempero
Está na caridade de um transplante....
137. Assaz rapidamente
Estimo que meu médium tenha vindo,
Para atender ao gajo que o conclama:
Por sobre nós, a luz que se derrama
Irá fazer feliz o verso, e lindo.
Não quero festejar sozinho o drama
Que irei vencer, embora quase infindo,
Que Deus é pai de amor e está sorrindo,
P’ra demonstrar ao mundo que nos ama.
É, na verdade, um texto mui fogoso,
Que gera, no improviso, muita estima
De quem sabe que a rima traz o gozo
De se supor que seja uma obra-prima:
No fogo mais gasoso e doloroso,
Um balde d’água fria... que me anima...
138. Recomendação útil
Um dia após o outro, é essa a lei
De quem trabalha a fim de progredir.
Lá longe, divisamos um porvir
De festa e luz, de amor de toda a grei.
Mas hoje nos importa só servir,
Sabendo que Jesus é o nosso rei.
E quem disser ao bem: — Não sei... Não sei... —,
Irá ter de pensar e corrigir.
Agora é nossa vez de, junto à mesa,
Dispor em verso a rima da poesia.;
Real e mui formosa esta proeza,
Porque ninguém julgava que o faria.
Assim, tudo na vida é boa empresa,
Quando se faz em luz tal harmonia.
139. A um amigo
Não tenho o que dizer de teu agrado,
Meu tagarela amigo, doutra vida,
Mas posso compreender tua ferida
E ministrar remédio muito azado.
Bem sei que o teu humor não me convida
A vir passar uns dias do teu lado,
Mas tenho-te comigo e já me enfado,
Por ver que nada faço nesta lida.
Então, vai um soneto muito fresco,
Capaz de derrotar o teu fracasso,
Porque, neste calor, a um bom refresco
Ninguém há de dizer: — Por ora eu passo...
Se melhorar um pouco o mal dantesco,
Aí, hei de te dar um forte abraço.
140. Tratamento íntimo
Retiro-me feliz de junto à mesa,
Depois de vir ditar esta poesia.
Bem sei que alguém melhor poetaria,
Mas bem que eu acho tudo uma beleza...
Assim, eu peço a ti uma harmonia,
Durante esta leitura, sã proeza,
De quem no coração traz a nobreza
De tudo perdoar, sem todavia...
Carrego hoje comigo esta doutrina,
Que estudo nesta classe, com denodo,
E passo, nestes versos, muito fina
A rima que construo, sem engodo:
Se o texto, por ser pobre, desafina,
Bem sei que vou contar co’o povo todo.
141. Os meios justificam os fins
Não posso garantir uma obra-prima,
Conquanto tudo faça com amor:
Se escrevo como eu fiz nessa anterior,
Eu acho que me perco cá na rima.
Est’arte de compor e recompor
Começa devagar e com estima.;
E, logo que o poeta mais se anima,
Alguém sugere um verso superior.
Será que, nesta vida, a perfeição
É meta que se põe a cada dia,
E o gajo fica alegre ao dizer não,
Que é pobre e muito fraca esta poesia?...
Ou devo cá dizer que ainda irão
Sorrir mui satisfeitos de alegria?!...
142. Com extremos de simplicidade
Reúno as minhas forças p’ra escrever
Um texto mais do agrado do leitor:
A rima, por vulgar o quanto for,
Vai demonstrar que tenho bem-querer.
É simples conseguir ser superior
Nos versos mais tranqüilos do dever,
Que o mestre que me assiste tem poder
De me estancar as lágrimas de dor.
Ninguém é tão feliz quanto queria
Na etapa dos estudos cá da escola,
Mas nada transparece na poesia,
Que o gênio do progresso deita e rola:
Um dia após o outro, eu progredia,
Portanto, tudo agora me consola.
143. Confiante no resultado
Apenas um soneto e vou-me embora
Curtir a companhia dos afins.
Se os versos se apresentam tão ruins,
Alegre é minha espera sem demora.
Mas colho as minhas flores nos jardins
Que envolvem de beleza, nesta hora,
Os dons que todo o grupo comemora,
Por ter o meu leitor seus lambrequins.
A festa se completa no poema,
Que a vida tem momentos mui felizes.;
E, se vencer aqui o meu problema,
Dispondo com rigor as diretrizes,
Então parto contente, sem que tema
Os sons, que dão trabalho aos aprendizes...
144. O caminho, a verdade e a vida
Pretendo demonstrar que estou contente,
Por vir fazer uns versos nesta casa.
Eu já perdi, na vida, muita vaza,
Deixando p’ra depois, eternamente...
Às vezes, a modéstia mais arrasa
As nobres pretensões que a gente sente,
Que o medo de falar, estando ausente,
Reside no fator que o bem se apraza.
Então, vim transmitir o meu carinho
A quem quiser ouvir-me, estando sóbrio,
Pois quer saber do amor, justo caminho,
Com que Jesus nos trouxe para a vida,
Que deve ser vivida sem opróbrio,
E nele está a verdade desta lida.
145. Quem avisa...
— Disponho de algum tempo p’ra poesia —,
Dirá gentil leitor despreocupado,
A ver se a tal leitura traz o agrado
De que tudo o que faz tem harmonia.
Aí, leva um tal susto, se chamado
A contas por não sei ou todavia,
Pois todo bom poeta aqui faria
Um verso p’ra consciência em pé de enfado.
— Preciso empertigar-me p’ra virtude —,
Vai sussurrar mui trêmulo esse amigo.;
Eu mostro o quanto espero que ele mude,
Com medo de que vai brigar comigo.
Mas, quanto bem fizer mais amiúde,
Irei mudar o tom do meu castigo...
146. Definindo o rumo
Não creio no destino e sigo em frente,
Trilhando o meu caminho com coragem.
Também não quero aqui contar vantagem,
Que o povo todo mal no verso sente.
Se a rima me apavora, esta viagem
Terá seu fim previsto, certamente,
Pois são quatorze linhas e um dormente,
Que o trem deve passar nesta paisagem.
Esforço-me, no fim, para dizer
Um pensamento só, galante e fino,
Para fremir de amor e bem-querer
Quem veio esperançoso por um hino.;
E peço a Jesus Cristo o seu poder
De tê-lo como a luz do meu destino.
147. A voz do coração
Respiro aliviado neste clima,
Que o verso que produzo vem melhor.
As rimas, todas elas, sei de cor:
A mim me falta apenas tua estima.
— Mas como suportar ao derredor
Suspeitas como aquelas lá de cima? —,
Irás dizer, sem dúvida, e me anima
A tua aprovação, meu bem maior.
Um dia, cá estaremos reunidos,
A comentar as trovas que fazemos.
Então, hão de doer nossos ouvidos
Pois críticas ferinas vêm dos demos
Que sabem mais que nós, por mais vividos,
Enquanto a luz do céu não acendemos.
148. Sem dúvida
Sustento firmemente que o meu verso
Não tem outra intenção que a de informar.;
Por isso é que me atrevo a, neste lar,
Deixar o tema certo, incontroverso.
Mas quando vou dispor algo exemplar
E peço inspiração ao universo,
Não sinto na verdade estar imerso
O coração que bate devagar.
O meu leitor não deve requerer
Dos vates cá do etéreo perfeição,
Que a rima sofre muito até poder
Dizer algo feliz, como verão
Aqueles que me trazem bem-querer
E nunca para o amor vão dizer não...
149. Historinha familiar
Raiava um novo dia, cá no etéreo,
E o povo já se punha a trabalhar.
A mim, cabia pôr-me junto ao lar,
Para tratar ali de tema sério.
Mamãe quem me pedia algo exemplar:
A rima mais feliz do refrigério,
Pois meu papai partira p’ro mistério
E o luto dessa ausência era sem par.
Eu procurei por ele, auxiliado
Por gente mais capaz e mais pujante,
E logo consegui tê-lo ao meu lado,
Mas respirava mal, muito ofegante.
O beijo que lhe dei o fez curado:
Mamãe, o nosso amor o bem garante.
150. Com vistas no futuro
São simples o meu verso e o sentimento
Que trago p’ra mostrar ao meu leitor:
Não quero evidenciar profundo amor,
Pois tudo quanto escrevo um pouco aumento.
Nest’arte do soneto, o meu compor
Exige desde já melhoramento,
Mas vou levando a rima sem tormento,
Contando aliviar de pronto a dor.
E como vou fazer p’ra dominar
Os rápidos impulsos com que luto?
Chegando ao fim da trova devagar,
Dizendo ao meu amigo muito arguto
Que um dia ele também irá provar
Que o bem que aqui se faz é seu tributo.
151. Falando sozinho
“Não quero demonstrar ressentimento,
Mas devo interferir em sua vida.
Bem sei que o coração não me convida,
Mas vou fazer o tanto que acalento.”
Assim é que eu pensava, em dura lida,
Pois para fazer versos me atormento:
Responsabilidade dum momento
Que fica a perdurar, se mal cumprida.
É simples a lição que hoje aqui trago,
Mais fácil que o compasso em que não primo.;
Pior, porque não douro um só afago,
Nem venho sustentar que dou arrimo:
Um pito, uma raspança, um mal que pago,
Exame de consciência a que me intimo...
152. Assustando o leitor
Não quero lamentar esta poesia,
Porque, no fim das contas, a concluo.
Se fosse meu feitio dar um recuo,
Aí, com mais certeza, eu não viria.
Se vou falar de mim, gaguejo e suo,
Que o tema me mergulha numa fria:
A crítica ferina que eu faria
Vai atingir alguém que não acuo.
Que sirvam de lição os medos meus.;
Também esta postura desabrida.
Bem sei que, ao terminar, dizendo adeus,
O gajo que me lê prossegue a lida
E faz uma promessa aos pés de Deus:
Jamais vai rascunhar algo na vida...
153. O bom é rir depois...
No ata e não desata desta rima,
Entendo que meu tempo logo passa.
Mas, como aqui não quero vil trapaça,
Vou logo conquistando a sua estima.
E como fazer isso sem chalaça
Que ofenda e cause medo em quem se anima?
Buscando oferecer algo que exprima
Os dons da luz, do bem, do amor, da graça.
É obra de quem tem muito talento,
Projeto superior dum vate grosso.;
Mas tudo quanto faço aqui sustento:
Um fruto simples, doce, sem caroço.;
Levíssimo arremesso.; um verso ao vento,
Salvando quem se encontra em fundo poço.
154. Mudando o estilo
Distingo, com clareza, o que é melhor
De tudo quanto obriga ao desperdício.
Assim, se cheirar droga é triste vício,
Quem é que isso não sabe até de cor?
Mas muitos vão treinando, no bulício,
As dores que, no etéreo e na pior,
Irão ferir os seres ao redor
Que querem vir trazer-lhes benefício.
Doentes como estão, não podem ver
Saída para transe tão terrível:
Dependem tantas vezes do poder
De quem acima deles tem um nível.;
E como deduzir que é o bem-querer
Que vai dar-lhes um dom inextinguível?
155. Mantendo a linha
Resolvo suspender os meus ditados
E sinto estremeções na fantasia:
Como é que vou passar o fim do dia,
Sem textos e pretextos retocados?
Então, volto correndo p’ra poesia,
Que o bom p’ro general é ter soldados:
Meu mestre mais se alegra dos agrados,
Pois sabe que haverá rica harmonia.
O povo aqui me escuta atentamente,
Sabendo que é difícil vir rimar
Para cobrir um tema surpreendente,
Que o verso que proponho neste lar
Retrata a decisão que o gajo sente
Que deve ser, no mínimo, exemplar.
156. Sem castigo
Nostálgica visão do amor antigo
Que se desfez um dia na voragem
Da vida em torvelinhos, se reagem
Os pruridos carnais dum mau amigo,
Foi longo o desperdício da viagem,
Pois por aqui vaguei sem ver perigo
No fato de trazer junto comigo
A túrbida noção de ter vantagem.
Ainda muito zonzo dessa vida,
O povo quer que eu diga como dói
Esta saudade amarga, desabrida,
Na forma de um poema, como sói
Ouvir no coração quem me convida
Que suba em bravo touro tal caubói...
157. Querendo ser esperto
Não temo aqui voltar para a poesia,
Ainda que bem pouco contribua.;
Mas vou levando a vida como a sua,
Quando adormece em leito-fantasia.
Talvez o meu poema constitua
Apenas distração, pois não daria
Somente um sentimento de alegria,
Enquanto aqui manejo tal charrua.
É claro que é simbólica esta frase,
Pois tudo cá se sente de outro modo.
Espero que o vernáculo se case
Co’a vibração que imprimo e que não podo,
Pois tudo quanto escrevo é bom, ou quase,
Um nada de artimanha em que me engodo...
158. Reflexão, apenas reflexão
Arrolo os benefícios destas rimas
E vejo que o equilíbrio é bem maior:
Exige disciplina e sei de cor
Que tu, meu coração, sempre me animas.
Se o sentimento é paz ao derredor,
Sossego ao respirar em doces climas,
Também devo pedir boas vindimas
Ao Pai, em prece lúcida, melhor.
Mas sempre aqui mergulho inutilmente,
Pois logo vou querendo um verso grande,
Infâmia da vaidade em minha mente,
Que pensa que o leitor, ao ler, desande
Em críticas vorazes, porque sente
Que penso mais em mim, que o mal comande...
159. Por linhas tortas
Consiste a minha trova em simples versos,
Em rimas conhecidas pelo povo,
Que sempre assim dirá: — Ei-lo, de novo,
Trazendo uns sentimentos mui perversos.
É claro que exagero em meu renovo,
Pois podem estes males, se conversos,
Tornarem-se em virtudes, pois imersos
Em luzes ficarão, e eu me comovo.
Dizer de modo enxuto o pensamento
É muito complicado p’ro poeta,
Que tem de respeitar este momento,
Fazendo, num soneto, a mais completa
Ilustração do amor, conforme intento,
Cupido a arremessar certeira seta.
160. Brinquedo educativo
Eu lanço um desafio ao meu amigo
Que teima em contrariar minha opinião,
Dizendo que meu canto é muito chão,
Que nunca irá cantar aqui comigo.
É certo que esse canto cantarão
Os bons beneditinos, canto antigo,
P’ra enaltecer ao Pai, como eu castigo
Os versos desta estrofe, com razão.
Pois entre neste coro e fique atento,
Que um dia há de querer me acompanhar,
Dizendo para si: — Será que agüento
Cumprir a obrigação de vir cantar,
Depois de ter logrado atendimento?
É claro, meu amigo: é seu meu lar!
161. Dá para entender?
Um verso simplesinho e me retiro,
Porque tenho tarefas a cumprir:
Se venho prometer um bom porvir,
Preciso pelo etéreo dar um giro.
As rimas que escolhi p’ro Wladimir
Não posso conceber e lhe transfiro
A obrigação do médium que dá tiro
E acerta alguém no escuro a combalir.
Por isso é muito bom não ter esquema,
Fazendo a tal da trova de improviso,
Ainda que o leitor, por mais que trema,
Suspeite que haja blefe, que harmonizo
Os sentimentos da bondade extrema:
Jesus a nos abrir o paraíso.
162. Eleja o melhor verso
Renovo o meu pedido de paciência
E volto a apresentar um verso tosco:
Talvez seja demais um novo enrosco.;
Talvez seja um sintoma de imprudência.
O brilho que eu quisera nunca fosco,
Na luz dum verso feito com ciência,
Virá p’ra demonstrar ambivalência,
Que o mau há de ser bom, se for conosco.
Montado o jogo rústico da trova,
Na brevidade simples do soneto,
O médium toda rima desencova
E torna bem mais branco o que era preto:
Assunto de esplendor que se renova,
Um tema subalterno que acometo.
163. Chegou minha vez
— Pretendo concluir minha poesia
Deixando um rastro bom de muita paz.
Não sei se, no ditado, alguém perfaz
As regras que me obrigam neste dia.
Assim pensava o moço, um bom rapaz
Que foi chamado aqui p’ra melodia,
Sabendo que o melhor de si daria
Mas vendo ser pequeno o seu carcás.
Seu arco até que tinha dimensão.;
A corda estava rija e bem untada.;
O alvo punha medo na escansão
Mas não tremia o pulso, um quase nada.;
O mestre só lhe deu fraco empurrão...
E disparou a flecha: o bem lhe agrada...
164. Verdadeira modéstia
Não trago muita fé neste trabalho,
Porque não tenho luzes para tanto.
Quisera demonstrar com este canto
O quanto dou no ferro com meu malho.
Aí, irão dizer que não me encanto,
Porque só me limito ao quebra-galho
Dum texto não polido, que achincalho
Apenas p’ra que pensem que sou santo.
É tudo quanto tenho o que apresento,
Embora o resultado seja bom,
Que o verso que se faz dentro do acento
É tão melodioso quanto o são
Aqueles dum poeta luculento,
Que traz para o poema nobre dom.
165. Não mereço castigo?...
Espero que meu verso não fracasse,
Porquanto este meu tempo é tão precioso.
Se nada conseguir, falta-me o gozo
De ter aproveitado um rico passe.
Por pretender fugir muito fogoso,
Fazendo um verso fraco, vil, fugace,
Prevejo muito bem que, neste enlace,
Já vou perdendo a luta, inamistoso.
Mas que posso dizer que não conheça
Aquele que me lê tão desatento,
Pedindo p’ro meu texto não esqueça
Que a rima me prendeu e não lamento?!...
Pois tudo quanto trago na cabeça
Repasso mui feliz... no pensamento...
166. Farfalham as lembranças
Felizes borboletas pelo ar
Colorem a paisagem cá do etéreo.;
O pobre que lhe escreve fica sério
E sente o muito medo de falhar.
Mas vejo nesse vôo o refrigério
De quem mui pelejou neste lugar,
Querendo um belo verso vir rimar,
Já longe do terror do cemitério.
Misturo sensações em descompasso,
Alegres sofrimentos de entrevero,
Que o tema da poesia que repasso
Não pode dizer nada em exagero:
Colorem borboletas este espaço,
Lembrança a farfalhar sem desespero.
167. Saindo da penumbra
Preciso contemplar um pôr-do-sol,
Pois saio desta esfera tão escura.
O dia, um tal clarão, não me assegura
Que pude até jogar bom futebol.
Agora é que batalho a mente impura,
Pensando nestas rimas de arrebol,
A vista encalacrada por terçol,
A ver se cumpro aqui a nobre jura.
Que foi que o mestre amigo me pediu?
Apenas um soneto muito honesto.
Ao longe me parece ouvir piopio,
Tal ave a me dizer que inda não presto.
Se o canto desse pássaro se ouviu,
Melhor é me calar, que o mais é resto...
168. Como em confessionário
Preciso confessar que estou sozinho
Na luta contra o medo de falir.
O mestre faz-me ver o devenir,
Mas sinto que estou longe do caminho.
No entanto, faço força e o progredir
É coisa que prometo com carinho
Ao pobre coração, que eu não mesquinho,
Conforme testemunha o Wladimir.
As vibrações de amor que aqui registro
Me fazem muito bem e me confortam:
Esqueço o pensamento vil, sinistro,
E penso só nos dons que me transportam.
A trova é pouca coisa e eu me ministro
A sova que mereço e que me exortam.
169. Condição atual
Estive aqui perdido para a trova,
Mas meu bom professor me deu ajuda
E disse que o pior é ter graúda
A dívida do mundo, que renova.
Eu quero que minh’alma não se iluda,
Pensando ser a rima rica e nova:
O verso, quando é mau, recebe a sova
De alguém a nos gritar: — Você: caluda!
Aí, esta jornada titubeia,
A coisa vai ficando muito feia
E o tema, a desandar, promete pouco.
Pedir perdão não vou após sofrer,
Que o verso aqui disponho com prazer,
Conquanto a idéia passe de estar louco...
170. A gente faz o que pode
Não posso arrepender-me por ter vindo,
Embora este meu verso seja pobre.
Também lhe peço, amigo, não me cobre
Um verso muito bom ou muito lindo.
Por mais que o pensamento se desdobre,
O rumo desta trova vai saindo
Do tema cá do etéreo, quase infindo,
Do amor, um sentimento rico e nobre.
Recurso universal: cito Jesus
E ponho nesta rima sua luz,
Livrando-me da pecha de inferior.;
Mas, como resta um ranço de ironia,
Preciso completar minha poesia,
Pedindo o seu perdão ao meu compor.
171. Com alguma sabedoria
A bola já não passo com destreza,
Que o jogo aqui no etéreo é mais sutil:
No mundo, a correria estava a mil.;
No etéreo, o nosso orgulho é vã proeza.
Deixei os companheiros já senil
Mas logo vim postar-me junto à mesa,
Talvez nimbado, sim, mas da surpresa,
Pois tal deferimento é mui gentil.
Desejo agradecer aos mestres meus
Por tanta cortesia e confiança,
Pedindo-lhes a bênção neste adeus,
Que o tempo de volver veloz avança.;
E peço ao povo todo que o bom Deus
Acenda a luz do amor que o verso alcança.
172. Apenas bem intencionado
Proponho-lhe uma troca, caro amigo:
Que venha para cá, para escrever
Poemas que demonstrem seu poder
De dar aos mestres meus o seu castigo.
Assim, se demostrar seu bem-querer,
Em versos que eu não trago aqui comigo,
Lhe juro, para breve, que me obrigo
A dar bem mais de mim, como dever.
Bem sei que este incitar vai ser aceito,
Um dia, cá no etéreo, pois a vida
Termina para todos de tal jeito
Que leva a refletir a quem duvida
De que jamais será um ser eleito,
Que os versos lhe parecem rude lida.
173. Assaz devagar
Termino a minha etapa na poesia,
Pois sou requisitado a outro mister.;
Mas tenho de afirmar que, se puder,
Virei p’ra prosseguir, num outro dia.
Estando a ruminar um bem qualquer,
Depois de versejar em harmonia,
Eu penso em revelar minha alegria
Na forma habitual, se Deus quiser.
Assim, este soneto põe um fim
Apenas numa fase não tão pura,
Que o clima desta mente está ruim.
Depois de trabalhar, o vate jura
Que quer voltar a ser, dentro de mim,
Um simples servidor que o bem procura.
174. Em paz, talvez...
O estilo destes versos, sempre igual,
Não causa dissabor ao escrevente:
Sabendo o que escrever, ele bem sente
Que o tema tem seu fluxo natural.
Mas, quando ocorre a rima altiloqüente
De um vate mais artista e coisa e tal,
Começa a suar frio, a passar mal,
Pensando no fragor de um som potente.
Perfeitamente cônscio é responsável:
Desfaz-se das amarras do egoísmo,
Querendo tão-somente ser amável,
Ouvindo os sons internos do truísmo:
Formulação gentil de um vate estável,
Que quer fazer-se ouvir... de fundo abismo...
175. Em cinco minutos
Agora eu me apertei para a poesia,
Que o tempo é muito pouco para o verso.
Assim é que este som soa perverso.;
Assim é que falseio a melodia.
Mas vou pensar que estou no mar imerso
Dos sentimentos bons deste meu dia,
E vou compor a trova que faria,
Se me sobrasse o tempo do universo.
É bom vir tão depressa até o final,
Ainda que o sucesso se conturbe.
Ocorre que este tema é bom fanal,
Para pregar ao povo desta urbe:
O bem que aqui fazemos cobre o mal
E não permite ao médium se perturbe.
176. A chave é de ouro
Destaco um pensamento generoso
E tento colocá-lo na poesia,
Mas, como é muito pobre a melodia,
Não sinto em vir fazê-la nenhum gozo.
Assim, melhor aqui qualquer faria
Se solfejasse a rima mais vaidoso,
Na busca de florear, bem glamouroso,
Os termos mais supimpas de hoje em dia.
O pensamento queda já no olvido
E o sentimento aqui se põe mais triste.
Bem sei que chego ao fim mas mui duvido
Que deva recolher meu dedo em riste:
Um verso só bastava a dar sentido
Ao bem do amor, se o bardo ao mal resiste.
177. Pensando na modéstia dos anjos
Retalhos de lembranças dessa vida
Sustentam-me, no etéreo, em harmonia:
Vontade de escrever bela poesia.;
Desejo de mostrar que o bem convida.
Mas tudo quanto faço alguém faria
Em rima mais supimpa guarnecida
De sentimentos d’alma promovida
A esferas superiores de energia.
Mas vou levando a trova mesmo assim,
Sabendo que não tenho p’ro trabalho
Pendor que reputasse mui ruim.;
Senão cá não teria este agasalho,
Que o Mestre confiou também a mim
Um bem de amor, de luz, que agora espalho.
178. Carraspana sem trauma
Preciso aliviar as minhas penas,
Orando pelos pobres que padecem,
Pois sei que os sofrimentos enfraquecem,
Deixando o povo em dores mais amenas.
Pedir aos que, por birra, não me esquecem,
Para deixar-me andar pelas serenas
E ricas regiões, ao som de avenas,
Talvez, nesta poesia, os males cessem.
O cumprimento destas leis do amor
Exige a cada um bom sacrifício,
Porquanto a paz alguém deve compor,
Para evitar da guerra o seu bulício.;
E neste bom momento é superior
O intento de dizer um não ao vício.
179. Linguagem figurada
Ativo o meu passado e já reviro
Os tempos de estudante aí na Terra:
Folgava toda vez que estava em guerra
E punha muita fé em cada tiro.
A guerra a que, porém, eu me refiro
Não era a que perigo e mal encerra:
Eu pelejava, sim, e a rima emperra,
Porquanto na consciência o verso miro.
Mas tudo se acabou tão de repente,
Que o cérebro espalhei pela calçada:
Atropelado fui, em meio à gente
Que protestava, então, por quase nada,
Um prato de comida fria ou quente,
Enquanto a minha vida era estragada.
180. Ouça-me, apenas...
A forma pela qual faço a poesia
Eleva-me a esperança do perfeito:
Bem sei que falta muito a ser eleito,
Mas sei que vou reger a melodia.
Por isso é que trabalho e tudo aceito
Que os mestres cá me pedem todo dia.
Preciso conformar-me, todavia,
Pois vejo quanto falho em meu trejeito.
Assim deve fazer o meu leitor,
Sem dar mais atenção à pobre rima,
Que tudo se concentra em puro amor,
Na busca de colher a sua estima,
Orando pelas bênçãos do Senhor,
Pedindo por mais luz um passo acima.
181. Fazendo o possível
Cuido dos meus versos neste dia,
Conforme determina o meu patrão,
Mas sei que muito poucos haverão
De ler e de gostar desta poesia.
Retranco as dores mal no coração,
Fazendo perceber falsa alegria,
Nas rimas, que melhor alguém faria,
Pedindo por amor e por perdão.
O dia vai correndo e já termina,
Espécie de bulício que desperta
Para as lembranças minhas de menina,
Folgando na calçada, em hora incerta,
Que o tempo não tem hora quando ensina
Que o bem é luz de Deus, em porta aberta.
182. Notícias do além
Quando foi que nós falhamos com você,
Caro amigo, que nos lê, com atenção?
Ponha fé, ponha esperança, esteja à mão,
P’ra aceitar bem mais trabalho, na turnê.
No compasso do improviso da escansão,
Nós podemos tão-somente um á-bê-cê
Destas rimas, que se fazem só porque
Noticiamos os serviços que virão.
Todo o povo a perguntar se põe aflito.;
Quer saber se o compromisso é p’ra valer,
P’ra chegar muito mais perto do infinito:
— Vou passar na provação deste poder,
Porque ler é diferente e não me agito.;
Mas compor vai exigir mais bem-querer?!...
183. Uma dificuldade dos versos
Caminho pelas sendas da poesia,
Sabendo que periga a minha sorte,
Pois devo assinalar qual é o norte
A quem vier a ler-me a melodia.
E, se falhar, é triste ver o corte
Que o mestre há de fazer, como em sangria,
Porquanto escorre a seiva que daria
Mais dor e sofrimento e mesmo a morte...
Responsabilidade é de rigor
Na esteira destas águas que percorro,
Pois devo respeitar deste compor
As normas mais sutis do bom socorro,
Que exige dos poetas muito amor:
Um pano bem cortado e rico forro.
184. Quando a poesia é essencial
Estendo a mão e agarro com firmeza
O tempo que disponho p’ra poesia:
Talvez não seja boa a melodia,
Mas sentiria a falta desta mesa.
Se não comparecer aqui um dia,
Terei de rascunhar com mais beleza,
Porque minh’alma vai sentir-se presa
Das emoções da angústia em que vivia.
Querido companheiro que me lê
Pensando ser mui fácil versejar,
Que o tempo deste vate está à mercê,
Tendo em reserva sempre um bom lugar,
Aguarde que se chame por você,
Para viver o amor em doce lar.
185. Refletir faz bem
Preciso reagir contra a preguiça,
Mistério de minh’alma nesta plaga:
Cheguei muito cansada dessa saga
Que representa a vida, em rude liça.
Mas a recordação jamais se apaga
De tudo quanto fiz, que agora atiça
O fogo do sofrer, que o bem se enliça
E o mal se põe de pé e me azorraga.
Na Terra fui mesquinha e egoísta.;
Agora peno a dor deste castigo,
Querendo o coração que mais invista
No bem-querer alheio, e não comigo,
Pensando em retornar mais altruísta,
A dar conforto à gente em doce abrigo.
186. Meio sem jeito
Não tenho muito tempo para as rimas,
Por isso qualquer coisa que aqui faça
Precisa se encontrar com quem repassa
As tímidas poesias doutros climas.
Se fosse dizer tudo, é só desgraça
Que trago para os versos, obras-primas
Da dor, do sofrimento, que lastimas,
Ó tu que pões amor na tua taça.
Pretendo atenuar tanta rudeza,
Que o belo também vem para esta mesa,
Premissa de esplendor, de paz, de luz.
A prece que me ocorre aqui fazer
Talvez não dê ao canto um só prazer,
Mas vai lembrar por certo de Jesus.
187. Repensando a vida
Preciso dar prazer ao meu leitor
Nos textos que aqui trago com afeto.
Nem sempre o sentimento é tão completo
Que possa me ensejar um bom compor.
Se sinto as amarguras, logo veto
O resultado triste e sem valor.
Por que compartilhar a minha dor,
Se existe muito amor em quem marreto?
Por isso o texto sai com muitos trincos,
Promessa simplesmente de poesia:
As rimas eu queria como uns brincos,
O mais vem com ressalvas, todavia.;
Às vezes, nossas roupas trazem vincos
Que fazem com que tenham harmonia.
188. Sentimentos antigos
Diretriz de Jesus, o nosso amor
Não pode limitar-se, simplesmente:
A todos deve dar-se, pois se sente
Que é dando que crescemos em valor.
Aquele que vem ler, indiferente,
Sem dar de si, também não vai compor
A trova que nos quer superior,
Embora este sofrer mui pouco agüente.
Precisa equilibrar com alma pura
Os fatos da emoção que nos invade,
Para mostrar na rima, que perdura,
Aquele afeto que nos traz saudade
Dos tempos em que dávamos a jura
De eterno amor a quem o amor agrade.
189. Movimento pendular
Queria descansar só um pouquinho
Das tristes, infelizes condições,
Mas tenho de aturar os meus sermões,
Por ter-me desviado do caminho.
Reflete esta poesia os tais senões
Com que marquei a vida sem carinho,
Porquanto hoje não sei, mas adivinho,
Quão pobres são as rimas e escansões.
No entanto, esta lição contém amor,
Pois quero trabalhar já sem descanso,
Ao ver que sou capaz de aqui compor,
A demonstrar ao povo este balanço
Do mal que vem p’ra bem, se superior
O sentimento d’alma que hoje alcanço.
190. Trabalho insano
Desconfia o leitor que exista fraude
Nos textos que ditamos todo dia?
Por que tanto trabalho eu me daria,
Se sei que ser mui vil ninguém aplaude?
Não posso compreender que esta poesia
Eu venha aqui ditar, sendo debalde
A rima que se sabe de arrabalde,
Bem longe dos processos da harmonia.
A graça que se estima e que se pede
A rir tão desbragado nunca cede,
Que é luz que se requer do mensageiro.
E, quando existem sombras, simplesmente,
A mente dessa gente um pouco sente
Que se enredou nos males que faceiro.
191. Ao futuro a confiança
Sossega, coração, e põe-te atento,
Pois logo chego ao fim desta poesia.
Eu posso suspender a melodia,
Mas creio bem melhor dar-lhe sustento.
Não posso equilibrar esta harmonia,
Se tenho de ditar cada argumento.
É justo aqui, portanto, este tormento,
Que o tempo se retrai, sem alegria.
Depois, aqui virei para emendar
O que tiver ficado para trás,
Que o texto que me importa, neste lar,
Registro com minh’alma toda em paz.
A rima está bem longe de exemplar:
O pensamento é tudo e sou capaz.
192. Silêncio em expansão
Serena, coração, e põe-te atento,
Pois Deus te vai pedir p’ra que trabalhes.
Não quero, em sã consciência, que tu falhes,
Por isso, aquieta agora o sentimento.
O teste verdadeiro é que agasalhes
A dor do teu irmão, que a minha agüento.;
E batas, compassado e sem tormento,
Que a fé é de rigor: não são detalhes.
Um dia, irás sorrir perante a vida,
Que a morte é só passagem sem valor:
É triste, quando jovem, a partida,
O cosmo irá querer, porém, compor
A sorte que te cabe, e resolvida
A rima há de ficar, em puro amor.
193. Diga: Presente!
Periga, neste verso, a pobre rima,
Que não revela os sonhos de minh’alma,
Mas meu futuro em leque já se espalma,
A revelar que o Pai também me estima.
Então, devo trazer a trova em calma,
Pois tudo quanto verso mais me anima.
Que a troca de sentido não se exprima,
Para fazer notar que o verso ensalma.
O lucro é compromisso que me assume,
Postura de bondade que se espraia,
Que o bem do amor na rima se resume.
Enquanto o pensamento a trova vaia,
O sentimento vem mostrar-se a lume
E a prece, que me agrada, não desmaia.
194. Pense nisto!
Permito que me afoguem de trabalho,
Se posso aqui trazer tantas idéias,
Pois uma só função, lá nas colméias,
Daria para uns versos, se não falho.
São muitos os assuntos de assembléias
Em que devo pensar, sem quebra-galho,
Que o mestre me castiga no borralho,
Sem dons de hoje criar prosopopéias.
É forte esta denúncia que aqui faço,
Se o gajo tem buscado a sutileza
De ver em tudo amor, nenhum bagaço,
Que a rima que disponho sobre a mesa
Também revela a dor no rim, no baço,
Se tudo na memória é só tristeza.
195. Confiteor
Preciso compreender que esta poesia
Talvez não tenha crédito, afinal.;
Embora a dissipar pretenda o mal,
Não chega a concluir em harmonia.
Então, vou reservar p’ra meu fanal,
Pois sei que vou voltar um belo dia
A ver se sou capaz e se faria
Um verso bem melhor e coisa e tal...
O máximo de agora é simplesmente
A tentativa justa que me empolga
A ponto de deixar-me mui contente,
Pois sei aproveitar-me desta folga
Para mostrar ao povo alguém que sente
O bem que por castigo o vate amolga.
196. Os últimos e os primeiros
Questão a resolver, grave problema,
O tema dos meus versos para o dia.
Talvez melhor o vate se daria,
Se apenas cá dissesse: — Nunca tema!
A doce condição desta harmonia
Virá p’ra demonstrar a luz suprema
De quem mantém a fé.; o mal algema,
Curando-se da dor, sem nostalgia.
Agora falta pouco para a vida
Chegar aos compromissos derradeiros,
Pois tudo quanto faça, alma querida,
Terá de dedicar aos companheiros.
Do mundo irá trazer somente a lida:
O mais são sonhos só... e dos primeiros...
197. O pensamento é bom
Pretendo progredir durante a vida
E mais, ao retornar cheio de amores:
São vãos os meus desejos superiores,
Se não cumprir com zelo a boa lida.
Preciso obedecer aos meus mentores,
Que pedem atenção, que o bem convida
A tudo compartir, sem dar guarida
Aos tristes infortúnios destas dores.
Ocorre que o meu verso segue em frente,
Mas tenho esta saudade a me prender
A fatos do passado em que se sente
Que fui deixar p’ra trás o meu dever.
A trova até que sai fluentemente.;
A prece é que se emperra ao meu poder.
198. Aprendendo a orar
Não posso arredar pé de junto à mesa,
Enquanto não ditar o meu poema.
Bem sei que é muito pouco, mas me algema
Ao compromisso santo da beleza.
Um cheiro mui suave de alfazema
Desprender da trova é tal proeza
Que eu peço ao meu leitor a gentileza
De pôr, no coração, a paz suprema.
Assim, quando rezar por mim, não meça
As emoções do amor, que o bem reluz,
Nem tenha o meu irmão nenhuma pressa,
Que um dia há de chegar em que tal cruz
Irá ficar p’ra trás, que é bom à beça
Saudar ao Pai no céu, como Jesus.
199. Ainda a prece
Eu peço ao Pai do céu que sempre ajude
A quem nunca se lembre de rezar.
Existe muita gente sem um lar?!...
Então, eu também peço que isso mude.
Bem sei que a minha prece é singular:
Recito dentro d’alma, em sã quietude,
Pois sinto a doce paz mais amiúde,
Felicidade e amor, num só lugar.
Jesus me ampare agora, pois sufoco,
Sentindo que preciso desfazer
As dores que desfilam no meu bloco,
Sagrado compromisso de um dever,
Pois, sem certo equilíbrio, eu me equivoco
E escondo a chave de ouro em meu poder...
200. Nos limites da compreensão
Não nego que me sinto preocupada,
Pois devo imaginar que o meu leitor
Exija de quem venha aqui compor
Que faça uma poesia e persuada.
Não basta só dizer que sinto amor,
Que o mal no coração é quase nada:
Preciso dar avisos, que a jornada
Terá de prosseguir com mais ardor.
Então, faço o que posso e me arrependo
De haver desconfiado fracassar,
Pois tudo quanto dou de mais horrendo
Ainda vai causar um bem-estar,
Que o mundo para o qual estou vivendo
É simples agasalho do meu lar.
201. Uma questão fundamental
Não quero aborrecer mais o meu médium,
Que tenta estimular-me p’ro trabalho.
Ocorre que não quero um quebra-galho
Nem quero, p’ro refrão, nenhum remédio.
Não posso aqui, porém, sem agasalho,
Deixar o bom amigo ao livre assédio
De quem vem à procura de intermédio,
Apenas p’ra mostrar seu espantalho.
Então, peço ao leitor que bem reflita
Respeito destes temas que aqui trago:
A prosa destes textos mais restrita
Não tem como causar nenhum estrago,
Se n’alma refletir a fé bendita,
Que eu quero demonstrar em doce afago.
202. Rude argumento
Senhor, venho pedir-lhe aqui, de novo,
Por toda criatura constrangida,
Que, tendo arruinado a pobre vida,
Agora não tem voz perante o povo.
Se bem analisar nossa ferida,
Verá, Senhor, que o verso é bom renovo,
Que os males que eu guardava em poço covo
Afloram desta vez, se amor convida.
Então, transformo a dor, a dar-lhe luz,
Que veja em pleno dia os olhos meus,
Cansados de chorar sob tal cruz,
Querendo o coração lhe dar adeus:
Que a levem para longe as de Jesus.;
Que a bênção dessa paz venha de Deus.
203. Até o verso treme
A dúvida que trago dentro ao peito
Retrata fielmente a minha vida:
Um dia fui pensar e dei guarida
A pensamentos tolos, sem respeito.
Em vez de registrar que a dura lida
Devia ter seqüência e o mal aceito,
Lutei contra o destino de tal jeito
Que terminei em pó, em fel, vencida.
Somente cá no etéreo compreendi
O quanto a minha dor foi importante.;
E mais devera ter sofrido ali,
Calada e mais atenta, pois garante
Uma consciência lúcida ao sufi
Que o Pai sempre o recebe mais adiante.
204. Por linhas tortas
Não devo lamentar o desperdício
Do tempo que aqui levo a versejar:
Embora nada traga de exemplar,
Ao menos não dedico tempo ao vício.
Também pode ocorrer, neste lugar,
A inspiração do vate, este estrupício,
Que o tema há de causar algum bulício
No coração de alguém, não por azar.
Existe cá no mundo tanta gente
Que, seja, embora, a trova muito feia,
Irá chegar a muitos tão-somente
Como exercício rústico que ateia
Mais fogo nesta lenha em que se sente
Que o Pai escreve certo e não campeia.
205. Lá e cá
A morte que convém ao ser humano
Prescinde de um sofrer desesperado,
Se o gajo, nessa vida, de seu lado,
Tiver cumprido o bem, sem causar dano.
Eu mesma aqui cheguei em desagrado,
Porque de muito pouco hoje me ufano.;
Então, desejo ver subir o pano
Dum novo compromisso em que translado.
Voltar ao campo etéreo é bem mais fácil
Do que reencarnar em corpo denso.
Difícil é chegar aqui mais grácil.;
Na Terra, a criancinha é mais gentil,
Enquanto n’alma o gajo diz: Eu penso
Que hei de cuidar melhor do meu perfil...
206. Versos agudos e fechados
Dedico este soneto ao meu amigo
Que quer desafiar os próprios vícios.
Então, devo dizer que os benefícios
Se estenderão a todos que fustigo.
Um dia, irão dizer que os tais cilícios,
Que lembrarão o dia do castigo,
Também reconheceram cá comigo,
Porquanto hão de fazer bons exercícios.
Se a casa pegar fogo, que fazer?
O corpo de bombeiros vem, p’ra isso,
Cumprir, então, o justo e bom dever.
É simples notação de compromisso:
Os mestres hão de ter esse poder
De me empurrar a rima, enquanto enguiço...
207. Alegria perniciosa
A fé que sinto em mim corresponder
Às ânsias deste irmão que me socorre
É como quando em vida, em pleno porre,
Cumpria da amizade o bom dever.
O mais pairava ao longe e o corre-corre
De quem lutava tanto por viver
Não perturbava o nosso bem-querer,
Pois tudo nessa vida um dia morre.
Agora que o contrário é que me adeja,
Que o bem está voltado para mim,
Faz mal beber um copo de cerveja,
Pois álcool é u’a mistura mui ruim,
Enquanto esta alegria o bem almeja,
Que o bom é desfrutar o amor no fim.
208. Uma lição do avesso
Liberta dos grilhões, eu sinto a vida
Pesar-me estranhamente na consciência,
Mal algo aqui me diz: — Tenha paciência
Que Deus vai fornecer-lhe uma guarida.
Então, tudo se põe como ciência,
O sentimento até de estar ferida,
Que é lógico que a fé provém da lida
Que obriga cada irmão, nesta existência.
O pensamento é tudo.; o mais é nada:
Mas, para aqui pensar, haja equilíbrio,
Que amor se deve dar, pois arrecada
O bem maior, felicidade e pranto
Por desfazer da mente o vil ludíbrio
Que nos manteve presa ao seu encanto.
209. Manuscrito
— Contento-me com pouco! — é o que dizia
Ao bom amigo meu que aqui escreve.
Então, vim lhe pedir que pegue leve,
Que o texto, desta vez, não tem poesia.
Se o gajo quer parar, não sei se deve,
Embora aquela tela esteja fria.
Mas como tudo acaba em harmonia,
O grupo quer que a trova hoje releve.
Por isso o meu assunto é desta hora,
Problema p’ra mais tarde resolver.
No entanto, se houver perda, o vate chora,
Porque tentou cumprir com seu dever:
Escreve o bom amigo e vai embora.;
Mas eu fico a sentir seu bem-querer.
210. Com um dia de preparação
Não posso acostumar-me com as trovas
Que invento nesta hora, junto à mesa:
Eu sei que se admira tal proeza,
Mas sei também que tu, leitor, reprovas.
O bom é versejar com mais beleza,
Dizendo as coisas velhas como novas:
Castigos de poeta viram sovas,
Se o linguajar perder sua pureza.
Não brinco, quando a luz quer se apagar,
E salvo, verso a verso, no momento,
Que é duro repetir mais devagar
O que, quando produzo, não lamento,
Que a forma ganha muito neste lar.;
É bom o conteúdo e o sentimento.
211. Prestando contas
Não devo desejar ferir ninguém
Nas rimas que aqui faço tão sentida,
No entanto, ao demonstrar a minha vida,
Aposto que eu magôo mais de cem.
Porque não terminei vendo cumprida
A sina que marquei para o vaivém,
Eu hoje vejo a estrada e sei que tem
A indicação segura que elucida.
Por isso, aqui lhe peço, bom leitor,
Que me perdoe sempre o vil enguiço,
Pois tenho de aceitar este compor,
P’ra refletir que agora o compromisso
Se espalha pelas mentes com amor,
Porquanto a rima é mais que um bom serviço.
212. Experimentando a pena
Não quero tomar parte da mentira
De um texto superior, se sou tão pobre:
Espero que este sino só redobre
Na estética do amor a que se aspira.
Então, que o meu leitor apenas cobre
O que lhe prometi e tenho em mira,
Ou seja, aqui trazer-lhe, em breve tira,
A paz interior e o mais que sobre.
Também posso rezar por meu irmão
Que não consiga ler nenhum dos versos,
Pois só por escrever não é que irão
Os vates cá do etéreo ser maldosos,
Que os sons, além da luz, só são perversos,
Se impedem que melhorem nossos gozos.
213. Bem simples
Falece-me a vontade de escrever,
Mas tenho de cumprir a obrigação:
Ainda que esta rima seja em –ão,
O trato é demonstrar só bem-querer.
Por isso, vou chamar de meu irmão
A quem a este soneto se atrever,
Abrindo o livro e tendo tal poder
Que os termos logo ajustam na escansão.
Ainda, em sendo pouca a sua ajuda,
Não negue a quem precisa desta lavra
O benefício ao bem a que se aluda.
Quem tem alguma coisa para dar,
Um mínimo que seja, uma palavra,
Componha, com amor, algo exemplar.
214. As palavras repercutem
Não quero permitir que falhe ainda
O intento de mostrar que a rima é boa,
Mas tudo quanto escrevo não ressoa,
Conforme a trova que julguei mais linda.
Então, o professor me diz que à toa
O sentimento, quando é bom, não finda
No esquema destas rimas, mas deslinda
Que o verso traz do amor quanto apregoa.
Mas deve o vate apenas compreender
Que tem de vir à mesa co’a esperança
De transferir à trova o bem-querer,
Que alguém, na Terra, a luz em paz alcança,
Que o pensamento tem tanto poder
Pois, simples seja o verso, e a dor descansa.
215. Resguardando o fôlego
Instiga-me este médium a dizer
Que tenho desejado escrever mais,
Mas um soneto só me satisfaz,
Pois, para eu ir além, falta poder.
Então, este improviso vai valer
P’ra fomentar idéias no rapaz,
Julgando que este vate é mui capaz
E que o fazer tão pouco é bem-querer.
É grande o seu cansaço, ó meu amigo,
E o meu, por trabalhar o dia inteiro.
Assim, fique contente hoje comigo,
Que apenas uns minutos lhe requeiro.
Deixei o meu leitor correr perigo?
Então, que me perdoe o bom parceiro.
216. Olhando para o alto
Não tiro o pensamento em ser melhor
Para fazer o bem para as pessoas:
Se as rimas que aqui trago não são boas,
Ao menos, vou dizer que as sei de cor.
O sentimento teu no ar ressoas,
Ó coração fiel, que, ao derredor,
Envias vibrações do amor maior,
Sapinho a coaxar pelas lagoas.
Quisera compreender todo o infinito
E pôr no verso meu a formosura
Apenas duma estrela que hoje eu fito
E penso que apresenta a luz mais pura,
Mas ouço o verso meu e escuto um grito:
— Cuidado, caro amigo, co’a estrutura...
217. Quando vale a intenção
O tema dos sonetos não dá samba,
Porquanto a seriedade é de rigor.
Então, quando aqui venho p’ra compor,
Eu sei que o sentimento não descamba.
Mas como demonstrar o meu amor
No verso em que não dou de bom, de bamba,
Nem tenho em minha corda uma caçamba
Que possa trazer água p’ro exterior?!
Ia pensando assim e achei o tom
Desta canção de vida, em franca luta,
Pensando em não dar trela para o som,
Que surdo é quem não ouve nem escuta:
Abraço o meu amigo e mostro o dom
Apenas da vontade, na minuta...
218. Cada qual dá o que tem
Sorrio quando dou de mim ao verso
E vejo que a verdade prevalece.
Aí, faço questão de bela prece,
Porquanto estou no amor também imerso.
A tal pujança, enfim, desaparece
E o tema, que abrangia este universo,
Reduz-se a um soneto mui perverso,
Um fruto, simplesmente, desta messe.
Ocorre que minh’alma é muito pobre
E a rima que componho sai mesquinha:
O riso tão alegre os sons não cobre
E o pranto que ameaça se avizinha.
Então, rezo de novo, que redobre
O amor que pela trova se mantinha.
219. Que bom que vocês existem!
Não trago uma só flor do meu jardim,
Que aquelas que aqui colho são mais belas:
São brancas, são vermelhas e amarelas,
Que espalho junto aos pés, em torno a mim.
Por isso, sou feliz, que as arandelas
Se acendem tão festivas, em carmim,
Azul celeste e verde, num sem fim
De luzes radiosas, como estrelas.
Não vou voltar, porém, ao meu tugúrio,
Tão lúgubre da dor que me atormenta,
Pois levarei comigo um lindo antúrio,
Lembrança imorredoura que me alenta,
Sabendo desde já que meu murmúrio
É simples como a prece que aviventa.
Rute.
220. Todo amor é lindo
Os flocos de algodão, no ar dispersos,
Buscavam bom terreno onde hibernar.;
A mim me parecia que era um lar
Que cada qual formava, em lindos versos.
Por isso me atrevi, neste lugar,
A dar uma noção dos dons perversos
Que tento restaurar, estando imersos
Em lúgubres sazões, de par em par.
Preciso, pois, vencer minha ruindade,
Ao menos nestas linhas do soneto,
Pedindo ao bom leitor que não se enfade,
Se o tema, que era branco, ficar preto:
Sementes de algodão, tão-só, verdade,
Um dia brotarão, eu lhe prometo!
Rute.
221. Do bom e do pior
Preciso controlar minha vontade,
Pois meu desejo é sempre bem profundo:
Quisera conquistar etéreo e mundo,
Que o verso, quando é bom, mais persuade.
Mas, antes, vou vencer este iracundo
Quarteto, que se põe sem propriedade,
Que a luta pelo bem minh’alma invade.;
Preciso de um tempinho, um só segundo.
Pois esse é o meu problema junto à rima,
Que o verso bem que sai e até se ajusta
Às normas desta métrica que intima.
O tema é que confunde e que mais custa:
O fulcro do compor uma obra-prima
Resulta mui confuso.; e o vate assusta...
222. Espelhe-se nos versos
Não quero perturbar com minha dor
A paz do bom amigo que me lê.;
Mas seja o meu recurso ter você
Apenas por juiz deste compor.
Então, posso supor que alguém me vê
Segundo um prisma altíssimo de amor,
Imaginando a prece superior
Com que vai dar-me apoio, sem porquê.
Disfarço a hipocrisia nesta rima,
Sabendo estar mui longe de obra-prima
A sugestão claríssima da prece.
É que preciso tanto dessa ajuda,
Que peço, na poesia, que me acuda
Alguém que ponha fé nesta quermesse.
223. Valiosas informações
Redijo simplesmente este poema,
Por força da lição que recebi.
Então, penso na rima a pôr aqui,
Julgando resolver bem o problema.
Mas que lição darei, se não senti
Estímulo nenhum de forma extrema?
Aí, peço perdão, antes que trema,
Que o tempo há de ser útil para si.
O meu não desperdiço nesta trova,
Não mais do que passei dentro da cova
A ruminar maneiras de vencer.
Mas, no trabalho, achei o meu remédio,
P’ra superar de vez tremendo tédio:
Então vou reformar o meu dever....
224. Preste muita atenção
Um dia, eu me encontrei perto do fim,
Na estrada duma vida atribulada:
Não tinha realizado quase nada,
Mas tinha alto conceito até de mim.
Em sonho, é que me vi desafiada,
Dizendo o protetor ser bem ruim
A sorte destinada e, mesmo assim,
Me pus a rir, tão tola e malcriada.
Aqui cheguei em prantos, pois o medo
Cresceu quando me vi tão desprovida
Daqueles bons recursos, onde o enredo
Ali formava eu sempre, dando vida,
Às coisas desta mente que, em segredo,
Pensava estar fazendo. — Alguém duvida?...
225. Lute, mas não fira
Estou muito segura do futuro,
Mas sei que vou sofrer porque falhei.;
Assim é que pergunto à minha grei,
Quando terei o coração mais puro.
A vida terminou, mas eu não sei
Por que fui transtornar o bem, eu juro:
Pensando ser ativa, eu dei um duro,
Querendo transformar a velha lei.
Mas penso que a intenção estava certa.;
Os métodos que usei é que entravaram
Os gonzos desta porta agora aberta,
Depois que o mestre meu me fez saber
Que respeitar é máxima que encaram
Os que querem mudar, p’ra ter poder.
226. O resultado é sempre dúbio
Procuro refazer o meu passado,
Mas a memória é fraca e bem ruim.
Talvez seja preciso para mim
Que alguém bem mais esperto fique ao lado.
Bem sei por que a este posto eu hoje vim:
P’ra demonstrar que a luta traz agrado
A quem não vai dizer: — Hoje me enfado
Pois nada vou fazer. Não é assim.
Talvez este soneto traga a marca
De alguém que pende muito p’ra fuzarca
E, alegre, quer matar o compromisso.
Mas, no fundo do texto, resta o pranto
Do vate que pretende ter encanto,
Mas que não tem como prestar serviço.
227. Com perdão da má palavra
Não posso arrepender-me do que faço,
Estando junto à mesa no ditado,
Porque seria grande o desagrado
De vir pedir perdão, num passo em falso.
Eu dei um bom exemplo deste fato,
Atravessando a rima cá do espaço,
Dizendo que o rascunho eu despedaço,
A conservar, porém, o ensino dado.
É que meus versos vão de vento em popa,
Nos meus limites, claro, que são fracos.
Talvez, quando vestir a nova roupa,
Encarnação supimpa sem os cacos
Que acrescentei na última, uma sopa
De letras e de sons, todos opacos...
228. Poesia da verdade
O som deste meu verso é muito estranho
P’ro meu ouvido agreste e tão inculto:
Pareço estar diante d’algum vulto
Que quer fazer a mim um mal tamanho.
No entanto, eu não defino como insulto,
Nem mesmo se a tal mal eu me arreganho,
Tentando dar-lhe logo um belo banho,
Porquanto, com perdão, em paz, o indulto.
Talvez meu bom leitor queira saber
O tempo que levei para escrever
Este soneto chocho e sem mistério.
Pois digo que gastei a vida toda,
Que sempre hei de aguardar que a rima ecloda
Na hora em que me vale o refrigério.
229. Fazendo uma imagem de mim
Não tenho nem idéia do que seja
Amar e desprender-se por amor.
Eu penso ter amado, mas com dor,
Insuportável dor nessa peleja.
Então, eu reneguei seja o que for
Que possa oferecer-me de bandeja
A forma mais feliz, em que craveja
A paz com toda a luz interior.
Por isso, este soneto em que lamento
A chance que perdi, levada ao vento
Dos interesses dúbios de minh’alma.
Eu quis o bem-estar e a segurança,
Pensando que esse amor a gente alcança
Apenas co’o bater de simples palma.
230. Sintomas de progresso
Estive numa fase muito boa
Em que deixei o mal bastante atrás.
Foi fase de gozar de tanta paz
Que a forma deste verso até destoa.
Eu quis fazer o bem, pobre rapaz,
Pensando a tempestade só garoa,
E vi que tanto bem não é à toa
Que exige melhoria não fugaz.
Analisando a trova, eu posso ver
Que estou a transformar o meu dever
Num bem de amor, de fé, muito oportuno.
Então, esta alegria eu passo adiante,
Dizendo que este esforço me garante
U’a medalha simples, como aluno.
231. Como não ver a trave?
Convido o meu amigo a meditar
Nos textos que produzo junto à mesa.
Não sei se mais se agrada da beleza,
Se o texto o faz lembrar outro lugar.
O máximo p’ra mim, maior proeza,
É ver o meu soneto, devagar,
Ganhar uns rudimentos de exemplar
Nas sugestões que gera tal surpresa.
Não vinga um verso torto e de trejeito,
A denunciar que o gajo mui se inflama.
Eu digo, em seu lugar: — Como suspeito
De que esta trova há de viver da fama
De quem fez nome, mas não foi eleito,
Porque demonstra aqui que só reclama.
232. Falta o nó nessas pontas
Não venho p’ra agradar ao meu leitor,
Embora aqui devesse ser cordato.;
Então, os meus problemas já desato
E quero que respeitem este autor.
Forçado eu sou a tanto espalhafato,
Nest’arte de causar certo estupor.;
Ou posso comedir-me ao vir compor,
Deixando a idéia revelar o fato.
A tese se concentra na poesia,
Ou bem na falta dela, que o resumo
É o bom leitor quem faz à luz do dia,
Que a escuridão do mal, eu já presumo,
Não tem como agradar e eu só daria...
Mas tenho de manter-me em rijo aprumo.
233. Promessa difícil de pagar
Eu vou pegar de leve, dada a hora,
Porquanto o meu amigo está com sono.
Também, desta verdade quem é dono,
Se o texto não diz nada e o gajo chora?!...
São tantas as poesias.; tal pletora
Há de causar transtornos se ambiciono
Que a minha há de ficar em abandono,
Estando entre as milhares da penhora.
Perder não posso aqui, contudo, a chance
De demonstrar que progredi no etéreo.
Ninguém hoje não há que não avance
Um pouco, a cada verso, em refrigério,
Embora o mal no bem o tal entrance,
Pedindo ao bom leitor solva o mistério.
234. Vórtice de vida
Respeito os sentimentos do meu médium
E digo-lhe que a forma não promana
De inspiração que busca a lida humana,
Senão que o mal requer que haja remédio.
Quem suspeitar de dolo mais se engana,
Que é doce o nosso dom, em meigo assédio,
Promessa que fazemos longe ao tédio
De sermos sempre iguais, na caravana.
Embora cada irmão tenha um motivo,
A turma se limita, e muito bem,
A dar, no seu recado, um lenitivo
Ao males que sabemos ser de quem,
Embora o gajo fale ao nosso ouvido:
Trabalho que não cessa.; e amor também.
235. Delimitando a força
Não peço para a trova inspiração,
Pois quero demonstrar o meu valor.
É pouco, eu sei, pois tenho de compor,
Examinando as leis desta escansão.
Se alguém notar que as rimas sei dispor
Apenas com pobreza e distração,
Consciente do final que acaba em –ão,
Talvez não sinta aí nenhuma dor.
Procuro aqui malhar bem fortemente
O ego e o superego deste vate,
A ver se meu espírito não mente
E se meu coração sem fé não bate,
Arrependido já, mas siga em frente
Que o bem é uma frutinha: uva ou tomate...
236. Vamos trabalhar, irmão!
Envolvo o pensamento em panos quentes,
Porque respeito devo ao bom leitor:
Quisera ter palavras só de amor,
Mas tudo quanto exponho tem serpentes.
Então, hás de dizer-me que o compor
Não tem razão de ser, se, inconseqüentes,
Os versos vêm pedir que tu me agüentes,
No inferno astral do medo desta dor.
O lenitivo chega em boa hora,
Na forma de poesia posta em verso,
Pois fico a relembrar Nossa Senhora
Em seu calvário, em luto tão perverso,
E assim Jesus, seu filho, que estertora,
Ali na cruz, por causa do universo.
237. Eis quanto posso
Estimo que este verso esteja certo,
Ao menos quanto à métrica e ao compasso,
Pois tudo quanto aqui de mais eu faço
É mero treinamento, em campo aberto.
Bem quis vir demonstrar que, neste espaço,
A gente também tem um mestre perto,
Mas como me atrever quando me alerto
De que basta um errinho e perco o passo?!...
Por isso, este meu medo é logo eleito
Assunto de suprema perfeição,
Que é tudo quanto tenho quando espreito
A forma de soneto da lição,
Que é curto e, quando triste, se dá jeito
De nunca ouvir do povo rude não.
238. Sepulcro caiado
Pretendo ser mui breve nesta trova,
Realizando o verso com agrado:
Não ponho o sentimento mau de lado,
Porquanto a minha dor a rima prova.
No entanto, não estou desesperado,
Que o dia me mostrou a face nova
De um velho e vil problema que se encova
No fundo da consciência, com que enfado.
Por isso, este meu verso é bom à beça,
No intento de levar ao meu leitor
Que devo analisar, quando não cessa,
O mal que faz coçar, lá no interior,
A secreção do vício, em rude peça
Que prega ao vate a trova ao vir compor.
239. O certo e o duvidoso
Acuso, atrás da porta, o sentimento
De que quero burlar do Pai a lei.
Reflito com consciência e já não sei
Se estar tão certa a idéia eu sempre agüento.
Nem todos que confessam: — Sei que errei! —
Escondem o que sentem no momento,
Arrependidos, sim, no pensamento,
E prontos a servir à sua grei.
A gente quase nunca está por perto
Daqueles que sofreram vil traição,
Mas, quando o coração se põe aberto,
O povo sabe bem qual a canção
Irá cantar o gajo, em sendo esperto,
Aliviando a dor a seu irmão.
240. Revirando a mesa
Preciso conformar-me se o destino
Reserva para mim um sofrimento.
Pior vai ser se agora me atormento,
Na pressa de tornar-me bom menino.
A fúria com que vim neste lamento,
A ponto de causar um desafino
Na lira que hoje tanjo e não domino,
Terá de sossegar meu desalento.
Talvez este contato co’a poesia
Me dê as condições de um ser pacato,
Na informação segura que eu faria
Um bom soneto aqui, pois me aclimato:
Iluminado estou, se esta alegria
Me deixa temperar de amor tal ato.
241. Diante da realidade
Importa-me saber a opinião
Do bom leitor amigo que me estima,
Mas sei que elogiar a minha rima
Não vale simplesmente, ou dizer não...
Se fosse este meu verso uma obra-prima,
Talvez servisse apenas de ilusão,
Pois pensaria assim o meu irmão:
— Quão belo é esse sentir com que se anima!
Mas, sendo pobre a trova, o compromisso
Se ajusta mais fiel a um nobre gozo
Que exige do compasso apenas viço,
Que acima defini como glorioso,
Ao lhe pedir, amigo, e agora atiço,
Que diga que gostou do joão-teimoso.
242. O soneto que me fez pensar
Não tenho muita coisa p’ra dizer
Nem o meu verso é tão desenvolvido.
Talvez eu chegue ao fim, mas já duvido
Que o tema atrairá seu bem-querer.
Falar da rima em si é bom partido,
Que o tema é conhecido p’ra valer,
Sabendo-se, contudo, que o poder
Da imagem desgastou em seu ouvido.
Mas como resolver este problema,
Sem pôr as mãos na massa da escansão,
Pedindo ao coração que nunca tema
O fato de se ouvir sonoro não
De quem sequer tentar simples poema
Se ajeite, para estima deste irmão?!...
243. Um estudo: eis tudo.
Não temo tempestade nem trovões,
Que a vida do meu lado é mais sutil,
Mas temo o sofrimento no Brasil,
Que os males lá se dão aos borbotões.
Assim, sofrer uns versos, mais de mil,
Não me parece rude aos corações.;
Tampouco o tempo gasto em tais serões
Decorrem para dano estudantil.
No entanto, se não falo da miséria,
Ao menos p’ra lembrar-me o compromisso
De que devo tornar a rima séria,
Vou parecer bem tolo e logo enguiço,
Que a trova se aproveita da matéria,
Para mostrar o etéreo com mais viço.
244. Memória não sublimada
Bato as asas, num vôo silencioso,
E venho aqui pousar para a poesia,
Enquanto, lá no alto, apetecia
Tornar a minha rima um nobre gozo.
E quando volvo à crosta, todavia,
O vôo se transforma de ditoso
Em triste realidade, já que ouso
Burlar as leis do verso que trazia.
É que é tão densa esta matéria ao sul
Do meu estágio vívido de vate,
Que até posso rimar o rei Saul
Co’a sorte que me deu seu xeque-mate,
Porquanto este horizonte, agora azul,
Um dia teve tons de chocolate.
245. Ainda bem que trova é breve
Recordo, com pesar, a minha vida,
Porquanto nada fiz de algum valor.;
Por isso, quando eu venho aqui compor,
Procuro tornar clara esta subida.
Assim, por seu aspecto exterior,
A peça que registro alguém duvida
Que traz a marca límpida da lida
Que busca por afeto e por amor?!...
Eu torno estas palavras muito minhas,
Que a luz dos mestres meus eu não reflito,
Senão este poema, em entrelinhas,
Teria bem mais força que meu grito,
E tu, meu coração, que a rima alinhas,
Terias que sofrer pelo infinito...
246. Sem fronteiras
Entrego-me à poesia e ponho em versos
Os sentimentos todos que me animam.
Assim, os bons leitores que me estimam
Hão de poder saber quão são perversos.
Aí, hão de tocar-se que me arrimam,
Com seus rogos por mim no bem imersos,
E vão saber que os temas controversos
São úteis para alguém, se amor imprimam.
Sou lúcido e mantenho em equilíbrio
As forças que me fazem terminar
O meu soneto troncho, sem ludíbrio.
Mas deixo que o leitor sinta um pouquinho
Do fel que me atormenta, pois meu lar
Ficou sem mim, sem fé e sem carinho.
247. Chuchando o médium.
Não sei se vai dar tempo p’ra poesia,
Mas com certeza os versos vão sair,
Capengas, como diz o Wladimir,
Que não deseja ouvir sem harmonia.
Se as rimas são em i, vão produzir
Um choque de audição que nos faria
Apenas vir brincar, sem, todavia,
Perder um tempo bom para o porvir.
Ocorre que este esteta é vil, careta,
Perverso nestas rimas do rascunho,
Que quer que a tal beleza comprometa
O tema, em conteúdo e testemunho
De que adiantar-se aqui só de muleta,
Que poucos têm o dom do próprio punho.
248. Quem se habilita?
“Jesus, olhe por nós, os pecadores”,
Clamamos, por sofrer desde a matéria,
Mas, se nossa intenção fosse bem séria,
Daríamos valor às próprias dores.
Iríamos bradar contra a miséria,
Aquela que enceguece os seus autores,
A gente que não sofre os dissabores,
Mantendo os miseráveis só com léria.
Mas tudo quanto pode este poeta
Há de ficar imerso sob escombros
De sentimentos vis, porque projeta,
Em ondas de estupor, os seus assombros
E leva p’ro soneto que arquiteta
A cruz, que deposita em outros ombros...
249. Com as velas pandas
Não quero pedir água ao inimigo,
Porquanto combatemos sobre o mar.;
Então, posso dizer algo exemplar
E rir, com muito agrado, aqui comigo.
E o que pensei será que um dia digo,
Achando tudo bom, em bom lugar,
Que o tema, muito embora devagar,
Atiça a compreensão deste perigo?!...
Se rir é o meu remédio predileto
Para conter as fúrias na poesia,
Então devo afirmar que hoje completo
A glosa, sem temor, sem todavia,
Que a via toda inteira é um bem discreto,
Redoma de um amor que se irradia.
250. Desejo de ser útil
Invento um metro novo e já desfaço
A trova que parece tão sem jeito,
E volto ao decassílabo, que aceito,
Modelo entre os modelos, neste espaço.
É rio sempre a correr sobre seu leito,
A desaguar, ao longe, no regaço
Do mar das ondas calmas em que passo
As tardes de escansão e de proveito.
Não é que eu tenha o dom de paz e vida,
A irradiar amor, em cada verso.;
É que este gesto meu também convida
A quem quiser progresso no universo
Que estime os tais momentos dessa lida
Em que se faz um bem em luz imerso.
251. Alma em remoinho
Imploro ao guardião que me protege
Mais luz, para compor os versos meus.;
Assim, quando termino, elevo a Deus,
Em prece, os pensamentos deste frege.
Ocorre que são tantos os sandeus
Que o mal seu coração afoito elege
Que a frase, que era azul, hoje está bege,
Descolorida e sonsa p’ros ateus.
É que a poesia sofre um despautério,
Na tentativa inválida e inferior
De quem o medo traz do cemitério,
Com vezos de saber, de ser doutor,
Porém, jamais encontra um refrigério,
Porque não aprendeu o que é o amor.
252. Com alguma dor
Proponho ao meu leitor que faça a rima,
Segundo a compreensão deste mistério.
Assim, a que lhe ocorre é cemitério,
Enquanto, para mim, o verso anima.
É claro que requer um refrigério,
Sem pôr a pretensão em obra-prima,
Pois leu muitas poesias mais acima
E tanta perfeição o põe bem sério.
— É claro que o soneto é de improviso! —,
Há de exclamar o gajo, com malícia,
Querendo desfazer do nosso ciso,
Porquanto é este o autor da obstetrícia,
A partejar a idéia, sem juízo,
Ouvindo alguns vagidos, com delícia...
253. Deglutindo versos
Não passo muita sede ou muita fome,
Que a luta pela vida aqui fenece.;
Mas, quando tenho medo, me aborrece
O fato de ver quanto o mal carcome.
Então, tento rogar, em bela prece,
Sustentação e apoio, pois me some
O lídimo desejo de renome,
Que ter amigos sempre favorece.
O bem que aqui se faz traz recompensa
No amor que logo espalha tal ventura
Que tudo o mais o povo já dispensa,
Para tornar a vida bem mais pura,
Agradecendo ao Pai a benquerença,
Que é mérito e virtude, pois perdura.
254. Indo longe demais
Espero perturbar o mais que possa
O meu caro leitor tão desatento:
Que ganhe, nesta dor, um novo alento,
Fugindo de levar tremenda coça.
Aí irei pensar: Não sei se agüento
Chegar ao fim do verso nesta fossa,
Julgando ser bem feito, em rica boça,
Este soneto vívido que invento.
No rumo do perfeito é que me entrego
Às mãos muito ferinas de meus críticos,
Sabendo que o bater neste meu prego
Ajuda que os madeiros sejam míticos,
Jesus e os dois ladrões, que jamais nego,
As vítimas do mal de vis políticos.
255. Obsessor de si mesmo
Não tiro os olhos meus de sobre a tela,
A ver se esta poesia se completa.
Bem sei quanto é difícil ser poeta,
Para tornar a dor do verso bela.
Porém, a minha vida se repleta
De doces harmonias e revela
Que as lições que passo, nesta cela,
São todas vãs e tolas... dons de esteta.
Então, estudo o tema e desabafo,
Fugindo da premissa da verdade,
Que apenas pela rama psicografo.
Quem acha que perder-se o gajo há-de
Não sabe os meus recursos, pois me safo,
Dizendo ao bom leitor que o bem me invade.
256. Não diga que ninguém avisou
O enredo dessa vida é tão bonito,
Se tudo aí der certo para o gajo.
Então, deve dizer: — Eu não reajo,
Senão dentro das leis cá do infinito.
Mas tanto a carne obriga a tosco andrajo
Que a dor é imperativa e o cara, aflito,
Não sabe controlar tremendo grito
E perde o sofrimento pelo trajo.
Assim, quando desci, no cemitério,
O corpo, nesse apego ao vil sucesso,
Sabia ficar longe o refrigério,
Co’o sofrimento d’alma sem progresso,
Pesando a situação de modo sério.;
Mas logo a rima vem e eu recomeço.
257. Parece fácil.; será que é?
Não posso acrescentar, nesta poesia,
Nenhuma informação quanto ao progresso,
Pois tenho fracassado e, sem sucesso,
Apenas mal componho a melodia.
A tese é bem distante e até lhes peço
Que curtam quanto possam, todavia,
Sem criticar o vate, que faria
Um verso bem melhor em retrocesso.
Então, por que aqui venho desarmado,
No intuito de fugir do mal insano,
Pois, cá no Umbral, o fato é que me enfado
E, quando eu faço a trova, eu não me engano:
O sofrimento fica amenizado,
Por causa deste exemplo ao ser humano.
258. Para despertar a consciência
O medo de enfrentar certo perigo,
Às vezes, é sinal de covardia.
Eu mesmo renunciar hoje queria
Ao verso, que ameaça de castigo.
Mas como desejar mais harmonia,
A meditar sereno aqui comigo,
Se deixo de cumprir a meu amigo
O vívido dever desta poesia?!...
Assim, ao ver a guerra que devasta
Os povos, por ganância de dinheiro,
Alguém tem que dizer bem alto: — Basta! —,
Que a morte há de gerar, no mundo inteiro,
Apenas sofrimento, que é nefasta
À prática do bem, que hoje requeiro.
259. Perdoe-me, você!
Preciso convencer-me que é melhor
Fazer um verso simples, quase prosa,
Que o povo que me lê, sereno, glosa,
Se a rima ele souber guardar de cor.
No entanto, a minha trova mais formosa
Não tem outra que a valha ao derredor,
Porquanto o meu assunto é bem pior,
Pois falo desta guerra que me tosa.
Desvio o velho tema e me atrapalho,
Pois ponho na bondade do leitor
O mérito maior dos dons que espalho.;
E peço que respeite meu compor,
Que, embora cansativo e muito falho,
Exige do poeta algum valor.
260. Falando a verdade
Queria desejar ao meu amigo
Mais sorte na leitura da poesia,
Que, às vezes, o meu tema não devia
Mexer com sua paz, mas eu perigo.
Esteta, eu comprometo a melodia
Apenas com compor aqui comigo,
Lembrando o sofrimento muito antigo
Que me leva a esquecer toda a alegria.
E o círculo se fecha sobre mim,
Ficando o meu leitor aí de lado,
Achando que o meu texto, tão ruim,
Apenas cá demonstra o desagrado
Que fere os bons princípios a que vim
Pedindo p’ra que seja abençoado.
261. Saindo da escuridão
As luzes que se acendem para mim
São tocos de umas velas lá da esquina:
Alguém passou por lá, muito traquina,
E se lembrou de um ser muito ruim.
Até por troça, o gajo me ilumina,
Mas sem saber que pode dar um fim
À rima que componho e agora vim
Trazer à luz do mundo, pequenina.
O pensamento é tudo e o bem é mais
Amor, que dissemina essa virtude,
Pois, quando em mim, pensar o gajo faz
Que o sentimento mau em bom transmude.
Por caridade, eu peço que os mortais
Acendam dessa luz, que a dor se ilude.
262. Por que sofrer?
Preciso contentar-me com bem pouco,
Porquanto a minha voz é tão roufenha.;
Difícil é que a rima aqui mantenha,
Que os males de minh’alma já destouco.
Também, como ser bela esta estamenha
Com que visto este verso, estando rouco?!...
Nem mesmo o meu ouvido eu faço mouco
E o bem que dispuser não há que venha.
Depois, fico perdido a contemplar
O resultado fraco da poesia,
Pensando em já ceder o meu lugar,
Sustando o que melhor outro faria.
Meu mestre mostra a trova a terminar
E o som fica mais puro de alegria.
263. Saber, até que eu sei...
Indago a contragosto se gostou
O meu caro leitor desta poesia,
Mas é com muito medo, todavia,
De que seja um fiasco este meu show.
Então, por que a pergunta se queria
Apenas sugerir que o bem gorou,
Na voz deste poeta, como um grou
A anunciar inverno e nostalgia?!...
Eu peço, finalmente, que perdoe
O gajo que me lê o atrevimento
De suspeitar que a rima aqui ressoe,
Ao menos um instante, um só momento:
Da luz, uma centelha, um raio voe,
Na fé e na esperança em que me agüento.
264. Vamos lá!
Chegou Jesus dizendo a todo o povo
Que a caridade brilha lá no céu,
Que quem, aqui na Terra, é só escarcéu
Vai ter de retornar em dor, de novo.
Veio Kardec e ergueu do etéreo o véu
E demonstrou que a fé tinha um renovo
No fato da razão, e disse: — Eu movo
A idéia de que a alma fica ao léu.
Agora o sofredor consegue ver
Que existe do outro lado nova vida,
Que só depende dele ter prazer
Em ir p’ra lá com alma enaltecida,
Bastando sobre o mal criar poder,
Fazendo o bem, que à luz o amor convida.
265. Espantando a escuridão
Não sinto medo agora cá do etéreo,
Pois tenho alguma luz e algum estudo,
Porém, para dar forma ao conteúdo,
Vou ter de desvendar muito mistério.
O povo, quando lê, pensa que tudo
O vate que se atreve, em sendo sério,
Tem de saber e dar um refrigério
Às dores e às angústias, sem contudo...
Eu venho simplesmente p’ra dizer
Que mudem o que pensam deste mundo,
Que os pobres que versejam têm poder
Para mostrar apenas um segundo
De todo o seu trabalho e seu dever,
Ficando p’ra depois o mais profundo.
266. Ganga impura.
Resisto à tentação de divagar,
Pensando só em mim, em meus problemas.
Não trago soluções, porém, não temas
Perder teu tempo aqui dentro do lar.
O mundo das estrelas mais extremas
Talvez não brilhe tanto e, devagar,
Se deixe dominar pelo luar,
Que apaga os mais distantes teoremas.
Assim, este meu verso é que me ilude
Porque penso fazê-lo tão supimpa,
Julgando, embora, simples de virtude.;
E o bom leitor, que sabe quem garimpa,
Perdoa o pensamento tolo e rude
E extrai a gema rara, douta e limpa.
267. Desassossego e reflexão
Alguma luz eu trago, sim, comigo,
Mas é tão pouca que nem dá p’ra ler
O resultado bronco do dever
Do verso com que brindo o meu amigo.
Quisera esmiuçar este poder,
Mas temo dar de frente co’o perigo
De aqui perder um vezo muito antigo,
Ao qual dedico estima e bem-querer.
É quando cresce um vulto que ultrapassa
As lindes destes versos e já me assusta,
Ao recordar da vida uma desgraça
Que faz com que a vaidade, tão augusta,
Tropece no vernáculo sem jaça
E acabe nesta rima: a que mais custa.
268. Sirva a lição
Eu não me apego muito aos dons da vida
Nem faço restrições aos versos meus:
Se alguma luz tiver, graças a Deus,
Eu quero pôr na trova em dura lida.
Jesus, quando falava aos fariseus,
Recriminava a todos a surtida
Aos bens alheios, quando o amor convida
A dar ao mal e aos vícios um adeus.
Aqui no etéreo, o tema é diferente.
Que o lucro é só moral fica evidente,
Pois não se tem riqueza material.
Os meus irmãos pelejam contra a dor
De serem acusados no interior,
Porque não são felizes neste astral.
269. Em cada leitor um irmão
Notei que meu amigo, quando lê
Os versos que disponho com cuidado,
Nem sempre, lá no fundo, sente agrado
E pensa, perguntando: — Mas por quê?
No mínimo, o desejo mais sagrado
Não é de elucidar tanto a você,
Mas é de ver as rimas à mercê,
Para o prazer sutil do desenfado.
Ocorre que hoje sofro tanta pena
Dos males praticados lá na vida
Que a trova, que componho tão pequena,
Parece que ao amor e à luz convida,
Que o bem, mesmo distante, já me acena,
Na estima do leitor, em prece ungida.
270. Licença mais que poética
Sujeito-me à tremenda disciplina
Que exigem estes versos do poeta.
Assim, a trova fica mais completa,
Pois posso sossegar quem me domina.
No entanto, o conteúdo se amofina
Se Amor não traz na aljava uminha seta
Que atinja o coração de quem me veta,
Que o resultado é tosco e a rima indigna...
Porém, toda maldade tem limite
E aqui não cabem termos descosidos:
Se acima eu incitei e dei palpite,
Agora eu me arrependo e volto atrás
E ponho à sua frente os meus pruridos
De ver o mundo todo em doce paz.
271. Preenchendo um vazio
Carrego aqui comigo uma ilusão
Que se transforma agora em má poesia.
Bem sei que desprezar não deveria
O fruto do trabalho da escansão,
Porém, o que fazer, se a melodia
Abala totalmente a minha mão
E o tema vai ficando um ramerrão
De dores imprestáveis que eu nutria?!...
Ao menos, sobra espaço p’ra Jesus
Depositar no chão a sua cruz,
Abençoando a gente que me lê,
Que bem por isso sabe qual o peso
De quem não quer mudar o antigo vezo
De carregar no verso sem porquê...
272. Criando ânimo
Preciso que me apóie, meu amigo,
Embora o sentimento seja tolo.;
Mas, como um verso eu tenho de compô-lo,
Se tenho o seu perdão, me desobrigo.
Assim, pensava há pouco em lhe dar bolo,
Deixando p’ra depois o meu castigo,
Mas, como hei de pedir que vá comigo,
Se em seu caminho ponho o maior rolo?!...
Então, surge Jesus na trova e faz
Que eu pense bem melhor, sem improviso,
Pois tempo eu tenho muito, até demais,
Para bolar um rolo em que lhe aviso
Que devo imaginar do céu a paz,
Para forçar a rima com mais siso.
273. Poesia de resultados
O tempo que hoje eu tenho para a rima
Reduz-se a alguns minutos de improviso.
É claro que aqui trago, com meu siso,
Uns versos preparados, com estima.
Estou muito folgado e paraliso
A febre do desejo de obra-prima,
Pedindo ao bom leitor, que mais me anima,
Que me perdoe a trova e o prejuízo.
Então, chega Jesus e o dom que vibra
Me faz arrepiar, com emoção,
Pois bate o coração em cada fibra
P’ra me acordar desejos de perdão,
Que o bem, com muito amor, a luz calibra
E traz, co’a caridade, a salvação.
274. Esperança em prece
Senhor, faça de nós servos corretos,
Dispostos a estudar com muito afinco,
Tornando o coração feliz, um brinco,
Para aceitar em paz os seus decretos.
Os nossos bons leitores, mais de cinco,
Pretendem festejar quando, completos,
Os versos informarem que seus netos
Soletram cada rima que hoje finco.
Então, venha Jesus abençoar
A trova que desperta o nosso amor,
Por ser honesta e lúcida, exemplar,
Embora ofenda a arte de compor.
No entanto, encha de luz o doce lar
De quantos tenham paz, por seu valor.
275. Aos corvos o crocitar
Quisera conquistar o seu amor,
Nas trovas que componho a cada dia,
Mas tudo quanto penso não daria
Para justificar o meu ardor.
Qual mérito traria esta poesia
Que interessasse a rima superior
Do mestre e deste amigo de valor,
Que sabe muito mais, sem todavia?!...
Por isso é que Jesus cá comparece,
No verso que introduz este terceto,
Pois quem plantar recolhe desta messe
De luz, de paz, de amor, em bom soneto,
Ao que suplico ao Pai, rezando a prece
Que trago agora ao povo, em vil panfleto.
276. Preciso tirar a capa
Deixei minhas pegadas lá na areia
Que a onda da maré logo apagou.;
Aqui, eu faço uns versos, dou um show
Que o tempo há de apagar: o mal campeia.
Se alguém me ler, no entanto, é certo vou
Ficar numa memória, até que, cheia,
O gajo vai dispor, por estar feia,
Da trova que algum dia impressionou.
Ainda que Jesus me desse amparo
Nas rimas que disponho, cuidadoso,
Preciso confessar que hoje disparo,
Pois sei que está difícil dar-lhe um gozo
De puro sentimento, meu preclaro
Leitor, pois mais não sou que preguiçoso...
277. Cáustica poesia
Levanto a velha hipótese da dor
Que fiz por merecer estando vivo
E o verso que utilizo e que cultivo
Não serve à minha arte de compor.
Preciso imaginar um modo ativo
De referir o efeito ao seu autor,
Pois nada se descreve do exterior,
Se a causa aqui não passa em sério crivo.
Jesus não comparece desta feita
Senão para anular o meu pedido,
Que a rima discursiva se rejeita,
Caminho, herdade, lucro apetecido
De um tempo que, sem luz, ninguém aceita,
Lamento de verdade desprovido.
278. Cuidado na medida certa
Cheguei a transmitir certa mensagem
Inteiramente cego e pessimista,
Então meu mestre disse: — Não insista
Em embarcar de novo em tal viagem.
Critique os versos tolos, tendo em vista
Que de você se exige a tal coragem
De enunciar que errou, pois interagem
O autor e seu leitor, que o bem conquista.
“Então, Jesus”, pensei, “vai me ajudar
A pôr em versos claros esse tema,
Que tem de ser sutil, audaz, sem par.”
Mas tudo o que escrevi, pobreza extrema,
Não trouxe p’ra que veja, que o seu lar
Merece a melhor prece, e não que trema.
279. Atenção, amigo!
Pretendo ser bem simples nestas linhas,
Porque tudo o que escrevo sai confuso,
Não tanto por falhar, nem por abuso:
Porque meus temas são só picuinhas.
Mas, como o verso é nobre e eu não me escuso,
O sentimento vai nas entrelinhas,
Que o mais posso dizer que são mesquinhas
Lembranças de outros tempos, que hoje encruzo.
Jesus, ajude agora o pobre vate,
Que quis ser simples mas me compliquei,
Que a trova, que era fácil de arremate,
Precisa de alinhar conforme à lei.;
Perdoe quem se atreve ao disparate
E ponha o bom leitor em minha grei.
280. Pedindo um tempo
Preciso descansar desta poesia,
Que os temas se esgotaram por completo.
Eu vou municiar-me, pois um veto
Do mestre representa que auxilia.
Por mim, ficava aqui mas mui me afeto,
Porquanto a mente pune a aleivosia,
Que um verso meu sem jeito já teria,
Causando ao bom leitor um mal concreto.
Até Jesus não tem função na rima,
Pois falta-me emoção e a trova assume
Caminho tão errado e desanima
O grupo que me ajuda e tem cuidado
De não causar no povo um azedume,
Orando com fervor cá do meu lado.
281. O homem põe...
Não posso despedir-me tão sem jeito,
Conforme o verso acima testemunha:
Ontem, meu bom amigo não supunha
Que quem se lamentou diria: — Aceito!
Não vou pegar o touro com a unha,
Que a rima há de exigir outro trejeito.;
Então, devo afirmar que fico atreito
A confirmar o bem com boa alcunha.
Jesus, a sua bênção eu requeiro,
Em prece comovida, que lhe envio.;
Retiro da gaveta o meu isqueiro
E acendo a vela que só tem pavio:
É esse o meu poema, o derradeiro,
Iluminado e puro, por um fio...
282. Testando a trova
Perdão vos peço, Pai, se aqui me atrevo
A vir lamuriar-me da existência.
Talvez me falte ainda essa ciência
De dar preclaro som ao meu enlevo.
Ao meu leitor eu peço mais paciência,
Rogando p’ra que o bem tenha relevo,
Pois tudo que componho eu sei que devo
Tornar mais belo e puro, em evidência.
As luzes perenais dos mandamentos
Que são suas lições, Jesus querido,
Parábolas que ensinam sentimentos
Que quero demonstrar, porquanto lido
Com emoção, em ânsias, por momentos,
Refletem-se na rima em que eu duvido...
283. Com as asas implumes
Não peço para mim a prece amiga
Que o bom leitor dirige ao nosso Pai.;
Eu peço por quem sofre e sei que vai
Sentir-se bem melhor, que a dor mitiga.
Preciso melhorar, pois sobressai
A forma que aprendi à moda antiga.;
Assim, rogo também não haja briga,
Quando a palavra for um simples ai!
O amor que desejei aí na Terra
Encontro cá no espaço com fartura.;
O bem que alguém me faz a paz encerra
De um coração formoso em prece pura:
Se o verso perde o pé e a rima erra,
Ao menos, meu irmão hoje me atura.
284. Prestando conta
Atrevo-me a pensar que sou poeta,
Pois alguns versos faço com presteza,
Mas, ao postar-me junto desta mesa,
Os sons que aqui componho o mestre veta.
É que o compasso é todo a tal proeza
Em que resumo a trova que completa
O número de sílabas, na meta
Das rimas desta língua portuguesa.
Então, que fique claro ao meu leitor
Que não desfaço d’arte de compor
E sim do despreparo da mocinha,
Que instada fui p’ra demonstrar, no verso,
Que o coração que trago tão perverso
Do bem, do amor, da luz já se avizinha.
285. Por onde se deve começar
Esqueço, muitas vezes, que preciso
Conter os meus impulsos de poeta,
Pois tenho de estudar, que a minha meta
É fazer versos, sim, mas com juízo.
Vazia, a minha mente não completa
A estrofe em que capricho neste aviso.
A ternura que anseio e que improviso
Precisa ser mais lúcida e direta.
No desafogo desta rima rude,
Existe um pouco até duma virtude
Que desabrocha já no coração.
É ter paciência p’ra mostrar que a paz
Há de alcançar o meu leitor voraz.;
É perdoar as falhas da emoção.
286. Um pouco melhor
Preciso controlar a minha fúria
Porque para o compasso eu tenho o dom,
No entanto, de que adianta o melhor som,
Se a trova que termino é sempre espúria?!...
O verso pelo verso nunca é bom,
Mas cobre dos estudos minha incúria.;
Então, fico refém de vil lamúria
E o meu sentir se dá no coração.
Por isso, sou forçada, neste enleio,
A prometer bem mais daqui p’ra frente,
Trazendo novos temas de permeio
Àqueles que bem sei que o amigo sente
Felizes no regaço de quem veio,
Porque dão alegria e paz à gente.
287. Sentindo saudade
Retiro da memória os casos tristes
E ponho-me a lembrar das coisas boas:
Gostava de sentir frias garoas
E rir com meu papai dos velhos chistes.
Ó tu, meu coração, que já não côas
Os sentimentos tolos e resistes
Na aceitação do amor, que o mal insistes
Em revelar às vistas das pessoas,
Não tenhas tanto medo do porvir
E do trabalho insano que é preciso
P’ra deslanchar no bem e progredir:
Se existe uma paixão, aí diviso
A causa que tu tens que corrigir
P’ra pôr nesta cabeça mais juízo.
288. Sinceridade é o tema eterno
Consigo imaginar um bom poema
Porém, não sou capaz de recortá-lo
Em fórmulas lingüísticas, no embalo
Dos temas mais perfeitos neste esquema.
Eu penso em Jesus Cristo e logo um galo
Repete o seu cantar e o meu dilema
Parece que confirma que se extrema
A negação do bem quando me entalo.
Se cá trouxesse os versos mais bonitos
Iluminado aos sóis dos infinitos
As pérolas perfeitas da virtude
Iria dar exemplos de impiedade
Porquanto este temor que hoje me invade
Não faz que o coração o amor transmude.
289. Contaminação evitada
Jesus vai me ajudar, com doce encanto,
Nesta jornada incrível de pureza,
Amor a se espargir em torno à mesa
De quem vem estudar, enquanto canto.
Talvez estes ruídos sem grandeza
Aturdam os ouvidos pelo pranto,
Que aqui sugerem místico acalanto,
Mas realizam dores, vã proeza.
Os termos já se soltam, sem destino,
A refletir angústias, desatino,
Perdão a quem não ousa vir de novo.;
E o toque deste sino, cá no meio,
Bizarro, a destoar no meu enleio,
Castiga e fere e traga a bem do povo.
290. Pensando nos outros
Estrondam os canhões, ruge a metralha,
Nos campos, nas cidades, noite e dia,
E estou aqui no etéreo, em má poesia,
A ruminar a dor que o verso espalha.
Então, rezo a Jesus, que me daria
O tema do perdão, sem qualquer falha,
E fico a imaginar que a morte encalha
Milhares que o rancor afoga e estia.
Pudesse nesta rima ser perfeita,
Na exatidão do amor, que se requer
De todos, cuja causa seja eleita,
P’ra se evitar que o mal progrida, e faça
Que a humanidade perca o que vier
Da parte do Senhor... E a luz não grassa...
291. Ao derredor da dor
Os homens, eu bem sei, são imperfeitos:
Não tenho que esperar um bom empenho
Nos feitos do egoísmo, pois mantenho,
Eu mesma, esse senão nos meus trejeitos.
Então, devo rogar aos bons, eleitos,
Que façam que a poesia a que hoje venho
Não sirva simplesmente de canhenho,
P’ra registrar meus dons e meus defeitos.
Pudéssemos, faria verter luz
De cada verso meu, cheio de amor,
Lembrando o Peregrino, sem a cruz,
Que os males não mataram seu valor.;
O sentimento aqui, porém, reduz
Minha intenção de em paz vir a compor.
292. Tomando jeito
Preciso dominar melhor meu medo
De errar nesta escansão sem compromisso:
Eu tenho de prestar um bom serviço,
Mas, para a perfeição, ainda é cedo.
Às vezes, meu poema ganha um viço
Nas contas do compasso deste enredo,
Que o tema destes versos de arremedo
Parece ter as cores que cobiço.
Mas, quando aqui termino a obra minha
E vejo quanto é pobre, vil, mesquinha,
Eu rogo a Jesus Cristo que me ampare.
Ao menos, despojei-me dos meus vícios,
Um deles de compor com artifícios
Que eu quero que esta rima desmascare.
293. Exercício de responsabilidade
Sustento que a poesia é um lenitivo
Que pode transformar-se em algo bom.
Quisera este poeta ter o dom
E o tema, pois tem tempo e é criativo.
Mas, quando aqui componho e ouço o som,
Dissimetrias rústicas que ativo,
Preciso concordar que, estando vivo,
A idéia era o melhor desta escansão.
Aqui, meu sentimento rende pouco:
Juntando com o meu cantar de rouco,
A tese se transforma em brincadeira.
Tivesse graça ao menos que eu lucrava,
Mas puxo o breque e ponho a grossa trava:
O Mestre quer que o bem e a paz requeira.
294. Varinha de condão
Cultuo o melhor verso e deixo claro
Que bem melhor seria se encarnada,
Porquanto isto que faço um quase nada
Irá representar, sem ter preparo.
Eu giro ao meu redor e já se enfada
O meu melhor leitor, o mais preclaro,
A quem peço que reze por amparo
Para que a poetiza vire fada.
Aí, com meus encantos, vou tornar
Alegre e bem mais puro o doce lar
De quantos se atreverem na leitura.;
E vou pedir ao Pai que me perdoe
Por lhe rogar, humilde, que abençoe
O amor que hoje revela a criatura.
295. Toda ajuda é útil
Espero alegremente ser um dia
Alguém que realize um bom poema,
Que é fácil de compor, mesmo sem tema:
O duro é descobrir dons de poesia.
Nefasto o sentimento que se extrema:
Negativismo tolo que daria
Apenas para um termo de ousadia,
Acalentando n alma dor suprema.
Que sirva, como aviso do poeta,
Tal obra que hoje faço e se completa
Como arremedo até dum verso alheio.;
Mas fique, na consciência desse amigo,
Que muito discuti junto comigo
O verso que compus sem titubeio.
296. De coração aberto
Jesus, seja meu guia e protetor,
Nos versos que dedico aos meus amigos,
Leitores que se safam dos perigos,
Orando e trabalhando com fervor.
Quisera ter mais luz, nestes castigos
A que meu tema exponho ao vir compor,
Mas tudo quanto faço é com amor,
Por isso não mereço seus fustigos.
Assim é que termino cada estrofe,
Pedindo que o leitor meu filosofe,
Erguendo o pensamento para o alto.
Aí, tenho a certeza da vitória,
Que a trova já contou a minha história
E que posso sorrir sem sobressalto.
297. Natalício importante
Estranho o tal ruído que desperta
A máquina dormente que me ajuda.;
Talvez haja um problema, mas, caluda!,
Prefiro este silêncio que me alerta.
É no silêncio santo que se estuda,
Ainda que uma porta esteja aberta,
Pois quem mais se concentra mais acerta
E torce os seus defeitos e transmuda.
No entanto, o meu conselho se equivoca,
Se julgo que com ele sai da toca
Quem não deseja ouvir tanta lamúria.
Mas levo o verso bronco a dar de mim,
Para dizer ao povo por que vim,
Na data tão feliz p’ra Dona Núria.
298. Quase uma prece
Vislumbro uma abertura para a luz,
Na senda deste amor que sinto agora:
É como o despertar em linda aurora,
Nos braços tão robustos de Jesus.
Por paz para os mortais, eu clamo e chora
Meu coração, nas vascas desta cruz.;
Mas, bênçãos de esperança, eu já compus
Poemas em que a fé se revigora.
Sair das trevas densas já me atrevo,
Apenas p’ra informar que o bem se expande,
Causando-me sutil mas forte enlevo.;
E, para aqui torná-lo puro e grande,
Preciso declarar que eu sei que devo
Pedir ao Pai do céu que a dor se abrande.
299. Ouvindo Jesus
Não peço mais por mim, já não preciso,
Que o povo sofre tanto e se angustia.;
Ao menos, desabafo na poesia
E todos querem ler quem tem juízo.
Assim é que compreendo a melodia,
Recurso natural que exibe o aviso
De algum problema antigo que harmonizo
E lhes dou som, sabor, com alegria...
Mantenho em Jesus Cristo o meu elã,
Pois ouço a sua voz, dizendo: “Irmã,
Coloque em seu poema um nobre ensino.;
Demonstre confiança e fé no bem,
Pois todos que progridem logo vêm,
Repleto o coração de amor divino.”
300. Privilégio da artista
Alegre, o coração dentro do peito
Palpita ao concluir mais um ditado,
E o povo todo aqui do nosso lado
Eleva uma oração com grão respeito.
Eu sei que a muita gente eu não agrado,
Mas sua opinião eu sempre aceito,
Pois tudo quanto dizem tem um preito
De afeto e de ternura, que arrecado.
Por isso é tão constante vir rogar
Que me perdoem minha mordomia,
Que o médium que me acolhe neste lar
Deseja um bom encontro co’a poesia
E meu mentor, no etéreo, a estimular,
Indica quais os pontos de harmonia.
301. Aparente contra-senso
— Jesus, estende o manto da virtude
E põe debaixo dele toda a gente!
Não quero aqui dizer tão simplesmente,
Mas demonstrar preciso que se mude.
Na forma da poesia o povo sente
Quando o poeta é falso e mais se ilude.;
Assim se põe candente esta atitude,
Pois penso ser bem útil, caso alente.
É claro que o perfeito está bem longe,
Que não se aceita mais que um pobre monge
Fique a pensar em Deus, sem fazer nada.
Agora que declaro a minha idéia,
Jamais irei compor uma epopéia,
Deixando de exaltar o amor que brada.
302. Nem sempre tem pão quente
Preciso retratar-me, pois não trato
Com consideração a tal doutrina
Que lá na Terra eu vim, desde menina,
Tentando compreender, em senso lato.
Mas, quando o povo lê, logo domina
A tese em que palpita o espalhafato,
Que o bem que aqui disponho é só boato.;
O mais é verso só, total ruína.
Mas, como sou bondosa p’ra com todos,
Não posso estimular tão vis apodos,
Conquanto tão perversa eu venha sendo,
Em relação às trovas que componho,
Dizendo que o perfil é mui medonho,
Com medo de ir além, que hoje me rendo.
303. Hesitação denunciada
Proteja-nos, Jesus, com seu amor
E faça progredir, sereno, o povo.
Talvez seja preciso aqui, de novo,
Volver em corpo denso, por favor.
Assim como a galinha choca o ovo,
Eu ponho no regaço o meu compor,
A ver se nasce um bem de algum valor,
Para que a trova traga o seu renovo.
Deve voltar Jesus para sofrer,
Conforme sugeri no verso acima,
Porquanto, ao vir cumprir o meu dever,
Eu busco seja nova a minha rima?
Piedade, eu vou pedir, pois meu poder
Se encerra nesta linha, o que me anima...
304. Algo bucólico
Eu lavo as minhas mãos quanto à poesia
Que deixo hoje lavrada, neste posto:
Às vezes, eu componho até com gosto,
Mas, quando lhe dou forma, que agonia!
Preciso de mais tempo, como o mosto
Que tem de fermentar por mais um dia.;
Por isso, quando digo que faria
Melhor, o meu poema está composto.
Não deixo de passar, na trova, a idéia
De ser proposital a falha minha,
Porquanto à perfeição, nesta assembléia,
O mestre nos conduz, mas bem asinha
Nos fala das abelhas na colméia,
Que o mel que ali produzem se adivinha.
305. Estremecendo
Componho bem tranqüila o meu poema
E dito devagar, conforme o médium
Dispõe, para evitar que sinta tédio
Quem veio com coragem tão suprema.
Então, vou receitar santo remédio
Para enfeitar de amor o velho tema,
Pois quanto aqui se diz não faz que trema
Quem tem opinião e evita assédio:
Orar a Jesus Cristo por mais paz,
Que os homens mui se matam hoje em dia,
Pois é no coração que o gajo traz
A arma com que atira, à revelia
Do ensino do Evangelho, que nos faz
Pensar neste trabalho de poesia.
306. Meus contrastes
Injetam animais letal peçonha,
Lutando pela vida com a morte.;
Espero que esta rima se comporte,
Sem distilar veneno tão medonho.
Por isso, eu rogo a Deus que a minha sorte
Encontre um verso lúcido e risonho,
A demonstrar que o bem que aqui disponho,
Rogando a luz do Mestre, nos conforte.
Por que devo lembrar a cada instante
O contrastante tema que me atrai?
É como o professor em paz garante
Que o claro atrás do escuro sobressai:
Assim, se estou voraz e sigo adiante,
Eu sei que mais preciso orar ao Pai.
307. Rir para não chorar
Contenho a minha verve quando escrevo,
Que o tema que aqui trago sempre é sério,
Ainda que relate que, no etéreo,
Até quem brinca traz um novo enlevo.
Não creio que se pense que o mistério
Exista para dar à dor relevo,
De forma que o poeta insista: — Eu devo
Ser mui sisudo e grave: um cemitério...
Folgar, enquanto o látego levanta,
Talvez não seja a fórmula do amor,
Mas posso descrever quanto foi santa
Aquela horinha breve do compor,
Que faz lembrar de Deus, se o mal quebranta,
Que a bênção chega em paz superior.
308. Maneira de dizer
Entenda que é mui grande esta labuta,
Que não pretendo em versos transgredir
As normas desta casa, Wladimir,
Nem os sonhos de amor de quem me escuta.
Por isso é que, pensando no porvir,
Escrevo quanto sinto e, mais, desfruta
O coração em paz, após a luta,
A férrea luta que travei ao vir.
Procuro transformar meu sentimento
Em rimas de compasso arrevesado,
A demonstrar que a mente hoje eu intento
Analisar consciente do meu fado,
Em busca de lhe dar um bom aumento
Nos lucros destas bênçãos que arrecado.
309. Coisas minhas
Contenho o meu impulso mais sentido
E ponho no poema um novo encanto:
Não é que o sentimento esteja santo.;
Sou eu que já percebo e não duvido.
Então, fique o leitor, só por enquanto,
Entregue às mordomias com que lido,
Julgando das belezas pelo ouvido,
Sem pensamento algum, doce acalanto.
Um pouco de fumaça sempre existe
A enegrecer as trovas que hoje faço,
Mas já não trago o dedo tão em riste,
Fagueira como estou, em bom compasso:
Não quero que ninguém vá embora triste,
Que o belo é bom também, com meu abraço.
310. E por que não?
Reflito sobre a trova e tenho medo
De repetir os motes todo dia,
Por isso é que me assalta a nostalgia
Dos tempos lá no mundo, como aedo.
Eu colocava então, em má poesia,
Os temas do sofrer e, desde cedo,
Eu imitava os bons, triste arremedo,
Mas todos os assuntos escrevia.
Agora, estou restrita a ser sincera,
A desvendar da alma os dramas meus.
Não posso construir qualquer quimera,
Mas devo à fantasia dar adeus:
Concreta a trova minha o mestre espera.;
Concreto tem que ser o amor a Deus.
311. Viagem em torno de mim
Registro, com pesar, que tenho medo
De desviar da mente do leitor
O intento de encontrar, neste compor,
Um texto bem mais leve, rico e ledo.
Então, eu me disponho, com amor,
Para rogar ao Pai um bom enredo,
Na forma e conteúdo de folguedo,
Sem descurar a tese superior.
E, quando encontro força para a rima,
Percebo que deixei levar-me acima
Por entusiasmo tolo e sem proveito.;
Mas não lastimo o verso que apresento,
Pois sei que representa o sentimento
Que sou capaz de expor p’ra ser aceito.
312. A tremer
Importa muito pouco esta poesia
A quem não vem pedir tão-só elogio,
Mas tudo quanto escrevo desconfio
Que repercute mal, que o povo esfria.
Então é que a castigo, envolto em brio,
Que um pouco, um pouco só, de bom traria
Se aqui falasse com sabedoria
Duma virtude só, sem calafrio.
Mas analiso bem meu coração
E sinto que o melhor que tenho em mim
Demonstro, quando rogo ao meu irmão,
À vista desta trova tão ruim,
Que me compreenda e que me estenda a mão,
Que me perdoe, sabendo por que vim...
313. Identidade
“Não devo contentar-me com tão pouco”,
Há de pensar o amigo que me lê.
“Preciso conhecer quem é você
Que não deseja mais papel de mouco.”
É claro que ouvirei dizer: — Por quê?
Ocorre que no texto em sons espouco
Idéias que não dão sinais do louco
Que fui um tempo atrás, mas com mercê.
Sucede que, na Terra, o papo é mais,
É quente, quando a gente satisfaz
Aqueles que desejam distrair-se.
A seriedade é tudo por aqui
E quando o tal poeta diz: — Vivi! —,
Precisa confirmar: — Meu nome é Dirce.
314. Só um exemplo
Pretendo pôr um fim nesta conversa
Que mais parece um longo lamentar:
Então, quando volver ao seu bom lar,
A rima já não pode ser perversa.
Mas como aqui compor algo exemplar,
Se a crítica persiste n’alma imersa?
Não posso vir mentir sem vice-versa,
Ou seja, o meu mentor vai reclamar.
Por que não digo adeus e vou-me embora,
Exemplo de humildade e contenção?
Por que vir demonstrar que o gajo chora,
Na busca de encontrar um ombro irmão?
Jesus também, na prece, em paz, implora
Ao Pai, por sua bênção, seu perdão.
315. Sem catarse
Não falha a previsão e estou de volta,
Agora mais contente co’a poesia,
Quem sabe bem melhor na melodia,
Por certo, honesto o tema que se solta.
Contudo, não se espere que eu daria
Um verso só que não tivesse escolta,
Porquanto não foi tanta a viravolta
Que me livrasse todo da agonia.
Por isso, o mestre meu catou a rima
Que me obrigou ao verso e seu sentido
E disse que o fizesse com estima,
P’ra me lembrar dos tempos em que lido
Co’as falhas do vernáculo, que anima
A gente que me lê. Mas eu duvido...
316. Una as pontas
“Jesus, seja por mim neste poema!” —
Eu rogo tão aflita e tão medrosa.
Bem sei que minha rima inda não goza
Da perfeição que quero como emblema.
Mas qual palavra elejo, a mais formosa,
Aquela que trará, sem que se tema,
O sentimento justo do problema
E a solução melhor p’ra minha glosa?
Então, eu relaciono muitos termos:
Amor e paz e luz e cor e som,
E tento me afastar dos pontos ermos,
Sabendo que o egoísmo nunca é bom,
Mas os meus versos vêm assaz enfermos,
Que amor e paz e luz perdem seu dom.
317. Eis o caminho
Plangente, em triste pranto, renuncia
Minh’alma a vir trazer um verso antigo:
O mestre e o bom leitor contam comigo,
Mas cá no etéreo é outra a tal poesia.
Queria, nas palmeiras, doce abrigo,
Que o sol a tenra pele queimaria.;
Nas trevas em que vivo, todavia,
Bem sei que as rimas já não mais castigo.
No entanto, o meu leitor há de convir
Que o texto é bem cuidado em seu compasso.
Então, vai perguntar quanto ao porvir,
Estando o gajo aqui, conforme faço,
Repleto o pensamento, que o sentir
Terá forçosamente um outro espaço.
318. Num crescendo contínuo
Arrufos não resolvem meu problema
Nem dão ao meu leitor qualquer indício
De como há de vencer o triste vício
De suspeitar que o vate a dor extrema.
Porém, quanto a julgar-me um estrupício,
Não vou arreliar nem sei que trema
O coração referto deste lema:
O belo na poesia é o exercício.
Assim, quando preencho mais um verso
E sei que o dom da vida está imerso
Nas entrelinhas de um pesar medonho,
Eu ergo em prece o pensamento ao Pai
E rogo tanto que o temor se esvai
E a trova emerge para a luz, em sonho.
319. Não é por má vontade...
Até quando me encontro na pior,
Preciso confirmar, compondo versos.
Aí, se os temas vêm ruins, perversos,
Ninguém precisa ler: é roquefort.
Mais sei de corações que estão imersos
Até nessa saudade, ao derredor
Dos queijos e dos vinhos, pois, de cor,
Mantêm o paladar, em dons dispersos.
Também existem tantos distraídos
Que caem nas minhas malhas traiçoeiras,
Sentindo as emoções, como perdidos
Nas brumas que se elevam pelas beiras
Dos lagos e lagoas, sons ouvidos,
Sem mesmo eu demonstrar minhas olheiras.
320. De poeta, de médico e de...
Arrisco-me a dizer que tenho pressa,
Porque devo chegar à perfeição.;
Assim, os companheiros deverão
Achar que o meu poema é bom à beça.
Mas, sendo fraca a rima da escansão,
Com que medida eu peço que se meça
Est’arte, que componho co’a promessa
De receber de todos seu perdão?!...
Por isso é que Jesus sempre pedia
Que houvesse muito amor entre as pessoas,
Porquanto, ao escrever sua poesia,
Sabia separar as más das boas,
Pedindo a seus discípulos que um dia
Ouvissem, com respeito, as nossas loas.
321. Até mais ver
Registro, com pesar, que vou embora,
Porquanto me convida o bom mentor
A que novos poemas vá compor,
Em área em que a dor também vigora.
Preciso trabalhar com muito ardor,
P’ra demonstrar que tenho, nesta hora,
A minha inspiração p’ro bota-fora,
A qual deve luzir em paz e amor.
Senhor, peço perdão por tanta falha
Que esparramei nos versos todo dia.
Desejo que esta rima, que se espalha,
Contenha uma lição em harmonia,
Que o bem dentro da alma é que amealha
Os dons da perfeição e da poesia.
322. Começando devagarinho
Pretendo prosseguir na mesma linha
Da turma que aqui veio versejar
E quero agradecer este lugar
Que acaba com a dor, se se avizinha.
É claro que o poeta vai mostrar
Que não possui o dom e desalinha,
Caso se veja aqui como daninha
A fórmula do etéreo além sem par.
Preciso orar a prece de Jesus
E pôr-me em condição mais elevada,
Porquanto vir falar de amor e luz
E ter no coração um quase nada,
Que em uma só palavra se reduz,
Não leva o meu leitor a boa estrada.
323. Estabelecendo parâmetros
Pertenço ao mesmo grupo que aqui veio
Trazer tantos poemas pessoais.
Queria que estes meus fossem iguais,
Mas temo que o meu tema é bem mais feio.
Sucesso não farei aqui jamais,
Pois sei da qualidade quando leio
Os versos mais soberbos, sem enleio
Nos dramas que se exprimem como tais.
Assim, minhas palavras se compõem,
A respeitar as regras do compasso,
Mas, quando eu chego ao fim, não se dispõem
Em forma tão perfeita, neste espaço,
Que cheguem a causar aos que se opõem
O dom da simpatia ao meu abraço.
324. Em cinco minutinhos
Parece que o momento se desfaz,
Relâmpago no céu a dar seu show.
A trova é tão curtinha que hoje estou
Bem certo de ditá-la em plena paz.
Mas criticá-la muito eu sei que vou,
Depois de meditar, pensando atrás,
Que os vetos se destinam muito mais
A prevenir o gajo, quando errou.
Assim, ao melhorar o meu poema,
Bem certo, irei fazê-lo com mais gosto,
E tudo quanto agora é só problema
Irá se transformar, pondo em meu rosto
Um ar bem mais feliz, soberbo emblema
De um passo para a frente, em novo posto.
325. Não tão rápido
Preciso de mais tempo p’ra escrever
Um texto de profundo sentimento.;
Assim depressa, eu sei que não sustento
Um tema que projete bem-querer.
Talvez, na minha métrica, um momento
Transforme a inspiração com tal poder
Que a luz se faça em tudo e o meu dever
Se cumpra, mesmo além do pensamento.
Jesus sempre sorri quando lhe peço
Ajuda e descortino para a trova,
Enquanto o bom compasso eu mesmo meço.
Assim, ele me diz que a rima prova
Que, ao menos na poesia, o meu sucesso
Há de ficar em paz, que o amor renova...
326. Na mesma linha
Pretendo demorar-me um pouco mais,
Até me acostumar com a poesia.
Qualquer que se apresente não traria
Um texto tão capenga aos bons mortais.
Então, para que serve, todavia,
A crítica feroz aos metros tais?
Pois tem o mesmo efeito desses sais
Que põem desperta a gente que caía.
Os que criticam têm de refletir
Que é bem melhor o texto caprichado.
Então, devem treinar porque o porvir
Não vai deixar aqui ninguém de lado,
Nem fique o nosso médium Wladimir
Querendo seja a trova só de agrado.
327. Identifico-me
Atendo pelo nome de Paulinho,
Mas não pretendo dar meu sobrenome:
No etéreo vou dizer que a sombra some,
Que o gajo se conhece com carinho.
Aqui é mui comum não sentir fome,
Por isso é que esta rima eu desalinho,
Sabendo que amanhã sigo o caminho
Mas volto p’ra pedir que o mal se dome.
Um verso, quando acerto, tem valor
Pois leva a refletir sobre a doutrina.;
Por isso é que me esmero ao vir compor.
Assim, quando o leitor me recrimina,
Eu penso que critica o exterior,
Que o sentimento o Mestre é quem assina.
328. Em continuidade
Requeiro permissão para adentrar
O espaço da consciência deste amigo
Que vem dialogar aqui comigo,
Recesso sacratíssimo do lar.
Então lhe dito a trova sem parar,
Que lhe parece até ser bom castigo.;
E, se ele se meter, eu já não brigo,
Pois sei que a sua emenda é exemplar.
No entanto, o sentimento é todo meu,
Que exprimo o meu amor de forma pura,
Que é como a rima o som me concedeu.;
E o meu leitor as lágrimas procura
Logo estancar de vez, que o Galileu
Requer que tenha fé, que o amor perdura.
329. Por curiosidade
Talvez eu possa dar certa noção
De como aqui componho os versos meus.
Primeiro, eu rezo muito e peço a Deus
Que facilite aos mestres a lição.
Aí, eu seleciono os cireneus,
Colegas que me ajudam no refrão,
E peço ao protetor me dê a mão
Para o momento alegre deste adeus.
Os termos vão surgindo a pouco e pouco,
Com base lá nas rimas que escolhi,
Segundo alguns exemplos que destouco,
Que o belo é diferente por aqui.
Então, um médium sem ouvido mouco
Registra o meu soneto para si.
330. Desvendando a intimidade
Famoso o verso meu há de ficar
Se conseguir, um dia, um belo tema.;
Enquanto a lamentar fico o poema,
As rimas constituem só seu par.
Mas treino a boa forma sem problema
E ponho o tal compasso em seu lugar,
De modo que esta trova chegue a dar
Uma alegria rica, audaz, suprema.
É por isso que eu devo agradecer
Ao Pai, que me permite recompor
As vibrações sutis em meu poder,
Na forma de linguagem comovida,
Mas clara em meu sentir de muito amor,
Em que transformo o texto, em doce lida.
331. Primeiro mergulho n’alma
Capricho mais na forma da poesia,
Pois pouco vou dizer que tenha mérito.;
Se volto o meu olhar para o pretérito,
Eu sei que muita história aqui traria.
Mas vou advertir que o meu inquérito
Resultará mui fraco, todavia,
Porquanto a rima espalha uma harmonia
Que o tema não confirma tão emérito.
Por isso, o povo apela, quando vem
Rimar uns poucos versos, a Jesus,
Mesclando uma oração aqui também,
Talvez com muita fé em pôr mais luz
Na estrofe derradeira que contém
O amor pela verdade que produz.
332. As bordas esfriam mais depressa
Bem fácil deve ser a boa rima
Para tornar o tema compatível,
Mantendo-me o interesse neste nível,
Que é como almejo ver se o povo anima.
Mas tudo quanto faço é compreensível,
Principalmente se estiver acima
Dos medos e flagelos que se estima,
Ao ver-se um resultado presumível.
Mas como demonstrar inteligência,
Se temos de partir do próprio eu,
Deixando para trás qualquer ciência
Do mundo positivo como o seu,
Ó meu caro leitor, cuja paciência
Reflete o ensino bom do Galileu?!
333. Medindo a força
Não posso mais fugir ao compromisso
De vir falar do amor com propriedade.
Assim é que a ternura que me invade
Pretendo transformar em bom serviço.
Pregou Jesus ao povo a caridade,
Mas foi pregado à cruz por causa disso.;
Assim, pedir perdão, em pleno viço,
Talvez não tenha apreço e desagrade.
Meu mestre diz que as bordas eu comi,
Que o centro já esfriou do meu mingau,
Que o fulcro do poema bem aqui
Se encontra e, com certeza, muito mau,
Porém, se tenho afeto e progredi,
Um verso mais somente e digo: “Tchau!”
334. Com mingau no prato.
Preciso limitar minha escansão
Pela medida simples de minh’alma:
Assim é que o poema logo espalma
Os sentimentos meus no coração.
Por isso é que aprendi a ter mais calma,
Ao escolher as rimas que darão
Fluência e propriedade ao meu refrão,
Que o mais é simples trova de vivalma.
Pedir perdão não peço, pois já sei
Que a reação aos versos é simpática.;
Também consciente estou, pois não errei
Nos cálculos da etérea matemática,
E meu compasso aqui bem cumpre a lei
Que o mestre me ensinou assim didática.
335. Motivação negativa
Pretendo ser mui breve nesta data,
Embora esta leitura seja a mesma,
Mas, tenha a pressa toda duma lesma,
Ainda hei de fazer a minha errata.
Ao passear nas trovas desta resma,
Encontro muito texto que aquilata
A esfera do poeta e o mais maltrata,
Que a crítica é perene e o gajo esma.
Então, hão de pensar: “Mas que mentira:
É vã retórica este assunto ameno!”
Mas quem escreve sabe que retira
Do coração a voz com que assereno
Meu entusiasmo tolo que se mira
Na produção alheia que condeno.
336. Lição de disciplina
Respeito o meu leitor na minha rima,
Mas quem é que me lê, de preferência?
Sou eu, e o mestre meu, quando a insistência
Me obriga a lhe mostrar quanto me anima.
Retrato, em minha mente, sem ciência,
A reação fugaz que o som arrima,
Mas tenho de ser claro, como acima,
Sem nada de que acuse esta consciência.
Assim é que exercito o bom dever,
Que a lógica do verso é compromisso.
Talvez me desfaleça o meu poder,
Mas bem contente eu fico no serviço:
Procuro, no leitor, por bem-querer,
Pedindo que Jesus me dê mais viço.
337. De quem é a culpa?
Calculo que o meu tempo seja pouco
P’ro tanto que preciso versejar,
Mas, quando ocupo, ilustre, este lugar,
Percebo que me faço ouvido mouco.
Ocorre que a poesia é devagar
E os sons que emito aqui, coisa de louco,
Não têm a perfeição nem têm, tampouco,
Os dons da evocação mais exemplar.
Então, para que serve o meu soneto
Que não contenta a mim, pobre coitado,
Nem deve ao meu leitor propor dueto,
Tão discordantes são a voz e o fado?!
Vazio há de ficar este coreto,
Sem música, sem luz e sem agrado.
338. Metamorfose, enfim
Um fato aqui preciso registrar,
Sem medo de tornar a rima pobre:
Bem sei que, quando o mal alguém descobre,
Pretende pôr um fim com bem sem par.
Assim, caso um soneto a quadra dobre,
Abrindo p’ro terceto devagar,
É claro que o sujeito vai mostrar
Que não perdeu a pose e a rima é nobre.
Aqui, eu simplesmente mais me encanto,
Orando, com fervor, a melhor prece,
Agradecendo ao Pai por este canto,
Sabendo que a poesia se oferece
Em sacrifícios de ouro do meu pranto,
Que iluminou minh’alma a farta messe.
339. Um dia voltarei
Iluminado estou para a poesia,
No entanto, sofro ainda neste canto:
Eu sei que a voz não soa como a um santo
Nem traz o tema meu doce harmonia.
Bem rústica esta rima do meu pranto,
Pois outra esta verdade não traria,
E, assim, por mais que trema, todavia,
Não posso argumentar com ledo encanto.
Porém, não vou mentir que não me trava
A língua, quando penso no futuro,
A ler o mesmo texto com voz cava,
Agradecendo ao Pai, bem mais seguro,
Mudando cada verso, pois na aljava
Trarei setas de amor, Cupido puro.
340. Eflúvios de emoção
Se sou feliz, não passo o sentimento,
Nem dou a demonstrar tranqüilidade.;
No entanto, a paz que minha mente invade
Seria p’ra contar qual dor agüento.
O fruto da escansão é de verdade
E nutre de esperança, um só momento,
O coração, que sofre sem tormento,
Que o verso para o bem me persuade.
Não sei se dei o tônus de minh’alma,
Que amor é lei, que a caridade espraia
Um pouco de virtude em dons de calma.
Mas nada aqui é melhor do que saber
Que a aurora de Jesus em cores raia,
Iluminando a senda do dever.
341. Sem pressa
Estimo que meu verso sejam claro
Na análise que faço dos problemas.;
Talvez outros devessem ser os temas,
Mas não seria eu a dar amparo.
Por isso estas medidas tão extremas,
Que à luz da noite eu peço e já comparo
Às trovas que recordo, em brilho raro
Do sol da vida, em teses sem algemas.
Um dia, espero aqui vir transcrever
Os versos virtuosos do dever
Cumprido em perfeição de rimas ricas.;
Mas hoje eu me contento com bem pouco,
Sabendo que o soneto é quase louco,
Mas cheio de promessas e rubricas.
342. Revelando segredos
Pretendo repousar alguns instantes
E ponho-me a pensar na minha trova.;
Então, logo me vem que se renova
O texto que aqui trouxe um pouco antes.
Ao mestre, eu lhe apresento a prima prova
E peço-lhe que anote os comprovantes
De que esta rima tenha alguns rompantes
Que possam agradar, aquém da cova.
Eu brinco, quando o mestre me permite,
E tudo faço alegre e sobranceiro,
Sabendo que ao perdão trago o convite,
Que amor e luz e paz e bem requeiro
P’ra mim, especialmente, que se evite
Deixar a pior parte ao companheiro.
343. Válida presença
O céu é bem mais puro quando visto
Com olhos mareados pelo amor:
Eu mesmo gostaria, ao vir compor,
De receber apoio por benquisto.
Mas penso lá no mundo exterior
E ponho os versos meus onde eu enquisto
As notas mais sutis, e peço ao Cristo
Que deixe o pranto triste ter valor.
Caminho pela estrada da esperança,
Lembrando-me dos tempos de criança
Em que folgava alegre lá na praia.
Queria que a consciência despertasse,
Livrando dos problemas deste impasse
Esta alma, que resplende se o Sol raia.
344. Preocupações à mostra
Aposto que o leitor já se aborrece
De tanto ouvir falar nos meus problemas.;
Então, vou revelar que são extremas
As nossas reações à sua prece.
O povo cá do etéreo quer que os temas
Não sejam só do agrado de quem tece
As urdiduras todas da benesse,
Mas que ponham mais luz em seus poemas.
Por isso é que rogamos a Jesus
Que traga o seu ensino, que conduz
Ao bom caminho, o que nos leva ao Pai.
E aos protetores nós solicitamos
Que os frutos pendam doces nestes ramos:
Poesia é sentimento que ressai.
345. Reconhecido e grato
Jesus, olhai por nós, os sofredores,
Que somos tão carentes de carinho.;
Sabemos nós de cor o bom caminho.;
Impedem-nos a marcha as velhas dores.
A perfeição se encontra em desalinho
Na mente perturbada dos autores,
Que rogam aos que são seus superiores
O ensino, o amparo, a luz, mas de mansinho.
Um texto tão completo não faria
Quem se preocupa tanto só consigo,
Mas como desnudar, em má poesia,
O intento de fugir deste perigo,
Que a culpa há de crescer em harmonia,
Se cresce em harmonia este castigo?!...
346. Tarde demais
Receio que o poema saia manco
E peço ajuda ao mestre que me assiste,
Mas temo que me ponha o dedo em riste,
Certeza de que é bom, severo e franco.
Pergunto-lhe se sabe quando existe
Um sentimento oculto que atravanco,
E, lúcido, me diz que, em fundo branco,
É fácil de notar a nódoa triste.
Por isso é que me atrevo a vir ditar
As trovas que componho, mesmo feias,
Porque revelo assim, nalgum lugar,
Aranhas que me espreitam lá das teias:
Se assusto o meu amigo, sem cessar,
Eu rogo a ti perdão e... que não leias.
347. Cansado de mim mesmo
Contenho minha angústia quando escrevo,
P’ra que este verso meu tenha sentido:
Estando em pranto e muito comovido,
Apenas minha dor ganha relevo.
Por mais que aqui floreie inda duvido
Que cause, em meu leitor, qualquer enlevo,
Por isso é que suspiro e sei que devo
Ousar um verso lúcido e garrido.
Um dia, eu vou vencer esta tormenta
E vou trazer as rimas preparadas
Nas forjas da bonança, que apresenta
O estado mais feliz, de que te agradas,
Ó tu que agora choras, quando inventa
Minh’alma estas poesias malfadadas.
348. O gajo sou eu
Preciso compreender minha missão,
Que os versos que hoje escrevo são mui pobres:
Se, vivo aí na Terra, poucos cobres
Iriam lá sobrar-me da escansão.
Espero despertar nas almas nobres
Um pouco de ternura e compaixão,
Que a dor que me assoberba mais verão,
Que a forma se repete em muitos dobres.
Mas não pretendo pôr tudo p’ra fora,
Que a meta é realizar um pensamento
Que possa amenizar quem estertora
Em lúgubre jornada, que o tormento
Atiça o desespero e o gajo chora,
Em lágrimas de rimas que avivento.
349. No meio do caminho
Passado é o meu presente no futuro:
Por isso é que capricho o mais que posso,
Que um dia voltarei, e agora endosso
A idéia evolutiva, que hoje apuro.
Problemas todos têm e eu sei que esboço
A solução melhor, que o texto curo
Dos males que o infestavam.; hoje eu juro
Que estou melhor que ontem, pois não troço.
As rimas são forçadas, eu bem sei.;
Mas vou deixando atrás os velhos vícios
Que o bem é meta, obrigação de lei.
Ao receber do Pai os benefícios,
Distribuir com ânimo aos da grei
É meta da poesia, em seus inícios.
350. Sem lero-lero
Contenho o meu impulso mais horrendo.;
Não deixo aqui, porém, de demonstrar
Que estou atravessando devagar
A fase da consciência, a que me rendo.
Por isso sempre peço auxiliar,
Que alguém de fora os erros, sempre vendo,
Socorre este poeta e vai dizendo
O que devo cortar ou melhorar.
O mestre que me assiste me censura
As crises que me põem um tanto triste
E pede que esta rima esteja pura
(Mas nunca há de fazê-lo dedo em riste),
Dizendo que é Jesus quem assegura
O bem-estar daquele que resiste.
351. Poeira e tempo
O grupo que me ajuda quer saber
Se cumpro o compromisso satisfeito.
Eu penso e só respondo, quando o peito
Serena o coração, que é meu dever.
Informo que o trabalho sempre aceito,
Pois sei que, se falhar o meu poder,
Acorrem todos eles p’ra me ver
Lavrando as novas rimas como eleito.
Qualquer que seja, pois, o resultado
Desta poesia amara da consciência,
Eu posso aqui dizer que mui me agrado,
Porque me faz valer toda a paciência,
Que o meu presente vira um só passado,
Que os males só se esquecem com ciência.
352. Recomendando a experiência
Voltei p’ra anunciar que vou embora,
Porquanto fui chamado p’ra estudar
Num curso de feição curricular
Que elege como tema o que melhora.
Depois — eu perguntei — posso voltar
P’ra revelar que o gajo não mais chora.
Então, devo dizer, que o bem de agora
Eu peço a Deus que dobre no seu lar.
Entrecortado o verso vai saindo
Da forma que imagino como boa.
Aos meus ouvidos soa muito lindo,
Pois sei que o meu leitor já me perdoa.;
Talvez até se lembre que bem-vindo
Será um fim feliz que amor coroa.
353. Abrem-se as cortinas
Não trago p’ra poesia um grande tema
Nem faço estremecer o meu leitor:
Na arte de escrever não sei compor
Os versos mais argutos, sem que trema.
Porém, no desafio, o meu amor
Pretendo que supere esse problema,
Que a falha não se mostra tão extrema
Que possa aqui lembrar algo inferior.
Eu deixo para trás toda vaidade
E não me importo muito co’a beleza.;
Se tanta rima tola a trova invade,
Que reste uma esperança nesta mesa:
Uma velinha apenas de saudade,
Que é como no futuro eu vejo acesa.
354. Agitando a massa encefálica
Não nego que pretendo melhorar
Mas nem por isso culpo a minha rima
De não constituir uma obra-prima,
Se dou do meu melhor neste exemplar.
Assim, a humanidade que me estima
Deve saber cumprir, junto a seu lar,
As normas da doutrina que ensinar,
Que todo bom espírita se anima.
Eu faço um paralelo entre os dois planos:
Perversidade apenas, pois bem sei
Que o mundo dos mortais tem seus enganos,
Que poucos do mistério dessa lei
Decifram os princípios, que os humanos
Nas mãos de Deus colocam, pela grei.
355. Eta coisa difícil, sô!
Balanço os pensamentos: logo vejo
Quão poucos hão de estar com novidade.;
Meu mestre vem a mim e persuade
Esta vontade tíbia em seu desejo.
Minha virtude é pouca mas me invade
A sensação feliz que o bem almejo
Dispor num verso lindo e benfazejo,
P’ra dar ao meu leitor felicidade.
Então, devo falar dessa virtude
Que faz calar no peito a fantasia,
Pedindo que o sujeito mais estude
A fórmula sutil desta poesia.;
Se for preciso, assim, outra atitude,
O amor virá primeiro à luz do dia.
356. Eu vou indo atrás...
Não noto diferença no meu verso,
Depois que comecei com estas trovas.;
Mas sei que, coração, tu não reprovas
As rimas em que n’alma fico imerso.
O mal não vou ditar em formas novas,
Que o dano deste tempo é tão perverso
Que fica o compromisso em dor disperso,
Saudade que relego às minhas covas.
Então, devo dizer que o sol se eleva,
A iluminar as vidas sedutoras
De muitos dos irmãos que, em grande leva,
Ascendem simplesmente mui felizes,
Sabendo que os leitores e as leitoras
No reino do Senhor criam raízes.
357. Sigamos todos juntos
A luz alvinitente da poesia
Provém dos corações dos mestres meus.;
Se fossem estes versos só sandeus,
Então, o meu leitor me acusaria.
No meu caminho, encontro os cireneus
Que ajudam todos nós na travessia,
Jamais dizendo um não, um todavia,
Mas sempre a declarar: — Graças a Deus!
Eu ponho nos meus versos sentimentos
Que não compreendo bem, nem dou de mim,
Porém, quando reflito nos tormentos
Que nos umbrais deixei, tempo ruim,
Eu volto ao bom Jesus os pensamentos,
Agradecendo a dor que chega ao fim.
358. Pensando muito alto
Pretendo prosseguir trazendo luz
De empréstimo que seja a toda a gente.;
Não posso, aqui, porém, dizer, contente,
Que o bem do amor sublime me conduz.
Bem sei de que virtudes se ressente
Minh’alma, ao carregar pesada cruz,
Mas peço, preocupado, ao bom Jesus
Que traga um doce alívio de presente.
Então, penso que o Pai, todo bondade,
Vai perdoar a rima que desanda:
Lamúrias de um poeta que se evade,
Pensando nesta forma formidanda,
Que faz crescer na mente a tal vontade
De colocar na pauta esta ciranda.
359. A estrada pedregosa
Não quero festejar, nesta poesia,
O meu sucesso manco e controverso.
Prefiro contemplar, neste universo,
A luz dalguma estrela, inda que fria.
Por mim há de passar a fantasia
De estar no amor sublime mui imerso.;
Por isso, em minha trova, eu desconverso,
Que é bem real a dor da egolatria.
Preciso acostumar-me a pôr na rima
Apenas sentimentos superiores,
Deixando ao bom mentor que mais me anima
O dar ao branco e preto as outras cores.
Eu sei quão franco fui na trova acima.;
Por isso, hoje agradeço aos bons leitores.
360. Com o cabresto curto
Aceito sugestões: esse é o meu lema,
Pois melhorar é sempre um compromisso.;
Não fujo do labor: peço serviço
E enfrento corajoso o meu problema.
Bem sei que esta poesia vem sem viço,
Que é pobre o conteúdo deste tema,
Porém, como já disse, o mal se extrema,
Se ponho a minha dor em rebuliço.
A prece é de rigor porque traz luz
À mente perturbada e sem aprumo,
Que o peso é muito grande desta cruz,
Mas, quando a meus amigos eu resumo
Os tópicos das leis do bom Jesus,
O amor, a paz e o bem ganham seu rumo.
361. Misérias e grandezas
Revelo nos meus versos tristes falhas
De quem não soube amar como devia,
Por isso, está tão feia esta poesia,
Que é fel, meu coração, que tu farfalhas!
Porém, meu compromisso é de alegria,
Pois ponho no passado as vis mortalhas
E no futuro eu sei que estas migalhas
Vão transformar-se em rica melodia.
Meus mestres já sorriem como em festa
Pelas conquistas feitas nesta hora:
O canto está bem menos p’ra seresta
E mais para um lamento de quem chora.;
Então, lembro Jesus, que ao bem se apresta,
Abençoando a mãe, Nossa Senhora.
362. Em plena luta
Não quero emocionar o meu leitor.;
Apenas vou dizer-lhe o quanto peno,
Que a vida é curta e o mundo tão pequeno
Para deixar alguém de ter amor.
Eu odiei outrora e hoje, sereno,
Medito que sofri nas trevas dor
A ponto de burlar este compor,
Pois tremo por sentir o mal que aceno.
Nas horas em que a crise era um tormento,
As preces me fugiam da memória,
Mas, hoje, nesta trova, eu sei que agüento
Lembrar-me das tristezas dessa história,
Pedindo a Jesus Cristo um só momento
De lucidez no verso: eis minha glória.
363. Sem comiseração
Requeiro que o leitor preste atenção
No cômico roteiro desta trova:
Esqueça por instantes que da cova
Surti p’ra luz do dia, na escansão.
A rima, que o meu verso não renova,
Desperta para as dúvidas do irmão
E muitos que me escutam já dirão:
“Esse pensou nas rimas uma ova!”
Então, sugere o mestre que acompanha
Meu desempenho lúcido e folgado:
“Vai devagar, meu caro, pois se assanha
Quem vê que tem leitores a seu lado,
E julga que a leitura é muito estranha,
Pois ninguém ri da graça, neste estado.”
364. Sem hipocrisia
A graça recebida de Jesus
Resplende nestes dons da sã doutrina.
Os homens que se dão a tal vacina
Empenham-se no amor e pedem luz.
Eu sei que o meu recado é pequenina
Informação, a quem carrega a cruz,
De que deve sustar a marcha, e induz
Que Deus já perdoou quem se abomina.
De fato, é permanente o ganho d’alma
Que atua entre os irmãos, dando-lhes calma,
Ao repetir o ensino do evangelho.
As graças superiores caem do céu,
Se rompe a estupidez o espesso véu:
Seguro, meus irmãos, morreu de velho...
365. Se lhe serve...
Permitem-me dizer o quanto dói
No coração a dor que se arrepende:
Porque, na Terra, fui um mau duende,
Eu não seria aqui nenhum herói.
Mas dentro d’alma o mal hoje contende
Com todo o bem que aprendo, como sói
Acontecer a quem o amor destrói
E fica ao léu no etéreo, a ver se aprende.
Corri de ceca em meca e fiz fortuna,
Enchendo a burra e mais a conta em banco.;
Pensava que era sempre inoportuna
A voz que me acusava e que hoje estanco
A força do trabalho que se aduna
Ao choro que me faz o verso manco.
366. Ciranda de ódio
Partiu meu coração um verso antigo
Que li quando na Terra descansava.;
Dizia que a nação da gente escrava
Sofria, pelas dores, grão perigo.
Imaginei que Deus a perdoava,
Por lhe pedir com raiva um bom castigo.
Pensei, um pouco tarde, então, comigo,
Que tinha de rezar, que o mal entrava.
Quando cheguei de volta dessa vida,
Olhei em derredor, pedi guarida,
Mas encontrei escravos e feitores:
Quem perseguiu outrora aqui sofria
E a gente escrava agora perseguia,
Sem luz, perdão ou fé.; e sem amores.
367. Quem me dera!
Notícias que me chegam lá da Terra
Dão conta de que os homens não contêm
Os ímpetos maldosos mas que o bem,
Nos corações de muitos, já se encerra.
Pudesse retornar, neste vaivém
De encarnações, fugia já da guerra,
E tudo o que fizesse terra-a-terra
Seria p’ra valer aqui também.
Então, eu salvaria o mundo inteiro,
Daria a cada irmão o meu amor?
Ao menos, isto ao Pai é o que requeiro,
P’ra amenizar da vida o grande horror,
E voltaria sempre, que o primeiro
Aqui deve ser último a compor.
368. Lugar-comum
Não nego que desejo extravasar
Os temas que me ensinam cá no etéreo,
Mas tudo quanto escrevo, embora sério,
Não sei já se merece ir ao seu lar.
Meu mestre quer que eu fale sem mistério
E torne muito simples e exemplar
Aquelas tais lições que quero dar,
Conquanto paire longe o refrigério.
Enquanto aqui formulo o que me atiça,
É fácil versejar, porquanto adio
As lutas mais ferrenhas desta liça.;
Se, no final, eu peço por mais luz,
Notando a minha vela sem pavio,
Eu perco a seriedade, ó meu Jesus!
369. Pensando um pouco nos demais
Preciso refazer alguns dos versos
Que podem deslustrar os mestres meus.;
Depois irei dizer: — Graças a Deus!
Eliminei ao menos os perversos.
Aí vou refletir sobre os judeus,
Saber se Jesus Cristo viu dispersos
Os males em que iam tão imersos,
Que as fórmulas do amor são sonhos seus.
Assim, vou refletir por muitos anos,
A desfazer na alma os meus enganos,
Até que possa merecer de novo
Volver ao plano material da Terra,
Iluminado ao sol de quem se aferra
Somente ao bem, na ajuda de seu povo.
370. Rompendo a carapaça
Perfumes odoríficos exalam,
Se deixo dominar-me deste amor
Que tenho pela trova, ao vir compor
Os temas superiores, que se calam.
Eu sei que deveria aqui dispor
As rimas comovidas que me falam
Bem dentro de minh’alma e que me abalam
A ponto de torná-la inferior.
Assim, vou dando trela ao coração,
Que canta para si a tal canção
Do aroma que me traz tal lenitivo.
O mesmo sentimento é que, entretanto,
Me afirma que aos irmãos é que não canto:
Queixumes que me trazem tão cativo.
371. Aceito o desafio
Não creio que o amigo que me lê
Mantenha sua fé em seu irmão:
Resulta essa atitude da escansão,
Que não retrata a mim, mas a você.
Aí irá dizer: “Não sei por quê!
Pois trago tanto amor no coração.
Você parece mais um frustradão
E agora finge até que não se vê!”
A luta, companheiro, é cá comigo,
Reflexo de um problema muito antigo,
Porque me acuso a ausência de uma luz.
Há tempos venho dando trela à dor,
Mas isso só perturba o meu compor:
Vai longe o ensinamento de Jesus.
372. Pensando nela
— Madame, esta poesia não vai bem,
Suspira este poeta encalacrado.
— Talvez por tê-la aqui junto ao meu lado
Eu fique na tristeza de um vaivém.
Pretendo esclarecer que é de bom grado
Que escrevo este poema, mas também
Aperta o coração saber que vem
A crítica feroz, pois não agrado.
O sentimento é lúcido, é perfeito,
Porém, não cabe em verso, e não aceito
Que a trova prejudique a minha musa.
Por que sofrer as dores que imagino,
Se o mundo é tão bonito, é peregrino,
Se a pedra, o fogo, o ar, ninguém me acusa?!...
373. Saber, a gente sabe...
Acusa-me a consciência, e eu sinto a dor
Crescer no coração, que me sufoca.;
Enfurno-me feroz na minha toca
E vejo que lá fora está o amor.
Então, eu me apetrecho e algo me toca,
A demonstrar que a luz vem do compor
Uma poesia simples, já que o autor
As graças de Jesus na rima invoca.
Empresta-me este verso um dom formoso,
Que a sorrir registro, em grande gozo,
Pois devo confessar que já me alegro.
Todo o meu grupo traz seu forte abraço,
Que tento traduzir neste compasso,
Porque saio da toca e já me integro.
374. Sem negar fogo...
Não quero que pareça ser forçado
O tema que lhe passo neste dia:
É certo que, ao fazer esta poesia,
É pobre o pensamento que arrecado.
Não vou perder, porém, sua alegria,
Que eu sei que vai florir, por outro lado,
Ao terminar a trova e ver de agrado
Os meus dizeres cheios de harmonia.
Não tema aqui contudo vir sem luz,
Que o bem que hoje se faz bem vale a pena,
E ao vale dos eleitos reconduz
Quem nunca se negou, com alma amena,
A vir colher os frutos de Jesus,
Que é com amor que o Mestre nos acena.
375. Gongorismo vitando
Não quero que as palavras prevaleçam
Nem quero seja bela a minha voz:
Bem sei meu sentimento tão atroz,
Que os meus desejos sinto que faleçam.
Outrora, estive aqui bem mais feroz,
Trazendo impulsos sórdidos. Esqueçam
O seu passado triste e favoreçam
O crescimento em paz de todos nós.
Se eu peço ao bom leitor que modifique
O proceder na vida, é só retórica,
Que o bem existe sempre quem aplique,
Sem mergulhar na fase mais teórica.;
Exemplo é esta poesia, simples dique
A represar a dor: forma alegórica.
376. Caminhando a esmo
Não tenho o que dizer ao meu amigo
Senão que esta poesia tem seu mérito.;
Então, vai perguntar, em rude inquérito,
Se não guardei o bem aqui comigo.
Não posso rejeitar o meu pretérito,
O que me vai forçar o modo antigo,
No entanto, quando penso que castigo
A forma do poema, eis meu demérito.
As coisas são tão tardas por aí,
Porém, não tenho troco tão miúdo,
E vou dizendo apenas que vivi,
Bastando para mim tal conteúdo.
Dirá o meu leitor: “Por certo eu vi
Do sofrimento um nada.” E isto é tudo...
377. Como um reforço psíquico
Reúnem-se os amigos cá no etéreo
E põem-se a recordar o tempo antigo,
Sabendo que estão longe do perigo
De não se verem mais: não há mistério.
As lágrimas que voltam eu bendigo,
Porquanto estou feliz, em refrigério,
Que a paz, o bem, a vida, tudo é sério,
Nesta aventura alada aqui comigo.
Jesus é nosso mestre, nosso guia,
E, quando eu mais fraquejo na poesia,
Recorro ao seu ensino mais freqüente,
E lembro-me de amar, antes de tudo,
Ao Pai que nos deu vida e conteúdo
Ao verso em que me abraço a toda a gente.
378. Só a leve esperança...
Amigo, eu convalesço da tristeza
E surjo para a vida sem maldade:
O bem do amor eterno já me invade,
A ponto de compor com mais leveza.
Eu sei que o meu leitor se persuade
De que não vim folgar junto a esta mesa,
Mas quer, no meu poema, ver beleza
Que possa comovê-lo, e sem saudade.
Explico os meus dizeres e lhe digo
Que os tempos mais felizes são agora
E que o futuro guarda um bom abrigo
Em que ninguém lamenta ou mesmo chora
Uma única lágrima, que o trigo
Não se mistura ao joio em boa hora.
379. Com saudade de mim
Preciso descartar-me desta dor
Que traz meu coração tão oprimido.
Pensei no meu leitor e já duvido
Que possa transformar o meu compor.
Alegre-se comigo que eu divido
A parte que me cabe deste amor
Que eternamente sinto no interior
Do bem que aqui pratico, comovido.
Já transformei meu verso e compareço
Mais leve e mais lampeiro para a prova,
Não tanto p’ra mostrar que está do avesso
O texto que transponho para a trova,
Mas para que se saiba que o tropeço
Também tem seu valor, se o mal desova.
380. Descongestionando a mente
Acende-me o desejo de escrever,
Embora o verso saiba tanto a fel,
Que a rima é contorcida, vã, cruel,
E o texto aqui não cumpre o seu dever.
Mas devo compensar, pondo a granel
As trovas que acumulo, sem poder
Regozijar-me tanto, que o querer
Esbarra nos caprichos do aranzel.
Aí é que, espantado, verifico
Nas entrelinhas a emoção maior,
Porquanto o sentimento, sendo rico,
Se infiltra nos dizeres que de cor
Eu vou ditando sempre, pois dedico
Amor a todo o mundo ao derredor.
381. Vã ameaça?
Pavor não sinto mais quanto à poesia:
Meu medo se concentra mesmo em mim,
Pois, se fizer do metro meio e fim,
Terei perdido tempo em fantasia.
Ao meu pedido espero ouvir um sim,
Pois sei que outra resposta não daria
O amigo que me lê sem, todavia,
Recriminar-me impulso tão ruim.
O máximo que digo, em boa hora,
Consiste em repetir o eterno tema
De que deve sorrir quem hoje chora,
Sabendo, embora, que este compromisso
De aqui compor uns versos é problema
Que enfrentam todos, neste bom serviço.
382. Assim, assim...
Não posso repetir o velho tema,
Senão vão me acusar de ser injusto,
Que o ensino que recebo, a todo custo,
É próprio p’ra evitar este problema.
Não quero aqui também dar de vetusto,
Que a rima que elegi é tão suprema
Que exige deste autor que o mal não tema
Nem faça que o leitor tome algum susto.
Emérito, o poema tem defeitos
Que a trova é popular, porém, nem tanto:
Um misto de poesia sem eleitos.;
Um pouco de miséria sem encanto,
Que é rude este mistério e contrafeitos
São todos os princípios, no meu canto.
383. Rude orientação
Atrevo-me a ditar esta poesia
Porque tenho a certeza do meu tema.;
Também estou bem certo ser suprema
A forma do compasso da harmonia.
O que não fica claro é o meu dilema,
Que é fruto da vontade que teria
De melhorar o fim, com alegria,
Iluminado ao sol do estratagema.
Não quero definir este meu ato
Como perfídia triste e compungida,
Porque fugir da lide é desacato
Ao mestre que me ensina e me convida
A revelar quem sou, pois sofro e extrato
O sumo desta dor, mas com guarida.
384. Precisando os termos
Amei, amaste, amou, e quem não ama,
Se Deus é puro amor e assim nos fez?!
Talvez tenha chegado a sua vez,
Que o verso que se lê, você declama.
Não sei quanto de luz e sensatez
Se espalha pela trova e se derrama
No coração que exalta o simples drama
De que Jesus nos deu a lucidez.
Mas, se você precisa compreender
O jogo do poder e do querer,
Amar pode ser ínclito exercício,
Que o sentimento é puro quando a gente
Nem sabe que ele está onipresente
E escreve o verso como um nobre vício.
385. Devagar se vai ao longe
Preciso de mais tempo p’ro arremate
Do texto que preparo a cada dia,
Senão irão dizer: — Falta poesia
E sobra, nesta prosa, disparate.
O tempo aqui não falta e mais daria
P’ra que o soneto um tema de quilate
Pudesse agasalhar, não fosse o vate
Tão pouco empreendedor, nesta harmonia.
Então, peço ao leitor que me compreenda
E reze uma oração mui benfazeja,
Que me ilumine a rima, sem a venda
Com que se esconde o mal, que não viceja,
Se trago para a trova a bela senda
Que iluminou Jesus.; e que assim seja.
386. Com vontade de dizer tudo
Visito o companheiro e logo escreve
Mui crente de me ouvir a lhe ditar,
Então, não quer que eu vá tão devagar,
Nem quer que meu ditado seja leve.
Eu digo que meu verso irá chegar
No dia em que luzir o vate deve,
Ou seja, a perfeição não é p’ra breve,
E o texto fica longe de exemplar.
Mas ele até se alegra com tão pouco,
Ao perceber que o gajo não é louco,
Nem desafia as leis querendo mais.
O passo que aqui dou, conforme a perna,
Conforta quem a dor do mal consterna,
Pois a Jesus eu peço amor e paz.
387. Subjetivismo em expansão
Espero firmemente que a poesia
Me torne bem mais forte o pensamento:
A gente tem do vate o sentimento
De que não pensa em nada, todavia...
Se tenho de volver à Terra, um dia,
Preciso melhorar, estando atento
Às regras superiores, que o momento
É tudo o que se tem... e nostalgia.
Ser positivo, então, é diferente
Das emoções que cabem nesta trova:
Enquanto o verso sempre segue em frente,
O que se sabe aqui já se renova.;
E posso até dizer ser excelente,
Quando o mentor nos lê e nos aprova.
388. Ajudando a crescer
Pretendo registrar meu desconforto
Ao vir falar de um tema que me agrada
Mas sobre o qual eu sei um quase nada
E o que aprendi se deu depois de morto.
Eu acho que o leitor não arrecada
Uma lição sequer de um verso torto
Que busque analisar como num horto
As intenções do Pai, que a dor degrada.
Se tenho a natureza diferente
Pode o encarnado ver se o mesmo sente
Ao refletir na vida que o seduz
Mas deve meditar que a formosura
Nest’alma de poeta se depura
Também pela tristeza desta cruz.
29.09.99.
388.
|
|