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Poesias-->Objeto enigma -- 20/03/2005 - 15:39 (Isaias Zuza Junior) |
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Objeto enigma
Diante do poema não há
cão, ou pluma, cano de revólver
nem sequer exposição de figura
ou cena, e modo verbal, nele...
Uma voz antiga soa mais
nada que possa melhor dizer
e fazer definir, racionalmente,
o ser abstrato, na vaga de pele...
E bate o estanque do vento
de forma a revelar a superfície
plana, e delgada, sem degrau
e cheia de corrimãos, escorregar...
Um relato cru, um ser terra
daonde rompe a relva à raiz:
ser cena e integrante, ainda
que não seja olhos, ou olhado.
Energia a eis que grita igual
farfalhos, e ferraduras, e mãos
não se sabe mais nada não
como assim silêncio e mistério.
Fábulas misturadas, fibras mistas
e o funcionamento manual
das mãos que organiza o caos,
isto é o que se vê e não se explica.
De também modo não há na rua
latido, barulho de avião, ou arma
nem sequer a morte de tudo isso
no fogo queimando chumbo em peito.
Quietude, quase tudo o que é
um e outro ser, de vestes em pele
e trajes, a história do ímpio mais
o trajeto do justo, debaixo do sol.
Na humana esta comédia tão
divinamente assim por nuvem
bem tragédia só acontecer tem
uma e outra, em tudo há ocasião.
E cada mal, um dia.; e segue
cada um, um bem.; e que vai
cada mistério, seu mister.;
por cada mastro, sua bandeira.
Rede, roda, retrato, raridade –
todas essas coisas de passado
não possuem a minha alegria
nem a tristeza, sentir algum...
Tudo, do homem e da mulher
que se tem filosofia, objeto,
qualquer enigma, anátema é,
encontro com Deus, espera...
E diante do poema se desfaz
a linha da feitura, da feição,
da fuga – e seu ponto –, esse
que resta sua pena, o salmista...
Apenas contador de história
e apenas um leitor, ficam
forma e cor de livros o piano,
a laranja, o cão, o revólver...
Nada disso faz poema se não
contar a minha pena, tantos
os anos, as lidas, as camas
que levanto chão sob o sol.
Nada disso faz poema se não
recontar a pena, sem julgamento,
do que vive e do que morre
naquilo que consente a vida.
Segador, ceifeiro, tudo nome
de plantador, tudo isso é findo
de coração batendo igual ao meu
o seu coração, escrever e ler...
Diante do poema não há
menina com flor, sábia,
canção de gesta, explosão
e terrorismo, aula de professor.
Diante do poema apenas é
cada coisa diante de si o que
é por sua luta, seu ocaso, nada
mais que a morte de tudo o que vive.
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