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Poesias-->Metade/Osvaldo Montenegro(ouça o poema declamado pelo autor) -- 21/03/2005 - 22:46 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos














Metade

(Osvaldo Montenegro)













Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.



Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.



Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.





Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.



Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.



Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.





Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,



Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.



Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.





Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,



Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.



Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.





Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável



Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.



Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...





Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.



E que o teu silêncio me fale cada vez mais.



Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.





Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente



Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.



Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.





E que minha loucura seja perdoada.



Porque metade de mim é amor e a outra metade... Também.









Ouça o poema declamado pelo autor









CARLOS CUNHA : produções visuais

foto e link ft/NET







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