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Poesias-->MOTOR DAS HORAS -- 07/05/2005 - 17:02 (JOSE GERALDO MOREIRA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MOTOR DAS HORAS

Lembranças compridas



Tempo em que o crepúsculo

Puxava cadeiras para a calçada

Nelas assentava pessoas

Que esperavam a noite descer

Redonda, sobre as conversas indefesas.



Tempo quando os animais falavam

Podendo-se crer nas estórias compridas

Que esticavam o rabo sobre o sono

Das crianças, que mora em terras estranhas

Distantes e desconhecidas



Meu coração de homem amassa

Uma pasta e guina n´outra direção.



Tempo quando as famílias

Reuniam-se aos domingos

Em volta de mesas mais antigas ainda

Para comemorar com galinha, macarronada e maionese, a serena vida.



Meu coração de homem guina.



Tempo: os anos passam e cada palavra

Acumula-se na cristaleira dos ouvidos

As pessoas afastaram as cadeiras

Quando a tarde arrastou as conversas

Para dentro das salas, sobre os sofás de couro



As TVs em preto e branco.



A noite despencava, pesada, disforme

Arrelumiando os faróis dos autos

Que foram surgindo de cada esquina

As crianças foram esquecendo as estórias

Que os pais perderam o gosto de contar.



Outra direção.

As moças casadoiras envelheceram

Os filhos que elas não tiveram, suspiram.

Os velhos morreram

Os novos partiram

Os que ficavam, sonhavam com a viagem.

Os que viajaram,

Sonhavam com as cadeiras à tarde.



Os filhos tornaram-se visitantes

Os pais, para eles, preparavam almoços

Antigos que eles recordavam ao longe

E, de perto, pareciam-lhes ridículos.

Por fim, deixaram de vir e escreviam.



Mas cartas não beija,. Não aquecem abraços

De mãe saudosa e pai, sério e triste.

As presenças rarearam, cartas esparsas

Por causa de um tal de tempo

Que, lá, era desconhecido.



Meu coração perde o controle.



Os pais tornaram-se saudades.

O amor e as promessas de: volto logo!

foram sendo esquecidas

Nas trincheiras de quitinetes escondidas

Dentro do ombro de cidades desconhecidas.



Os pais faziam viagens longuíssimas

Para verem suas filhas crescidas.

Pediam ajuda: esperam na estação.

Chegavam de madrugada

Com o corpo frio e alma assustada.



Voltavam, pressurosos, à casa em Minas

Com olhar saudoso

Alma remida

Por haverem abandonado o lar

Para constatar a suspeita de suas vidas:



Perdidos estavam os filhos

Não haveria amor que resistisse

Ao sonho deles de que, um dia,

Voltassem e reinventassem toda aquela alegria:

Os filhos esqueciam os sonhos.; os pais perdiam as crias.



Os filhos tornaram-se pais.

Os pais eram avós à distância

Que os netos conheciam por fotos

Que os pais guardavam como relíquias.

Por fim, o apreço findou. As fotos, perdidas.



Meu coração acelera sobre o caminho.



Os filhos, aos poucos,

Tornaram-se homens

Romperam o cordão com mão decidida

Os pais, de longe, tornaram-se “a família”

Que, desesperados, com mãos trêmulas o cordão recolhiam:



Nada havia na outra ponta

A família tentava deter a separação

Dos filhos que o coração pressentia

Para eles, seriam sempre crianças

As crianças, homens agora, esqueciam.



Até tudo tornar-se saudade

Os filhos não lembravam

Quando lembravam, não criam

Que aquele passado fora realidade que lhes pertencera um dia



Meu coração, tonto, desgoverna-se.



Os pais reuniam os parentes

Para falar dos filhos

Ressuscitavam lembranças

Como se houvessem já morrido:

Rezavam sua fé pelos desaparecidos.



Os filhos, em suas andanças

Não percebiam a ferida alastrada

No coração daqueles que os amavam

Seguiam seu destino com olhos perdidos

Com o progresso sobre os ombros, esqueciam.



Até tornar-se fantasia.

Contavam as aventuras aos filhos

Coisas que sequer tinham sido.

Os pais falavam de seus meninos:

Da grande coragem, de como eram felizes.



Os filhos, antes de dormir

O dever cumprido

Às vezes lembravam, sonhavam

De como felizes tinham sido

Quando, sem essa coragem, eram meninos.



Meu coração ultrapassa o pensamento



Por fim, o esquecimento

Os velhos, perdidas as esperanças

Aguardavam que um dia tivessem tempo.

Eles, as saudades recolhidas

Sequer lembravam daquele tempo de suas vidas



Finalmente, o tempo.

O tempo carcomeu a ambos.

Devorou os velhos

Erosou os filhos

Cresceu-lhes as crias



As crias dos filhos vão à Minas

Visitar terras sagradas, a “família”

Voltavam para os lares citadinos

Imaginando como seus pais

Puderam deixar a paz dos lugares vistos.



As lápides aumentam o segredo

As crias, impressionadas

Prosseguem no progresso

Impávidos, sem laços para romper

Olham os céus e lançam-se à descoberta



De novos ares, lugares, novas gentes

Que possam comprar, vender

Produzir o progresso urgente.

Os filhos, ficam orgulhando-se

De suas crias a crescer, crescer...





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