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Poesias-->CARTA AO MEU AVÔ -- 07/05/2005 - 21:21 (Edson Campolina) |
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CARTA AO MEU AVÔ
Peço a um anjo que lhe conduza
Notícias d’além mar.
Tão esquisitas aos vossos olhos
Que será difícil acreditar.
Seu sonhado futuro aqui presente
Tornou-se uma vida decadente.
O juiz agora é um onipotente,
Esqueceu-se que serve a gente.
O professor outrora respeitado,
Agora é trabalhador subestimado.
O policial é delinqüente,
E o médico é impaciente.
Na política parlamentar
Só tem desmemoriado.
O eleitor foi abandonado
E só tem prefeito tresloucado.
O governador é um obcecado
E o presidente se diz sem pecado.
Todo pai é um desesperado
Em salvar o filho do viciado.
O engenheiro é um ilimitado.
Todo administrador é egocêntrico.
O Maquiavel é advogado
E o padre foi censurado.
O artista é um alienado.
Na janela não tem mais prosa,
Como no tempo da vela.
Só se fala em TV e novela.
O motorista é um apressado.
O maquinista ficou no passado.
O jornalista cada vez mais arrogante
E o carteiro é bomba ambulante.
O arquiteto é aloprado.
O contador é um pau-mandado.
O dentista ainda tortura a gente,
E o amigo foi posto de lado.
O bandido agora é autoridade.
A senzala agora é comunidade.
Todo novo rico vira celebridade,
E até o bule depende da eletricidade.
O empresário é um mercenário.
O vagabundo foi aposentado.
O ecologista é um renegado,
E o analista ainda compõe cenário.
O mendigo virou pensador.
O filósofo, um trabalhador.
Prostituta é também psicóloga
E a passarela chegou na escola.
O pirata virou camelô.
A enfermeira virou fetiche.
Nosso herói é um corredor,
E mulher bela tem dieta de alpiste.
A única coisa que protege a gente
É um vizinho onisciente.
O economista agora é vidente,
E o povo índio virou indigente.
O poeta é do tipo desvairado,
E difícil de ver na biblioteca.
Humorista só se encontra no Senado,
E ganham todo dia na Loteca.
O dinheiro agora é virtual.
O ouro agora é negro,
E o poder ainda é do capital.
Mas o banqueiro é que é senhor feudal.
A fé agora é na metafísica.
Só o comércio não é diferente,
Pois continua a venda de gente.
E todo mundo é indiferente.
Nem silvícola joga mais peteca.
A pena do escritor agora é tecla.
A conversa de esquina é no computador,
E o síndico virou cobrador.
Cozinheiro agora é chefe.
Não se abona mais o cheque.
O jornal virou vitrine
De vida de gente chique.
Conseguir emprego é uma crucificação
Nem adianta ser um doutor.
Mas nesta era da informação,
Perde o trem quem não estudou.
Pra cada cura tem nova doença.
Não sei qual fim terá esta rixa.
O bem e o mal marcam presença
Neste Brasil que não levanta de preguiça.
Assim é que está meu Avô!
Esta terra que o senhor desbravou.
Um sonho d’além mar que o tempo levou,
Restando a lamúria de quem aqui ficou.
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