Nos últimos estertores de uma vida, subiu, o digno do saber, para as alturas do nada. Com o rosto extasiado de uma energia suprema, contemplava o absoluto. Como numa espiral vertiginosa corriam as esferas flutuantes do eterno, o etéreo, supremo magnífico, balançava-se nos últimos instantes do cataclismo cósmico.
Ao longe soavam as vozes que diziam:
"Muito além do distante mundo
onde existem ondas no mar
o farfalhar das folhas das árvores,
sucumbe a história dos deuses...
Deuses que tudo nos deram,
e no entanto não superaram a si mesmos."
E a grande onda se aproximava trazendo o terror apocalíptico daqueles que o fizeram. Arde mundo desgraçado, enquanto que o negror de tua aura se perde num grito vazio no cosmos. Poeira ínfima das estrelas azuis balouçantes nos ventos infinitos dos espaços sombrios.
E a voz soava ao longe:
"Brilha no entanto luz
que a todos quer na Verdade.
Ofusca as visões descrentes
num mar em que se afogam no fogo...
Glorifiquem seus feitos
eternas luzes vagantes do universo.
Vaga-lumes perdidos entre as estrelas...
azuis, amarelos, vermelhos, multicolores."
Aquebrantado o vento da maldade, e exalando o doce perfume da bem-aventurança, protegendo o digno contra o mal e preservando as espécies do bem. Transforma-se a visão... Transmutado em luz pura, luz sobre luz, entregam-se os últimos átomos da matéria podre, putrefata. Agora sim. Enclausurada uma mente só, vaga entre as galáxias. Observa e compreende tudo. Mente infantil, no entanto é milenar. Os séculos passam como minutos, na impávida e inexorável forma nova de ver e compreender as mutações dos éons eternos, dos cataclismos cosmogônicos de um passado e de um presente eternos. Sim! Observa e compreende tudo! Mente infantil, no entanto é eterna. Os séculos passam como minutos. Claro, a água, claro por que não? Sonhos, sempre natural.
Mas agora é chegada a hora. Os sinos dobram e redobram, e as sirenes não param. O mundo é silêncio agora. Não compreendia... cidades flutuantes nos céus. Verdade seja dita... a hora chegou.
Nos espaços interatômicos, forças gigantescas provocam hecatombes formidáveis. O raio mais de uma vez cruzou os céus, num relâmpago que cingiu o firmamento de vermelho do oriente até o ocidente. As luzes flutuantes e as esferas astrais finalmente cantavam em coro: "TUDO ESTÁ CONSUMADO". Novamente o sopro suave do zéfiro vespertino trouxe de longe aquela voz que ressurgia junto com a primeira estrela da tarde: