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Poesias-->lúcio, por favor -- 21/08/2005 - 00:15 (maria da graça ferraz) |
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Não, Lúcio, por favor,
não abra a janela
Há excesso de cor
lá fora e não as quero
Prefiro a penumbra
dos candelabros de ferro
e o silêncio que antece
os homens violentos
que constróem janelas
em todos os tempos
Não, Lúcio, por gentileza,
não há nada lá fora
que eu deseje
exceto a misericórdia
para a alma silente
Conheço a fúria dos riscos,
em confluência, no remoinho,
e a inveja das formas
que se mordem e se rebelam
Lúcio, não abra a janela!
Lembro a paz aflitiva
e enganosa com que
homens insanos se atiram
em guerras sem honra sem trégua
Lúcio, não abra a janela!
Ah, a beleza perigosa
com que enfeitam o mundo lá fora
Ah, a riqueza que cega
os espíritos jovens e fracos
vulneráveis às ciladas
Pois confesso-te, Lúcio,
que fui uma ladra!
Roubei muitas janelas na vida
e tornei-as inofensivas,
mansas, decorativas,
como caixas velhas
abandonadas no depósito de lixo
Não, Lúcio, por gentileza,
repito, imploro, não abra a janela
Quem sabe,talvez, tu conheças
algum oculista para janelas...
As imagens repetem-se na memória
com semelhança tediosa
Nubladas...Fora de foco!
Ah, Lúcio, e se as janelas
tiverem que usar óculos?
E ampliarem-se as mazelas
do mundo...As dores , a loucura,
as coisas que perduram
e jamais descansam?
É tão pequena minha cela
diante do mal da Terra
Portanto, Lúcio, cuida-me
Conserva minhas promessas,
meu sonho, minha poesia,
e jamais abra estas janelas!
Afasta um pouco as cortinas
vermelhas, para que meu
rosto aqueça-se
E se eles...os que se repetem,
e apenas mudam os disfarces,
as perucas, a maquiagem
E se eles...
Eles que sempre saúdam as janelas,
e depois como aparecem, despedem-se,
perguntarem se estou,
diga que não...Lúcio,diga que não,
e dê a cada um deles, uma janela,
como um retrato, um mimo, um biscuit
Há hoje em mim, amor
Um amor que é capaz de destruir
e de devassar toda esta terra
mas ainda não é chegada a hora
da semente eclodir
Estou vulnerável, aberta, gaiola aberta
Lúcio, Lúcio, mantenha as janelas lacradas,
antes que as janelas me vejam,
me denunciem , gritem meu nome,
" Uma mulher livre",
e atraiam novos homens
que construam janelas,
mais janelas, janelas e janelas,
e eu seja soterrada
por falsas imagens dolorosamente belas,
e eu seja obrigada, mais uma vez,
a lutar contra cada uma delas...
Lúcio, fecha as janelas
Minha música atravessa
pequenas frestas....
E quando eles , os de sempre,
passarem por aqui, ao me ouvirem,
saberão que estou e irão embora
Porque deles é o mundo lá fora
e que meu canto os guie
e siga-os
como uma lágrima que corre
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