IGREJA UNIVERSAL CONSEGUE CONDENAÇÃO DA CÂMARA BELGA
Em relatório sobre seitas, deputados de Bruxelas identificaram os evangélicos brasileiros como ‘criminosos’
RELIGIÃO
Gilles LapougeCorrespondente
PARIS
Uma notícia curiosa. Uma igreja evangélica brasileira, a Igreja Universal do Reino de Deus, acabou de conseguir que a Corte de Recursos de Bruxelas condenasse a Câmara dos Deputados belga, por meio de seu presidente, Herman de Croo. É uma decisão inédita nos anais do Direito Moderno.
A briga é antiga. Em 1997, uma Comissão de Inquérito da Câmara dos Deputados belga apresentou um relatório sobre seitas. Entre as seitas identificadas pela comissão belga, está o movimento pentecostal fundado no Brasil, que diz ter 6 milhões de adeptos, entre os quais centenas de belgas, a Igreja Universal do Reino de Deus. O relatório dos deputados não era nada suave. Definia a igreja como uma “organização criminal que tinha como único objetivo o enriquecimento”.
Uma das testemunhas ouvidas pelos deputados belgas acusou: “É uma verdadeira organização criminal” e “um empreendimento de escroques”. Os julgamentos foram colhidos pelo Centro Belga de Informação sobre Seitas, segundo o qual a Universal arrecada todos os anos US$ 1 bilhão.
A Corte de Bruxelas colocou em dúvida o método utilizado pela comissão para solicitar testemunhos. Eles explicam que os “deputados atacaram a imagem da Igreja Universal do Reino de Deus confiando, sem verificação, em testemunhas interrogadas a portas fechadas, de forma que ‘simples afirmações’ foram apresentadas como ‘fatos verdadeiros’”.
A decisão da corte surpreendeu mais ainda, já que esse relatório sobre seitas já havia produzido ações na Justiça por parte de outras seitas, como a Igreja da Cientologia. Mas nessa ocorrência, os reclamantes foram derrotados.
O veredito da corte foi considerado “insensato”. O presidente da Câmara, Herman de Croo, disse: “Isso é grave para a imunidade do parlamentar. Se a Câmara estiver definitivamente condenada, eu me retirarei, porque será o fim da independência do Parlamento”. Croo vai entrar com recursos na Comissão de Cassação e na Corte Européia dos Direitos do Homem.
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Matéria publicada no jornal
O ESTADO DE S. PAULO,
VIDA &, Segunda-Feira, 12/09/2005, página A13.
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LUIZ ROBERTO TURATTI.