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Poesias-->Prosa De Velhos Amigos -- 20/01/2006 - 09:50 (Anderson Christofoletti) |
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Prosa De Velhos Amigos
Não tenho as mãos calejadas,
Nem tenho toda a poesia
Que o sol e o tempo imprimiram à sua pele.
Tenho dois olhos caídos.
Eles não refletem o azul de um céu interiorano,
Mas um verde influxo
Que sabe pouco do caminho da vida,
Da lida cotidiana...
Tenho uma rainha , sua princesa:
Talvez a ponte mais sólida
Entre os nossos seres,
Entre os nossos tempos
(Além dos olhos caídos).
Às vezes, um som de viola me toca,
Me acorda para manhãs acolhedoras
Que sorriem um sol lírico.
Sabe,
Às vezes sinto algo que me
Aperta o peito , mas não sei o que pode ser...
Dizem que é saudade
E que , às vezes,
Um abraço resolve.
Olho para mim,
Num daqueles instantes
Em que buscamos razões
Para as coisas inexplicáveis,
E sinto que a cada dia
Abandono algo pelo caminho,
Algo que o tempo porta para a terra do esquecimento.
Minha casa não existe mais.
Se existe , não tenho mais suas chaves.
Aquela janela por onde o sol
Ungia de sonhos meus olhos,
Está trancada.
Meus laços com os sentimentos do mundo
Vão se soltando um a um
E , quando agarro algum
- Pela sede insana de guardar o passado -,
Ele de desfaz em pó
Ou se dá um nó,
Feito brasa que deixa fugir ,
Numa noite fria
De inverno,
Seu calor
E sua cor ardente.
Mas, me diga:
E os canários?
E a jabuticabeira,
A praça
(E as pernas que nela passeiam),
As modas sertanejas,
A cerveja,
A cachaça de alambique,
Os passeios de bicicleta,
Os sorvetes ?
E o lago azul?
É....andam dizendo por aqui que o senhor casou de novo ...e mais,
Dizem que foi com a mesma mulher.
Mas são apenas palavras
De razão desnecessária...
Queria eu ter a sabedoria
De singrar pela vida
Colhendo apenas as coisas simples,
Aquelas que não carecem de palavras.
Talvez, assim, fosse
Mais vida do que desejo de viver.
Minhas mãos , infelizmente, já não
Sabem precisar de outras mãos.;
Meu coração criou uma casca
Que às vezes sangra,
Noutras é indiferente à lâmina
Que a cinge.
Parece que posso ver
Seus olhos azuis,
Seu olhar meio baixo
De quem ainda possui
O raro dom da humildade.
Sabe,
Hoje me sinto vazio
- Um vazio impreenchível -,
Um imenso quarto escuro
Onde as lembranças de tudo
Que poderia ter feito,
De tudo que poderia ter sentido,
De tudo que poderia ter sido
Ecoam em forma de silêncio,
Em forma de lágrimas secas
Que deveriam cair
De meus olhos caídos, mas não caem...
...Falo isso
Porque sei que
O senhor
É um dos poucos homens
Que tem o direito de chorar
Seja de alegria ou tristeza
E o único que conheço
Que sabe fazê-lo
Da forma mais sublime
E sincera
Que Deus já permitiu.
É...
Nisso somos diferentes.
É, meu amigo,
Já estou de partida,
Mas, antes de tomar meu rumo,
Gostaria de lhe revelar um segredo
(Mas tem que ficar entre nós dois).;
Na verdade
Sei que o senhor sente,
Mas , hoje,
Preciso lhe dizer com palavras :
Vô, te amo!
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