LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->frag- mulher -- 19/02/2006 - 00:50 (maria da graça ferraz) |
|
|
| |
Série fragmentos
MULHER PELA MULHER
parte 1
mdagraça ferraz
gracias a la vida
1
Perguntavam-lhe
de onde vinha sua força
e ela respondia
que sua força vinha
da própria natureza feminina
Mulher já vinha cortada
e sangrava
Mulher foi feita para regenerar
2
Pois ela iria
contrariar a vida
Nas encruzilhadas
seguiria reto
como quem se cicatriza
no meio
3
Sempre que algo
a machucava
Mesmo que puntiforme
e restrito
como a dor
da picada pelo espinho,
ela perguntáva-se atordoada
em qual direção
chegaria até a rosa
4
Ela tinha o hábito
de beber água gasoza
no copo de cristal
com fundo de espelho
Jeito que arrumara
de se beijar na boca
Enquanto , lá fora,
os homens- filhos, pais, esposos,
matávam-se uns aos outros
5
Ela comprara o casaco
porque vinha com
um bolsinho no avêsso,
ao lado do peito
O bolsinho não teria
nenhuma utilidade por ora
Era como uma saída
de emergência
Um extintor de incêndio"
6
Quando deixara de amá-lo,
passara a cuidar da roupa dele,
com dedicação fanática
Engomava colarinhos, punhos,
passava as meias,
melhorava a cobertura
E a gravata era dobrada
como um laço de fita
7
Os paninhos bordados
das bandejas
O toque da cereja
no sorvete
Ela era detalhista
Assim escolhera
seu marido
Algo belo e inútil
como um jardim de inverno
no Brasil
8
Se lhe pedissem
para morrer de amor,
sem titubear, morreria
Mesmo sem saber ao certo
o que seria isto
Mas, por amor,
tudo valeria,
principalmente nada saber
9
A nudez dela
A verdadeira
Estava SOBRE os vestidos,
além da pele,
dos contornos,
do próprio corpo,
dos olhares da sociedade
elegantemente suja,
hipocritamente nua
10
Qual seria o fim
destas paredes de concreto,
dos muros que se levantavam,
das cidades cinzas?
Qual seria o fim
disto que é um fim,
em si mesmo,
ela se perguntava,
absorta, retirando um pêlo
da sombrancelha
Metade azul
Metade vermelha
11
Ela esperava
o amor
à janela
Sacudindo o abanico
Às vezes, virando
uma pétala de rosa,
como um livro
12
Porque toda forma
era um vestido
O pássaro. A rosa.
O sol. A montanha.
O mundo era um guarda-roupa
E como será que seria o nú
que se vestia de mundo?
Ela se perguntava
Pés descalços. De luvas.
|
|