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Poesias-->O SONHO. -- 19/03/2006 - 18:49 (Hull de la Fuente) |
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O SONHO KAFKIANO
A MÃO MACIA QUE ESCORRIA DEDOS
TOCOU-ME O SEIO FEITO DE TOMATE
O VELHO PADRE COM ASAS DE MEDO
ME CONDENOU A VIRAR MASCATE.
E NAS ANDANÇAS PELO MUNDO CINZA,
PEÇO SOCORRO AO COPO DE VINHO.
TENTO ESCAPAR DE UMA LARANJA NUA,
QUE ME PERSEGUE CHEIA DE ESPINHO,
MOSTRANDO OS DENTES DENTRO DA SOPEIRA,
QUE DANÇA VALSA NO MEIO DA RUA.
UMA MENINA QUE NÃO TEM CABEÇA,
ME CUMPRIMENTA COM ACENO BREVE,
SUBO CORRENDO OS DEGRAUS QUE DESCEM,
DA CACHOEIRA DO RIO DE NEVE.
TENTO FALAR, MAS NINGUÉM ESCUTA,
GRITO UM SUSPIRO COM SOM DE SORVETE
ALGUÉM ME ACUDA, POIS EU ME DERRETO,
NINGUÉM ME OUVE, VOU FUGIR SONHANDO,
NAS ASAS BRANCAS DE UM GATO AZUL,
MEU TRAVESSEIRO É UMA ANDORINHA,
QUE VOA EM “S” EM DIREÇÃO AO SUL.
TENTO ACORDAR, MAS NÃO É A HORA,
A CAMA ROSA ME ABRAÇA AGORA,
A ORQUIDEA LÂMPADA GRUDADA NO TETO,
PISCA-ME O OLHO DE VIDRO AMARELO
E O HOMEM GRÁVIDO SEGURANDO O FETO,
NADA NAS ONDAS DA PLACENTA ABERTA.
O VELHO PADRE COM ASAS DE MEDO,
SORRI AOS CORVOS E CONTA UM SEGREDO.
A FRIA ÁGUA DO RIO AVALON,
BANHA A MENINA QUE NÃO TEM CABEÇA
QUE ESPIRRA CRAVOS PELAS AXILAS,
E COME SARDINHA NA PONTA DO DEDO.
AS ANDORINHAS DE PERNAS DE AÇO,
VOAM EM VOLTA DA ESTRANHA MENINA,
O GATO AZUL LHE DÁ UM ABRAÇO,
A BRUMA CHEGA E O SONHO TERMINA.
(Hull de La Fuente)
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