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Poesias-->Os ossos do silêncio -- 31/12/2000 - 18:29 (João de Abreu Borges) |
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Cultura e Alegria
ouço teu silêncio nítido como um raio
como a face líquida de um rio
sombra de um precipício
onde guardo em meu coração uma hélice...
ouço e, além dele, eu vejo o próprio silêncio
como a sagração das células
medulas que penetram os ossos
é um silêncio sem silêncio
toca as cordas do violão como um cão na madrugada
um cão de guarda com um ar de arlequim
vadio em mim (só de pensar em mim)
ouço teu silêncio
e ouvi-lo é pressenti-lo
como um rastro sem rumo
que jamais ousará além dos ninhos
como o incenso que perfuma um longo pêndulo
daquele que se lança – cânhamo e sândalo –
frente a Deus em desafio
ouço teu silêncio
e ele coloca um estranho ruído em tua voz,
um sussurro
como o ventre daquelas que nunca foram mães
mas que geram, dia a dia, os dartanhães
os espadachins de rua sem a mínima chance
mas com o máximo de violência
capazes, pelo menos, de um capuz arakiri
ouço teu silêncio
e ele não desafina minha canção.;
é um silêncio que abriga meu grito,
e chega em meu rosto como o susto de um feto
no tumulto anterior ao parto.
Sim,
ouço o teu silêncio e me recordo dos antigos:
aqueles que não olhavam para os próprios umbigos
e condenavam as estrelas ao rumo de suas caravelas em perigo
e ruminavam as raízes como os passos distraídos dos cegos
e iluminavam os mentirosos com a verdade destemida dos demiurgos...
ouço teu silêncio
e ele passa por mim ao fim desse dia
como os espíritos atenienses passavam pelos corpos espartanos:
com cultura e alegria!
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