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Poesias-->POLIGLOTA DE UMA SÓ LÍNGUA -- 04/09/2006 - 15:07 (Délcio Vieira Salomon) |
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POLIGLOTA DE UMA SÓ LÍNGUA
Délcio Vieira Salomon
Minha mãe falava
várias línguas
numa só.
Falava a língua da mentira
quando me consolava em minha dor.
Falava a língua do conformismo
quando dizia tudo para ela estava bom.
Falava a língua da fé
quando me convencia :
- “Deus tudo vê
e tudo há de prover”.
Falava a língua do medo
quando me confidenciava:
- “se houver fila pr’a morrer
não quero acordar cedo
prefiro o último lugar”.
Falava a língua do destemor
quando jovem viúva ia fora trabalhar
para não deixar o pão faltar.
Falava a língua da esperança
quando me prometia:
- “a paciência tudo alcança”.
Falava a língua da caridade ao dar
a sobra de comida ao pobre faminto
a sua porta sempre a implorar.
Sim falava todas essas línguas:
a da fé
da esperança
da caridade
da mentira
do conformismo
do medo
do destemor
até da autopunição
falava.
Mas todas numa só:
a do amor
que em seu coração
pulsava sem parar
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