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Poesias-->Porto Solidão -- 10/12/2006 - 13:19 (Edgard Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aproximando-se do porto, vejo

Entre balouços, sobre ondas vorazes

A nau que espero e que há muito desejo

A se exibir, a desfraldar cartazes

Não vejo a hora, culminante ensejo

De avistar, sorrindo, pensando frases

A figura esbelta no tombadilho

Lançar em mim um olhar de puro brilho



Não é de hoje que venho sofrendo

A tua ausência, a tua separação

Aqui me encontro, sei que estás me vendo

Meio escondido, envolto na multidão

Aos poucos sinto desaparecendo

Aquele medo de receber um não

Para provar, tenho aqui uma rosa

Como tu, bela, viva e perfumosa



Há quanto tempo existe esta vontade

De revelar o que trago em meu peito!

Se tu soubesses somente a metade!

Mas, pra mostrar-te não encontro jeito

Ouve meu coração, por caridade!

Só que agora, o que está feito está feito

E, com temor e insegurança, digo:

“Meu grande bem, queres casar comigo?”



Agora vejo que não estás sozinha

Sorrateiro, um mancebo se aproxima

Aperto a sua mão e ele a minha

Meio que tonto me esqueço da rima

Tem belo porte e andar de almofadinha

Chega me olhando de baixo pra cima

Agora lembro que há momentos vi-o

Aproximar-se, como eu, do navio



Ficaste pálida, lívida e muda

Pressinto que algo de ruim me espera

Olho pros céus como a pedir ajuda

Procuro forças no ar da primavera

Sinto uma dor, uma tristeza aguda

A corroer meus sonhos de quimera

Não quero crer no que me mostra a cena

Continuar ali não vale a pena



Eis que tua voz nervosa se anuncia

Tu não consegues me encarar de frente

Sinto que o sonho que a antiga magia

Sumiram-te da face de repente

Aos poucos vai se escoando a luz do dia

Escurecendo meu mundo carente

Quando tua frase me chega ao ouvido

“Sergio, este é Carlos, meu novo marido”

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