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Poesias-->Fotógrafo de almas -- 08/01/2007 - 23:16 (Silvio Guerini) |
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Como um fotógrafo e suas lentes
eternizando momentos
criando imagens permanentes
esculpindo no filme sentimentos
o poeta nada mais faz
do que rimar sensações com magia
do que tornar emoções em versos
eternizando um momento em poesia
E pra que isso aconteça
mesmo que em pele alheia
fingindo um sol que lhe aqueça
montando castelos de areia
o que ele escreve precisa existir
ser na pele vivido
sentido
mesmo que na sua louca fantasia
até num mundo de faz-de-conta
numa terra de magia
onde ele rege soberano
sobre o destino da sua musa
cuja beleza entre rimas abusa
onde rege tirano
nos sentimentos que ora curam
que ora ferem... e se agora não me engano
sobre quem ama... sobre quem chora
vendo um sonho indo embora
e embora fale de amores e dores
usa lápis de todas as cores
e aquilo que brota de suas mãos
inspirado pelo que viveu
inspirado no que gostaria de ter sido
inspirado no que deseja um dia ser
no desejo de ter
brota como a planta que sai do chão
brota como água pura de ribeirão
brota dos sussurros gritados pelo infinito
pelos iguais que não pode ver
mas que sente nessa doce presença
a força que o ajuda a caneta mover
transformando um turbilhão de idéias
redemoinho feroz de sentimentos
em palavras que se juntam
nas rimas que nos encantam
dos versos agora bentos
E o que dizer das musas então?
Criaturas líricas
lindas... vestidas de paixão
Seres idílicos
anjos da nossa redenção
que muitas vezes
em segredo
nem sabem que por dentro são fotografadas
pintadas com a tinta do poeta que as admiram
pela verve de quem escreve... e as desejam
pelo olhar do artista que as desnudam
das roupas que lhes cobrem
do próprio corpo que lhes aprisionam
chegando na alma
no cerne
na essência desses seres quase mitológicos
devastadoramente antológicos
mas que nem sempre com a lógica
ou vestidas de coerência
servem de base... de fundo
e ao mesmo tempo protagonizam
como heroínas e deusas num altar
as venturas e desamores que interiorizam
que o poeta de suas vidas quer narrar
Seus cabelos são como fios macios de seda
loiros... vermelhos... morenos...
suas bocas são portas de desejos secretos
de lábios em fogo entreabertos
seus olhares são como estrelas cintilando no céu
como dois sóis brilhando na escuridão
seus corpos são a nossa perdição
que abençoados pela pureza de suas almas
são o nosso destino... nossa salvação...
Como não amá-las... desejá-las?
Como não se render a tal beleza
que na incerteza dos sentimentos
repletos de pureza
trazem de dentro
do fundo de suas almas
a absoluta certeza
de que a inspiração do poeta alimenta
pois no clique dissimulado de sua caneta
fotografam suas almas como poesia
traduzidas nas cores das rimas sentidas
sentidas no calor dos versos eternos
eternizados no prazer das linhas
linhas do papel difusas
onde sua caneta desliza
nas linhas dos corpos das musas
onde a nossa inspiração se concretiza.
E nesse jogo de sedução
entre o poeta... sua musa... e o seu leitor
o primeiro, que fotografa a vida
revela também o seu interior
o segundo, que tem a alma fotografada
desvela um mundo multicor
o terceiro, que quer se ver no retrato
deseja mesmo se expor
mesmo que num mundo abstrato
pois tantas e tantas vezes
e só Deus sabe quantas foram
sente medo do que dentro sente
e se esconde indecente
numa racionalidade segura
atrás de uma pose madura
dos covardes complacente
mas de uma ingenuidade impura
pois ao mundo não se engana
e nem sequer o suficientemente dura
pois quando volta da vida cigana
na solidão cruel do seu quarto
desaba do altar em que subiu
e junto com a alma do poeta
em sintonia desperta
mostrando ao mundo que se abriu
e se deixa levar na fantasia
na magia das palavras
que não raro se molham
numa doce lágrima cálida
que foge do canto do olhar
rompendo sua dura crisálida
armadura de uma vida vulgar
batendo asas como formosa borboleta
olhando do alto um só lugar
a lente do poeta... sua caneta
no papel as emoções a retratar
e finalmente
quando a última estrofe termina
parece que aparece no peito
uma vontade imensa de viver
parece que surge na mente
num tempo que urge
uma vontade enorme de sentir
parece que no coração principia
como se fosse disritmia
um desejo incontrolável de voar
e quando abre os olhos
e também se vê naquela fotografia
escrita com a tinta e o sangue do poeta
de vez acredita que a vida é uma poesia
escrita numa gaiola com a porta entreaberta
Silvio Guerini
23 de maio de 2006, 19h35
guerinis@uol.com.br
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