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Poesias-->NOIVA DO MAR -- 26/03/2007 - 10:24 (Rudolph de Almeida) |
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NOIVA DO MAR
De tempos remotos os prédios descuidados
A pintura antes viçosa foi embora
Não são ruínas de uma cidade abandonada
Nela ainda fervilha a vida humana
Misturada às tristes fachadas
Mofadas, decaídas por cansadas.
Pelas ruas este vento insistente que sopra
Supostamente obra natural deste ingrato clima
São de fato os suspiros das tantas almas penadas
Que habitam ainda estas velhas casas
Se os corpos deixados na areia são pó
Os espíritos vivem pegajosos entre nós.
A mim já não estranha tanta umidade
Crêem ser o hálito do mar ou saliva da lagoa
Sei que é resultado dos choros convulsivos
Dos que aqui coexistem perdidos da matéria
Agarrados às velhas posses feitas dela
Esperando um retorno impossível da morte eterna.
O aroma pútrido que por vezes empesta os ares
É emanação que da terra promana
Para lembrar aos vivos de que convivem
Com centenas de milhares de corpos carcomidos
Disso não se apercebem os viventes nativos
Acham apenas que a cidade cheira a peixe.
As areias, ah!, quantas areias
Que o mar teria lentamente jogado nesta costa
E os ancestrais que viraram pó não contam?
São o passado que varremos pela porta
Pois nos incomoda a presença das lembranças
De que a morte dos outros um dia será a nossa.
Se à noite vou só contemplar a laguna
Vejo a bruma dos mortos e sinto seus suspiros
Algo toca meu cabelo com delicadeza
Outra alma perdida que quer companhia
Somos dois, um de carne, outro de éter
Em comum um passado perdido neste longínquo lugar antigo.
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