|     
				| LEGENDAS |  | ( 
					 * )- 
					Texto com Registro de Direito Autoral ) |  | ( 
					 ! )- 
					Texto com Comentários |      |   | 
	|
 | Poesias-->AURORA BOREAL (António Gedeão) -- 03/06/2007 - 01:31 (Heleida Nobrega Metello) |  |  |  |  |  |
 | 
 “AURORA BOREAL”
 
 
 
 autor: António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho. Teatro do mundo, 1958
 
 Lisboa: 1906 - 1997
 
 
 
 
 
 
 
 Tenho quarenta janelas
 
 nas paredes do meu quarto.
 
 Sem vidros nem bambinelas
 
 posso ver através delas
 
 o mundo em que me reparto.
 
 
 
 Por uma entra a luz do Sol,
 
 por outra a luz do luar,
 
 por outra a luz das estrelas
 
 que andam no céu a rolar.
 
 
 
 Por esta entra a Via Láctea
 
 como um vapor de algodão,
 
 por aquela a luz dos homens,
 
 pela outra a escuridão.
 
 
 
 Pela maior entra o espanto,
 
 pela menor a certeza,
 
 pela da frente a beleza
 
 que inunda de canto a canto.
 
 
 
 Pela quadrada entra a esperança
 
 de quatro lados iguais,quatro arestas,
 
 quatro vértices, quatro pontos cardeais.
 
 
 
 Pela redonda entra o sonho,
 
 que as vigias são redondas,
 
 e o sonho afaga e embala
 
 à semelhança das ondas.
 
 
 
 Por além entra a tristeza,
 
 por aquela entra a saudade,
 
 e o desejo, e a humildade,
 
 e o silêncio, e a surpresa,
 
 
 
 e o amor dos homens,e o tédio,
 
 e o medo, e a melancolia,
 
 e essa fome sem remédio
 
 a que se chama poesia,
 
 
 
 e a inocência,e a bondade,
 
 e a dor própria, e a dor alheia,
 
 e a paixão que se incendeia,
 
 e a viuvez, e a piedade,
 
 
 
 e o grande pássaro branco,
 
 e o grande pássaro negro
 
 que se olham obliquamente,
 
 arrepiados de medo,
 
 
 
 todos os risos e choros,
 
 todas as fomes e sedes,
 
 tudo alonga a sua sombra
 
 nas minhas quatro paredes.
 
 
 
 Oh janelas do meu quarto,
 
 quem vos pudesse rasgar!
 
 Com tanta janela aberta
 
 falta-me a luz e o ar.
 
 
 
 
 
 postado por Heleida, junho de 2007
 
 
 
 
 | 
 |