Se eu pudesse viver minha vida novamente seriam apenas 26 anos e eu faria tudo do mesmo jeito. Então, vamos falar do futuro...
Como eu tenho a vida inteira pela frente, sei, desde já, que cometer erros é bom, além de muito engraçado. Não vou nem tentar chegar perto de ser perfeito. Relaxar mais, só se virar uma planta.
Como não há meios de ser mais tolo, buscarei aprimorar ainda mais as minhas bobeiras, uma vez que, desde já, não levo mesmo quase nada a sério.
Por algumas vezes recuso-me a tomar banho, o que me impede de ser considerado o mais higiênico dos seres.
Riscos? Viver é um risco. Viajar é sempre um risco e eu adoro. Já contemplo entardeceres, já subo muitas montanhas e já nado muitos rios, para o desespero, por exemplo, da minha mãe.
Sempre vou a lugares que nunca fui, e isso inclui os lugares para os quais volto pela milésima vez, pois é sempre diferente e eu me sinto entusiasmado como quando da primeira vez. Tomo sorvete em potes de um litro e não como lentilha. Não posso dizer que tenho problemas reais, muito menos imaginários.
Eu sou, sim, uma dessas pessoas que vivem sensata e produtivamente (além de “profunda” e “prolificamente”, porque o meu idioma é muito rico e os tradutores se lambuzam) cada minuto da vida. Isso é ótimo porque me sobra mais tempo para ser insensato e não produtivo. E, assim, tenho meus momentos de alegrias, que são todos eles.
Como eu tenho a vida inteira pela frente, trato, desde já, de só ter bons momentos, pois aprendi cedo, na vida e na poesia, que a vida é feita só de momentos e perder o agora é coisa que não pretendo fazer.
Eu até já levei termômetros para alguns lugares (porque se fizer menos de dez graus, aí é que não tomo banho mesmo!).; bolsa de água quente, não, porque rir já expectora para burro.; guarda-chuva é muito bom, mas ficar ensopado também.; pára-quedas, só se for contra a queda de humor das pessoas. Essas tralhas eu realmente não levo. Mas não pela bagagem, porque quem viaja com a alma leve não se importa com o peso da mala.
Como eu tenho a vida inteira pela frente, não vou andar descalço, não, mas porque não gosto, e não por ser um maníaco hipocondríaco.
Desde já, dou muitas voltas na minha rua, às vezes de bicicleta, às vezes a pé, e cumprimento as pessoas que não conheço.; contemplo muitos amanheceres maravilhosos onde quer que eu esteja e brinco com as crianças, sendo uma delas eu mesmo.
Como eu tenho 26 anos e a vida inteira pela frente, quando, lá na frente, tiver 85 anos e não souber se estarei morrendo ou se deverei colher mais margaridas, não ficarei me lamentando pelas coisas não realizadas, porque as terei realizado todas. Não lamentarei a falta de qualquer Don, não lamentarei Nadine de nada. Só lamentarei se alguém atribuir a mim um poema pessimista. Aí, sim, lamentarei. Mas lamentarei por ele, não por mim... E como eu tenho ainda a vida inteira pela frente, peço que me dêem licença que eu vou viver mais um pouco agora.