LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->concreto -- 30/06/2007 - 22:36 (maria da graça ferraz) |
|
|
| |
Felizes, todos vós!
Felizes!
Sim, como sois felizes
porque eu, eu pobre, eu...
eu que nada inventei deste mundo
branco estático, nele estou presa
No aço, no plástico,
estendi minha árvore,
fiz cantar um pássaro
Eu precisava criar algo acima
entendem?
Eu precisava, vós não precisais disto,
vós possuís as formas à que tanto venerais,
insinceras, ilusórias formas,
formas sem paz, no entanto alegres vadias,
que distraem o malefício de vosso existir:
palavras, cercas, muros, tijolos, algarmassa
Mas,eu a pobre,eu precisei criar uma verdade,
algo incorpóreo, adivinhar-lhe os traços,
crer nesta verdade, dá-la minha carne,
meus segredos, meu sopro, minha vontade,
porque vossas formas a mim não saciam
Em torno de vós, tudo parte, em linha reta, e cai
Em torno de mim, tudo gira e volta
Estamos todos apartados da grande LEI
Mas, vós, os felizes , disto nada sabeis
Sois então felizes! Mil vezes felizes!
Sim,vós os felizes Sim, sois felizes
Ao meu lado, um coro de crianças
asmáticas,
cheia de gases tóxicos,
explosivos presos ao seu tórax,canta
o marulho de um mar bravo
onde há naufrágios
Balas de oxigênio,
canhões armados, apontam ao alto,
em silêncio
E sempre um sobrevivente,
pedinte, vadio,
pede um tubo de pomada,
para esfregar na pele-
cobertor contra o frio
E, outro, pede um vidro
de xarope, não para alívio
da tosse, mas pela cor do líquido,
mel cristalino,
dourado como o sol que mal víamos!
Porque vós sois felizes
Precisei no mundo branco
devastado
branco
procurar versos
versos
trôpegos lavados no amor
em que pudesse me soerguer
desta humana miséria
mudar a sorte traçar um novo teto
Vós sois felizes- Amais a queda!
O concreto! O baque!A própria morte |
|