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Poesias-->velhos -- 09/07/2007 - 19:22 (maria da graça ferraz) |
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1
Sobre a mais fina
ruga do seu rosto
A velha escrevera
uma palavra
com o batom
Estranha forma
de se maquiar
Ah... sedução
Que palavra
seria aquela
às luzes do salão?
2
Um velho sentado
Nas mãos, um lápis de cor
Parecia, visto ao longe,
um impaciente risco
à espera do toque
final do artista
3
Ali, na paisagem,
uma velhinha teimosa
exibia a boquinha
pintada de vermelha
E ninguém a via...
Era uma hemorragia
oculta
Um sangramento interno
4
Um casaco preto
Uma cabeleira branca
Um gorro cinza
Uma série de traços
paralelos
E onde estaria
o tal velho nestes trilhos?
5
O cabelo tão fino
O corpo curvo
Uma fraqueza
de superfície extrema
Mas ainda havia
a boca, um canino,
um nervo
6
E o velhinho
sorria
sorria
No rosto a pele
cortada de cruzes
como um bordado
visto do avêsso
cheio de luzes
7
Como? Desprotegida?
Ela possuía
as próteses, a bengala,
a cadeira de rodas
Era um tanque
de batalha
Fora o fuzil da língua
A experiência de vida!
E a família
se esgueirava dos tiros
8
E a velha
com seu xale de tricô
Tão pequenina era..
Que melhor seria escrever
Um xale de tricô
com sua velha
Ah, bandeiras puídas
vazadas
Às vezes, caçavam
uma borboleta
Outras vezes, um peixe espada
9
Os velhos
numa paisagem
nunca são figuras
São o fundo
10
Caduco
Duro
Reumático
O rosto do velho
à janela
não era um simples
vulto
Era um retrato!
11
O velho possuía
um nome, uma história,
um segredo de amor, viu?
Vou repetir
O velho possuía
um nome, uma história,
uma segredo de amor e um viu
12
Um velho
no parque de diversão
olha o carrossel
É um ponteiro
parado à zero hora
13
A mão branca desbotada
segura um copo de leite
contra a fúria da cor
Esta visão abria um espaço,
um vão, um intervalo
O que estava sobre a mão
que, de repente, escapara?
14
O doce olhar
do abandono
O andar pausado
Os gestos lentos
E, ainda assim,
uma força incompreensível
como uma cordilheira
pícos nevados
que avançam para cima
15
A velha na cama
imobilizada
mexia os fios ralos da
cabeleira branca
mexia os olhos
E soprava um vento bom
16
Era primavera!
E os velhinhos
no quintal do asilo
caminhavam em grupo
Ranzinzas. Resmungões
A borracha vencia
o lápís de cor
17
A velhinha mimosa
fez plástica
Estava esticadinha
feito couro de tamborim
aguardando a valsa
18
A velha tinha
a pele enrugada
Linhas tracejadas
de palavras cruzadas
Às vezes, esquecida,
uma letra no chão, caía,
e ela cismava
com o que era mesmo isto,
olhando para baixo
19
Um velho quando sorri
é como um livro
que se abre
e não para de se abrir
20
As bolinhas de papel
amassadas
cheias de versos de amor
É assim a pele do velho
Algo que deve ser afagado
antes de ser aberto
21
Existe em cada velho
algo que não mais fere
Absolvido
Existe em cada velho
algo que já partiu
O inviolável silêncio
do esquecimento
22
E a velha
que seguia seu caminho,
de repente,
olhou para trás, sorriu,
fingiu que não me viu
Está a minha espera
Entre esta que escreve
e ela,
uma mulher que nunca existiu
........................
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