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Poesias-->Fome -- 01/07/2008 - 16:37 (Lita Moniz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fome



Mata, come, mastiga como se

estivesses a mastigar a angústia

que veio em ti se instalar.



Mata, come com fúria selvagem

os últimos restos daquela infância

triste que não desiste de te atormentar.



Come, devora, como se estivesses a

devorar o monstro feio que veio tua

infância arrasar.



Come, esmaga, como se estivesses a

esmagar a lealdade que deves a quem

só te quer matar.



Come, dilacera, como se estivesses a

dilacerar a missão. Esta forma sinistra

de encontrar perdão.



Mata, come, tritura, como se estivesses

a triturar esta tortura que a loucura traz

para dentro de ti.



Mata, come com os dentes a ranger, como

se estivesses a comer a alma emigrante, o

andarilho errante, antes de se tornar um

fantasma a vagar entre tábuas a apodrecer

e ratos a roer.



Tal fera faminta crava os dentes, mata,

estraçalha e engole como se esivesses

a engolir maus tratos e toda a sorte de

humilhação.



Agora, vomita, não permitas que esta

podridão chegue perto do teu coração.

Lita Moniz























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