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Poesias-->Sô eu no caminho do meu sertão -- 25/02/2009 - 20:27 (Airam Ribeiro) |
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De Airam Ribeiro – Itanhém Ba
Andano a pé pelas véia istrada
Levano das xuva as pingorada
Oiano vuano no céu as paçarada
Vai ieu e meu pequeno jeguim trotão.
Um mata-burro na frente e cum jeitim
Quazi a mim pidi aquele burrim
Abra a cancela pra mim Bastiãozin,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Já cuieçeno as suas antiga treita
Dô as paçada ino para a direita
Qui inté a burrinha apruveitia
Aquela grande portuna ocazião,
Nas berada eu vejo as lindas fulô
Onde um dia tirei uma pro meu amô
Tomano puêra qui o jipi jogô,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Pizano num xão impoeirento
Rispirano o ar qui soprô o vento
Fazeno de mintira uns juramento
Catano argumas fruta temporão,
Qui pur acazo ta nos pé de pitanga
Côrro pra pegá os araçá na manga
Ôiço seu Zé aboiano os boi de canga,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Os relinxo bem longe das jegada
A gente ouvi destráis da xapada
Avizano qui mêi dia é hora marcada
Pra discançá na sombra ali no xão,
E a sede logo apóis a rapadura
Dexa a guéla nu’a grande secura
Na vazia a água nun ta de fartura,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Bem na frente do barranco da pravê
U’a cazinha qui ta cuberta de sapê
No alto o istandarte de São Juão se vê
A balançá cum os vento da região,
Sai fumaça no teiado da cuzinha
A gente vai siguino a istradinha
Oiano num cemitéro véi u’a cruizinha,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Não muitio longe da istrada
Tem urubu inrriba das ossada
Rueno o quê! Nun tem nada
Tamém faiz parte da minha vizão,
Sigo eu dano minhas topada
Aí meu Deus qui dô danada
Tomém faiz parte da caminhada,
Sô eu no caminho do meu sertão.
De longe já avista a ponta da cidade
Onde tô ino sem mutia maturidade
In busca da farinha, a necessidade
E nun isquecê as duas libra de sabão,
Qui no caderno é para seu Zé anotá
U’a pinga qui é para a puêra acentá
E dois minréis de fumo pra pai pitá,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Um pidido do fi de dona Oróra
Pra cumprá u’a briantina glostóra
Sabunete eucaló pro fio de dona Gulóra
A incomenda de seu Antõe é a injeção.
Tudo iço eu num póço nunca isquecê
Pois faço questão de eles bem atendê
Êcis favôzin eu faço cum todo prazê,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Uma lata de rugi pra Mariazinha
Um istôjo de pó cumpaquito pra Betinha
E um pote de carmin pra Zefinha
Esses eu num poço isquecê não,
No istábulo onde dromi os animá
É lá qui eu vou de noite deitiá
Inrriba do côro do boi marruá,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Tiro do jegue a sua véia cangaia
Amarro lá adonde as vaca maia
Ameã bem cedo a vorta nun faia
Cedim vô cumprá as incomendação,
Nas traia a panela de barro cum a cumida
E despois duma noite bem drumida
Qui o discansu jogô pra longe a fadiga,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Já cum as coiza tudo comprada
Incruzive as qui forum incomendada
Eu vorto por essa merma istrada
Vinte légua e meia é a distanciação,
Meio dia quero ta na cruva da chapada
Pruquê lá é qui tem u’a pôca aguada
Pra eu lavá minha cara impoerada,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Na premêra cruva qui tem na xapada
Bem distante já vejo a criançada
Qui pidiu as caxinha sem marmelada
Pra pô rodinha e fazê um caminhão,
Para Rozinha levo um corte de xita
Pra fazê u’a saia pra ficá bem bunita
Na custurêra qui é a fia de dona Rita,
Sô eu no caminho do meu sertão.
Xêga a noite, finá da minha jornada
Tiro a rôpa quitá toda impuêrada
Pra lavá cum o sabão de cuada
Para guardá, pois apróxima o São Juão,
Intrégo a lata de carmin de Zefinha
O istôjo de pó cumpaquito pra Betinha
E o rugi qui mandô cumprá Mariquinha,
Ancim sô eu no caminho do meu sertão. |
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