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Poesias-->A BUSCA DA VERDADE E OUTROS SONETOS -- 18/05/2009 - 00:00 (Francisco Miguel de Moura) |
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A BUSCA DA VERDADE
Francisco Miguel de Moura*
Na busca da verdade, o homem pensa
Sem viver o seu mundo mais humano.
Com afastar de si o gozo insano
De quem age com a força do que vença?
Nesse pensar existe a força imensa
De suportar o genes desumano,
De perdão do pecado e o desengano
Das virtudes do outro, o que não pensa.
É o sofrimento em tudo e toda a idade,
Nulificando o ego e a liberdade
Por carregar a dor. E ainda duvida?
Pois não foi Cristo, em sua divindade,
Quem disse orbe et urbe, sem vaidade:
“Sou o caminho e verdade e a vida”?
A FALTA DO ESPÍRITO
Outrora eu tive angústias tão exasperantes
Como não crer em Deus, não querer o futuro.
Hoje, disto curado, inda mal me seguro,
Sem ter nem encontrar certezas fascinantes.
E em vão feridas saram num velho viajante
De todo resolvido a construir sua obra
Sem voltar-se ao espírito, uma nova dobra
Pra expulsar o veneno solto a cada instante.
Perante a humanidade igual a mim, sem fé,
Menti ser diferente e me fazendo até
Acreditar que bem mostrava novo exemplo.
Hoje, o saber humano, eu sei, feito de lama,
No proscrito me atira onde está minha cama
Porque fiz da matéria a base do meu Templo.
A TRISTEZA
Todo mundo algum dia esteve triste,
com vergonha de ser, de se mostrar,
sem querer aceitar, quando resiste,
o “eu”, o outro, o céu, a terra e o ar.
Por ter doenças difíceis de curar,
só pensando um futuro aterrador,
se o mal, de qualquer forma, foi o amor
que lhe faltou... Por quê? Não soube amar.
Também sofri por isto e, sem receio.
Com risos que não tenho – meus inventos –
vou castigando o monstro-orgulho feio.
E aprendi a lavrar meus sentimentos,
guardando o cabedal dos pensamentos
num cofre de saúde e de amor cheio.
COMO SABER
Sou como a natureza: Não me deixo
transformar porque apenas alguém quis;
não julgo nem condeno, mediatriz,
penso de mão na testa e não me queixo.
Penso e resolvo o que me diz respeito,
por dentro e não por fora, que é ilusão.
De que vale pintar “sim” sobre “não”?
de que vale mostrar o que é desfeito?
Previno-me de enganos aonde for...
Mas como vou saber se sou cativo
da razão? se nasci só para o amor?
Como é que vou saber da minha sorte,
se me perco no mundo em que cultivo
razão e sentimento, e vida, e morte?
CONSOLATRIA
1
A casa era modesta e me convinha,
Olhei de esguelha, o morro. Ela, trepada,
Não me disse da bela namorada,
Que guardava, sonhando e tão sozinha.
Não havia por perto outra vizinha,
Nem outro viandante pela estrada.
Sol da manhã e a porta escancarada,
E uma donzela ao meu encontro vinha.
Minha pressa tomou-se de harmonia
Aos seus passos cantantes de alegria
Para abraçá-la em frente da janela.
E a moça arrependeu-se e, com bondade,
Me disse que eu voltasse... Na verdade,
Pensou que eu fosse o namorado dela.
2
Fiquei lutando contra o desengano,
Adivinhando um dia nos meus braços.
Guardava, em pensamento, os belos traços.
Que ela guardasse os meus, sem novo engano.
E assim refiz mil vezes o caminho,
Percorrendo sem pressa ou azedume,
Sem ter medo, vergonha nem ciúme,
Mas não ganhei sorriso nem carinho.
Falei comigo: – Se ela não me quis,
Não deixarei jamais de ser feliz,
Pois me sobrou a imagem mais singela
Que se compõe qual fosse uma viagem
Sem mala, sem bilhete nem passagem,
Ao lado de outra virgem igual a ela.
3
Tantos anos passaram... E ainda agora
De tudo que guardei da adolescência,
Aquele tempo de espera e paciência,
Como saudade no meu peito mora.
Tão casual o encontro, muito embora,
Duradoura demais minha insistência,
Que eu jurava ser simples inocência,
Agora sei que o homem não tem hora
Para amar ou pra conquistar o amor,
Quer este rime com prazer ou dor,
E só por isto a nossa vida é bela.
Meu coração palpita de contente
Quando recebe da mulher que ostente
Um riso apaixonante como o dela.
ELA, QUEM É?
Quando ela passa sem voltar o rosto,
orgulhosa do corpo, intenso lume,
no caminhar derrama um tal perfume
que cega o nosso olhar de tão bom gosto.
Quando ela vem de novo dá esperança,
e a gente nem pressente como passa
rindo ou cantando, com tamanha graça!
Impossível saber para onde avança.
Da vez próxima deixa de acenar
com a saudação comum de cada hora,
mesmo mostrando graça em seu passar.
Mas na última vez, vem tão sagaz,
que ao léu nos deixa e nem sequer se cora...
Quem sabe se ela volta ou nunca mais?
INGLÓRIA AMIZADE
Uma delícia de menina, aquela,
Delicada de mais... Quanto sonhamos!
Com seu medo e meu medo, nós rezamos...
Não sei bem a que santo a reza dela.
A minha era à Senhora Aparecida
Que me ajudasse a nunca vir perdê-la
Pois jamais tinha visto alguma estrela
Que tanto iluminasse a minha vida.
Amei-a muito e assim fui enganado,
Se ela me quis para seu namorado,
É que não tinha namorado algum.
Mas quando apareceu quem lhe sorrisse
Sabem, vocês, que foi que ela me disse:
“Por você, não nutria amor nenhum”.
Estrambote:
Triste, bem triste, a glória da amizade
De uma mulher que amarga na saudade.
SEM VEZ NEM VOZ
Essa tristeza que me bate agora,
indiferente a tantas alegrias
que já gozei por muitos, muitos dias,
não acredito que existisse outrora.
Como foi que perdi o sono e a hora,
porque me viro e mexo em noites frias
ou quentes. Donde vêm as agonias
deste invisível mal que me devora?
Essa tristeza mata-me as vaidades,
os traços familiares e as herdades,
tudo o que ontem fui de bom ou ruim.
É assim que se morre pouco a pouco,
sem ouças, sem visão, ai que sufoco!
Que é da fala?... Sem voz se chega ao fim.
PRESENÇA ANTIGA
Lembrando aquele sonho que me vela
as memórias, escrevo... E, de repente,
desce-me ao peito anúncios de procela,
pisando leve pra não me acordar.
Com lágrimas, revejo uma aquarela
branca e vermelha de quem vibra e sente
É que o amor jamais me dava trela,
rugia sexo além do verbo amar.
Dentro de mim pulsava uma donzela,
tão simples, num vestido de chitinha
a dançar e dançar no corpo dela.
E um cheiro que não sei donde é que vinha...
Oh, que gostosa juventude eu tinha!
Era a doce presença de Arabela!
*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador brasileiro, mora em Teresina, Piauí. Seu email: franciscomigueldemoura@superig.com.br |
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