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Poesias-->LÍRICA –Publicação por Eloi-Editor 1967 (4) -- 09/06/2009 - 09:49 (Eloi Firmino de Melo) |
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Poema escrito por Ângelo Monteiro
BARCAROLA
I
Cansei-me de não ser
de projetar-me apenas
a sombra sobre os espelhos
das naus rotas pelo tempo.
E como seria eu
se dos escombros da aurora
restei-me sem naus e música,
cantando os solaus de outrora?
Velejando em priscos mares
que nunca vi nem verei
com a láurea de pirata
do verde que não roubei?
Que adianta mais viver
depois de ser sem ter sido
se me contemplo sem tempo
nos templos verdes do olvido?
Onde a irmã a sereia
a loira albina das ondas
que nas suas dobras envolva o
irmão das ilhas sem nome?
II
Terra plana sem ondas.
Navego sem mar. Que faço
senão procurar espaço
onde me afogue sem dano?
Sem dano ou planos e
sem ninguém nesta viagem
que exija de mim mensagem
que não serve para aqui?
Se eu sou a anti-mensagem
(cansei-me de prosaísmo)
e de mensagem só trago
a verde, e aberta, do abismo?
Senhores, não vos convido
porque iríeis manchar o verde,
que não culpa de serdes
criaturas sem sentido,
em cujo esboço gorado
a natureza perdeu
tinta e pincel, no traçado,
sem vos dar sequer um eu.
III
Com palavras de cor verde
quero açucenar a vida
a que vós, senhores, destes
um gosto de formicida.
Resta-me o canto, e o canto
foi tudo que me sobrou
do que não tive ou perdi
no vosso mundo incolor.
Talvez sem o peso da vida
eu não fosse proprietário
do verde que não roubei
para o meu dicionário.
Nem se eu possuísse naus
tivesse a palavra a força
de gerar em si a música
sem deixar de ser palavra.
Pois nossa missão é esta:
(quanto mais bela, mais rara)
fazer que próprio mistério
se conceba em forma clara.
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