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Poesias-->Saturno -- 28/05/2010 - 00:31 (MARIA CRISTINA DOBAL CAMPIGLIA) |
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Número do Registro de Direito Autoral:131013763200600900 |
Saturno
Saturno era um negro gigante.
Cantava com voz de caverna
e eu
e meu irmão
interrompiamos
a aula de canto do meu avô
com as nossas risadas.
O mundo era enorme
desconhecido em tudo
e as esquinas tinham segredos
e mágicas
e aventura.
Meu avô nos ensinou coisas estranhas.
Clave de sol, música e acordes.
O piano ocupava a sala toda
onde ele recebia os alunos.
Nós fazíamos arte
-de criança-
no jardim.
E morriamos de rir dos astronautas
que brincavam conosco.
Visitavam nosso barco
Cowboys bonzinhos
e detetives
e dançarinas.
Conseguiamos fazer as épocas
sem gastar com figurinos
e percebiamos os anos
os perfumes
as tocaias.
Todos os deleites de nossas histórias.
Criávamos os tempos com acertados detalhes
e um dia disseram-nos que os sábados
brincados
acabaram.
Soldados esquisitos armaram-se nas ruas
e as noites eram curtas
e não podia mais
haver calçada
com lua
campainha do vizinho
e primos correndo
conosco.
O país ficou em sombra
e muitos amigos da casa que via
nunca mais vi.
Eu não entendia direito
pessoas falando em segredo
e livros queimando no quintal.
Saturno não veio mais
cantar.
Hoje sei de veias abertas;
de viradas de mesa,
tal e tal...
E que o barco dos piratas do jardim
existiu.
Assim como o foguete que partia
com cheiro de bolo
do fundo do quintal.
Sim.
Existiu sim.
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