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Poesias-->É trem, é trilho... -- 28/06/2010 - 15:26 (Alfredo Domingos Faria da Costa) |
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É TREM, É TRILHO...
Estação inicial
Estou no Metrô-Rio.
É manhã, dia de batente.
Muitos lugares vagos, até agora
Ocupo meu assento
Os “tipos” vão chegando
São seres isolados, fazendo a massa.
Um chega correndo, batendo a bolsa em si e nos outros
O outro lento, escolhendo posição.
O corre-corre começa cedo e vai até tarde da noite. É o vai-e-vem febril.
O condutor se apresenta tal qual comandante de aeronave.
Informações são ditas.
Sai o trem
É trem, é trilho...
Barulho interno forte. São vozes.
Lá fora, o som é abafado.
A escuridão vai sendo rompida
Pela janela são flashes. Luzes cortadas
A luz rasga o negro.
Parece um tatu de lata, entrando terra a dentro.
O interior é iluminado.
O balaústre é mais do que apoio
Para uns é cabide. Para outros é segurança. Estes estão atados.
Todos carregam alguma coisa
São mochilas
São bolsas femininas
Pastas de documentos. Sacolas de supermercado
Embrulhos
Cadernos e livros dos estudantes
Tudo isso.
É rara a mão boba, abanando
No mínimo, o jornal dobrado.
O compromisso está nas pessoas.
É trem, é trilho...
Cartazes anunciam. Mensagens para pensar e consumir.
Estações várias. Tantos nomes
Tem nome de praça
Tem nome de bairro
Nome de largo
Não faltam os Presidentes
Cardeal tem
Assim são as trinta e quatro estações.
Para na Central. Lota. Em direção à Zona Sul.
Continua
É trem, é trilho...
Gente com sono. Olhos fechados.
Uns falam sem parar. Os calados também estão.
Gente sussurrando. Gente falando alto.
Olhares distantes. Olhares atentos, curiosos.
Gente sozinha, isolada
Grupos. Patotas.
Meninada da escola, ansiosa.
Casal apaixonado. Olhos nos olhos. Testas encostadas.
Tem jornal aberto. Tem jornal aberto, mas o olhar é pra fora, fugido
Há quem de cima leia o jornal alheio.
Celulares tocam. Não podem faltar.
A cada estação quase um rodízio
Tem quem siga. Em frente.
Cadeira laranja. Tem gente certa pra usar
Tem desrespeito.
Gentileza não falta. Há quem se ofereça.
Moço fica de pé. Aí, o velho senta
Gentileza.
O homem puxa seu bloco de notas. Procura caneta e óculos
Escreve. Olha. Escreve.
É trem, é trilho...
O ar condicionado é forte. Quando com muita gente, parece não existir.
Casacos vestidos. Casacos nas costas. Outros nas mãos.
Tem gente friorenta. Mas, tem os esquentados. Garota de barriga de fora.
Vejo sandália havaiana. Vejo sapato de couro
Tênis é o que mais vejo
Sapato de salto das elegantes. Sapato baixo das “zens” e das discretas.
É trem, é trilho...
As cabeças fervem. Essas não param, mesmo com os olhos fechados.
Gente atrás de emprego. Gente deixando emprego.
Amor ficando de lado. Amor em conquista.
Paixão. Ciúme. Raiva. Recheio de sobra.
As cabeças fervem.
Tem gente.
Estou saindo. É preciso.
A viagem prossegue. Vai gente.
É trem, é trilho, é lata...
(Alfredo Domingos Faria da Costa)
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