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Poesias-->SAPONIA NA SERRA DOURADA -- 15/07/2010 - 11:16 (João Ferreira) |
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SAPONIA NA SERRA DOURADA
Jan Muá
15 de julho e 2010
Não estou num salão
Não vejo oboés nem clarinetes
Nem baterias
Nem instrumentos de música
Nem cantores
E entretanto há uma orquestra real
Se exibindo animadamente
O cenário é real
E tudo se passa no Rio Vermelho
De Goiás
Na baixada da Serra Dourada...
Devem ser dezenas de sapos
Aproveitando a noite
Num ritual sonoro
Que espanta
Não é iniciativa da Goiástur
Isso sabemos
Trata-se literalmente de uma banda organizada pela natureza
Onde os atores são sapos e sapas
Há baterias, há ritmos
Há corais, há solos
Cada um em seu tempo
Bem perto da Museu Casa de Cora Coralina
E da Casa da Ponte
O volume de vozes por vezes é mais denso
Em movimentos sincronizados
Alternados
E causa sensação
Há momentos próprios para os trêmulos da bateria
Há pausas
E descanso para a s vozes
Depois toda a orquestra retoma a execução
E o que se passa em certa altura da noite
É apenas uma saponia inédita
Já confirmada nas casas de artesanato
Onde se encontram figuras de sapos verdes
Com variação de atitudes
O concerto
Tem seu tempo suas regras suas fases
A exibição é noturna
Aproveita a luz mortiça da cidade
Com a Serra Dourada escura
Silenciosa
Quando estão desfeitos os cumes da montanha
E todas as formas reduzidas ao rosto da noite
É nessa cidade noturna e silenciosa
Que nasce e se manifesta a cidade dos sapos
É a hora do coaxar organizado
Onde todos têm vez
É o momento do amor
Da declaração amorosa
Da narrativa de muitos segredos
Em linguagem de sapo
É o momento da liberdade organizada
Em que a comunidade sapestre
Reivindica disciplinadamente
Anseios e conquistas
Insatisfações emoções e alegrias
Tudo isso acontece
Na hora em que a luz elétrica ilumina o relógio da torre do Rosário
E a fachada do Forum ostenta no pináculo a fria e elegante figura feminina da justiça
Com sua espada disposta a defender a lei
Há horas em que a saponia
Concorre com o som do violão dos grupos jovens que ensaiam junto à ponte na esquina do museu Cora Coralina
Na hora em que a lua crescente já se escondeu por detrás dos picos da serra
Quando a noite já é breu fechado mas muito mansa
Quando o rio fica escondido nas curvas da poluição
É nesta hora
Que os sapos revivem com energia sua vigorosa canção
E dão nota típica à beirada do rio
Quando a luz amortecida já é toda a alma da cidade
É nessa hora
Que a noite nos entrega de mão beijada a saponia
Esta nova forma de manifestação
De sapos com alma
Sapos que criaram sua própria cidadania
Através da cantoria
E se tornaram personalidades integradas no processo de afirmação da cidade
Criando a saponia
Ou a forma com que se manifestam na cidade de Goiás
Bem junto à casa acolhedora da vovozinha Cora Coralina
Distinto ex-libris da cidade.
Jan Muá
Cidade de Goiás, 15 de julho de 2010
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