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Poesias-->cont-148 -- 24/12/2010 - 23:35 (maria da graça ferraz) |
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O petista estava em êxtase!
Vivia o Samadi. Atingira o Nirvana.
Um tipo de psicose "divinóide"
abençoada pela marijuana
e pelos opióides
Afinal, os burgueses
foram vencidos
e os porcos capitalistas
caminhavam para o extermínio
ou para os campos de concentração
Viva a ditadura do protelariado!
Viva a Revolução!
Viva a democracia popular!
Viva Marx. Hegel.Marcuse. Caim
Viva Stalin. Gramsci.Adorno.Lenin.
Vive eu. Viva tu. Viva a cara de tatu!
Foi quando na rua,
o petista observou o seu "novo homem"
Seria aquilo uma visão angelical?
Estava lá, o seu "macaco social"
Estava ali , bem ali, seu ADAM
saído do barro metalúrgico,
da poluição e das indústrias
coroando sua grande astúcia :
O trabalhador altivo
aristocrático em reta postura
Enfim, o homem do futuro
que iria povoar o mundo
barbarizar os costumes
e fundar uma nova ordem
um novo cosmo um novo lume
Tchau Jesus. Tchau Moisés
Estava surgindo uma nova FÉ
E assim, o criador
dirigiu-se à criatura
sem disfarçar o orgulho
- Com licença, meu bom amigo
Vejo-o forte. Agora rico
Deixa-me cumprimentá-lo
O homem surpreso
olhou para os lados,
para baixo, para cima
-Não me respondes?
Estás forte. Agora rico.
Por que te escondes?-
o petista insistia
no rosto um sorriso
-Ah, o sr fala comigo?
-Mas claro!
Agoras que estás rico
é natural sua soberba
Afinal, saíste do nível de pobreza
Venceste a fome
Nunca mais será explorado
por outro homem
Observo o tamanho de tua barriga
-Minha barriga?
- Aposto que é excesso de comida
Muita fartura. Muita abundância-
e o petista piscou-lhe um olho,
rosto maroto
-O senhor me desculpa
Mas não é isto não!
Isto é Leismaniose,
Dengue e Tuberculose
Aqui dentro só tém água
um grande baço e macarrão
de segunda mão
que tive que disputar no muque
com um cão
O petista soltou uma gargalhada
-Já vi, o sr é um piadista,
é evidente!
Afinal, as classes emergentes
quando livram-se da exclusão social
vivem contentes
Observo teus óculos
Aros de tartaruga
Lentes caras
-Ah, os óculos?
Não me leve a mal
Para falar a verdade
roubei-os de um velho
no hospital
Não aguentava mais a tortura
de bater a cara nas portas,
paredes e muros
O petista continuava a rir
-Continua com as piadas
É isto que dá
quando a gente se torna rica e abastada
A vida ganha uma nova matiz
Tudo é motivo para ser feliz
E este teu relógio?
- Ah, esta coisinha aqui?
Ganhei de meu irmão
que é coveiro
após exumação
do esqueleto de um garimpeiro
É apenas um enfeite
Não funciona. O ouro é falso.
Uso-o como pulseira
-Observo tua pele
rosada e lisa
-É excesso de cortisona
Sofro de artrite
Não há uma só junta
que flexiona livre
O petista já estava
ficando impaciente
com a criatura
atrevida e desobediente
Afinal, quem ele pensava que era?
Ele era um mero servo
Um cidadão criado para ser apenas um elo
do processo histórico
Como poderia ter a ousadia
de questiomar os feitos heróicos
da Revolução?
-E tua camisa?-
É uma camisa estilosa
Moderna que te valoriza-
perguntou com raiva o petista
-Não a reconheces?
Isto não é camisa, sr camarada
É a bandeira do Brasil-
minha pátria amada
Estava com tanto frio
que subi no mastro,
tomei-a, abri um buraco,
onde enfiei minha cara
O petista estava desesperado
Sacou, então, a faca
- Uma só palavra
e te furo as tripas,
seu fascista!
-Mas eu falei a verdade!
- E quem se interessa pela verdade?
O que é a verdade?
A verdade é apenas um slogan!
-A verdade é a verdade-
retrucou a criatura
protegendo-se com as mãos
- Não! A verdade é a Revolução!
A verdade é um movimento
dialeticamente fabricado
pelo Partidão
-Queres me dizer que a verdade
é uma mentira- uma ilusão?-
dizia o pobre homem
no chão
-A verdade não é objetiva
Mas aquilo que pode ter aplicação
útil e eficaz em cada situação
Este teu sentimentalismo
burgues me enfastia
És vítima de uma estupidez colossal
És um retrógrado. Um radical.
E o petista, então. lembrou-se da doutrina
" As raças e os homens fracos
para sustentar a nova condição
devem ser eliminados
no holocausto da revolução"
E assim o petista agiu!
E assim o petista cumpriu!
E gritou
Viva a UTOPIA
e desapareceu
na cidade fria
As árvores sem frutos
A morte da alma
O mundo vazio
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