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Poesias-->pl-161 -- 24/12/2010 - 23:36 (maria da graça ferraz) |
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Como todo fim de dia,
o garotinho pobre
jogava bola
no terreno baldio
Fazia embaixadas
Matava a bola no peito
Depois, chutava-a
para o gol improvisado
pelas duas latinhas marcadas
Ele estava assim
Entretido
Sorrindo
Quando viu a mulher esquisita
Era uma mulher alta, clara e seca
Daquelas que sofrem de TPM
e de enxaqueca
E que trazem escondida nas roupas
a sétima trombeta
Vestía-se com um saco de estopa
E usava batom verde na boca
Numa das mãos, levava uma bolsa
que refulgia um brilho de prata
igual ao trilho de um trem
Na outra mão, um sombreiro
Tão largo quanto o humano
sofrimento e
Tão alto como um bolo de casamento
Seu cabelo escorrido
cor de mamão papaia
mal tratado caía
como uma samambaia
Se ela se mantivesse parada
seria um IPÊ
E já vinha acompanhada
com dois ninhos :
os brincos de paetês
que se sacudiam
aos movimentos nervosos
de seu longo pescoço
-Ei , menino!-
Ela gritou
com sua vozinha aguda e fina
como se soprasse um desafinado clarim,
ao ver a bola rolando
até as pontas de seus mocassins
Ela, então, tomou a bola
nas mãos
Encostou o ouvido.
Cheirou-a.Palpou-a
com os olhos fechados
Deu-lhe umas sacudidas
Por fim, contrariada, disse:
-Esta bola está reprovada!
É feita de material tóxico,
não reutilizável
e não reciclável
É ecologicamente inviável
E como se tudo isto não bastasse,
não é biodegradável
Falo tudo isto, meu filho,
porque sou bióloga
A criança observava-a
como uma coisa exótica
tipo uma múmia
ou um dinossauro
da era paleozóica
-É isto!
Não posso devolvê-la
Esta bola é um danoso brinquedo
Vou lhe trazer uma eco-bola
Aprenda menino,
o planeta é como um ser vivo
Não sabe ainda isto?
Uma folha. Um riachinho.
Uma pedrinha.
Tudo tém sabedoria
Além do mais
este terreno baldio
está contaminando
os lençóis freáticos
Vou modificar tudo
para um grande aterro sanitário
E ela falava isto
sacudindo os braços finos
como uma aranha
que dançasse o tiro-liro
-Hum?
Foi tudo que o menino disse
enquanto decidia
se ficava ou se fugia
-Saiba, que temos que reduzir
o impacto ambiental
para melhorar nosso astral
Observe minha ECO-bolsa
Ela foi feita de lacres de latinhas
E meu ECO-vestido? É descarte zero.
Um modelo esporte
e para não deixar sobras de tecido
o figurinista criou uma peça sem corte
Além do mais, ele é tingido
com pigmentos naturais à base de terra
Para customizá-lo, utilizei teclas
quebradas de computador
na barra , nas mangas, em cada prega
Observe CTRL-ALT-DEL, CAPS LOCK,
INSERT, PAGE UP,F3,F5,F4
Ideal para meditar e também dançar roque!
Meu filho, larga de capricho
e fique antenado :
Não podemos produzir lixo
E a mulher girava, braços abertos,
rodando a saia
-Estou completamente integrada
à paisagem
Faço parte da mamãe GAIA
-Hum?-
A criança ouvia-a
sem entender nada
do que a mulher dizia
-Observe o ECO-chapéu que uso
Ele possui um sistema
de captação e de utilização
da água de chuva
E no inverno, possui
aquecimento solar
por tubos à vácuo
Não é espetacular?
-Hum?
A criança gemia
Havia perdido
tudo que tinha
E o que tinha
era apenas a..."bola"
agora guardada
dentro da tal ECO-bolsa de chapinha
A mulher havia se ajoelhado
e braços levantados, orava:
- Em nome da chama violeta,
agradeço ao UNIVERSO
pela saúde do planeta
e pela grande festa cósmica holística
Eu sou uma estrela em liberdade
Eu sou a luz. Eu sou o Cristo.
Eu sou o caminho e a verdade
e a vida e aquilo e isso e isto
e ... nem sei mais o que sou
e o que também não sou
Ela então se levantou
sem antes beijar
cada uma das margaridas
que ali cresciam
-Meu filho,
não vou devolver sua bola
Ponha no saco, sua viola
Pelo seu benefício
temos que aproveitar os recursos
e minimizar os resíduos ,
os solutos e os solventes
para a estabilização climática
e redução dos gases poluentes
Neste instante,
a criança inadvertida
bateu com a mão destra
num mosquito
que havia pousado
em sua testa
A mulher viu o gesto
- Mas o que é isto?
Meu filho, tu já havias MATADO
várias formigas
com estes teus sapatos
Agora, um mosquito?
Sabe o que tu fizeste, desalmado?
Perturbaste o equilíbrio
eólico da natureza
e o totalitarismo planetário
Peça já desculpas aos defuntos
dos insetos
pela sua ação ordinária e desonesta
Lembra-te de que tu és um animal-
apenas um animal-
como qualquer um deles,
entendeste afinal?
E
quanto à bola, esqueça-a
-Hum?
Falava a criança
coçando a cabeça
-Este mundo é lindo..Lindo!
Só você e sua bola
é que mereciam ser extintos!-
e face colérica, gritava descontrolada:
-Temos que salvar o planeta!
Temos que salvar o planeta!!-
Era uma eco-xiita
condenando os ímpios
para as eco-fogueiras
( pré-fabricadas cumeeiras,
chaminés pré-moldadas,
com a técnica de plastos e silos
para o processo biológico
de compostagem aerobica,
reaproveitamento de cinzas
e diminuição da emissão de CO2)
-Hum?
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