Fechado para Balanço
A Nau que nunca partiu,
Cansou de esperar sair daquele lugar.
Fechada para balanço, pede descanso.
Parou o tempo de sonhar.
É o que é, e isso lhe basta, mesmo sabendo
que não é o bastante.
Que o sentido da vida é ir adiante, mesmo
que seja a última viagem do caminhante.
Lá fora o sol continua a brilhar, a iluminar
aqueles que se deixam por ele atravessar.
O mar se faz lago manso a chamar crianças
para com ele brincar.
O céu se veste de azul prateado, manto santo
a dizer: estou aqui para te proteger.
Há homens e mulheres polvo, que estendem
seus braços, dão e recebem abraços.
Há caramujos nas suas conchas enclausurados,
Veem perigo em todo o lugar.
Não saem da casca, ficam-se ali a dizer que aquilo
lhe basta. Paralisados, cansados de descansar.
A multidão na rua a passar, não olha para o céu, não
olha para o chão, nem sente mais o bater do coração.
Chaminés soltam fumaça a indicar que ali é um lar.
E nem aquilo é verdade, muitos são ruína, saudade.
Lita Moniz
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