Se existe algo livre,
são meninos correndo.
Não em zigue-zague,
(do futebol
procurando a bola cruzada),
mas para frente,
atrás de pipa caindo;
porque gritaram:
“O cara chegou!”
E alguém apostou:
“Quem chega lá primeiro?
Lá! Lá na frente!”
Nada é mais espontâneo,
mesmo em fuga,
quando deram um tiro.
O tiro ameaça:
“ Eu mato moleque pulador de muro!”
Se existe algo livre,
são meninos correndo,
disparados,
na rua, na beira.
como balas perdidas,
da tropa em retirada,
como cães atrás de rodas.
Se por acaso quisessem,
( param quando alcançam a pipa)
sumiriam na curvatura da terra.
sem lixar a sola dos pés.
Meninos correndo não se lixam para os passantes,
que admiraram o tropel.
Certa lenda conta,
dois querubins de uma igreja,
quando viram a disparada , disseram:
“Somos pedras, não podemos correr!”
Então rogaram a Deus que virassem meninos.
Deus providenciou a queda
e pedrinhas rolaram.