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Poesias-->med 98 -- 18/12/2011 - 00:23 (maria da graça ferraz) |
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Amei
Amei tudo que me atiraram:
Os doentes. Os fracos.
Os "complicados". Os malucos.
Os que "não servem para nada"
Os que não dão lucro
Os sem valia
para uma sociedade de consumo
Amei
Amei tudo que me empurraram
antes de fugirem para as festas :
Os perdidos. Os embriagados.
Os humildes de olhar modesto
que miram o sapato gasto
Os drogados. Os suicidas
Os piolhentos. Os indefesos.
Os derrotados pela vida
Os velhos. Os andarilhos
A multidão de filhos da rua
cheia de suspiro e de soluços
abandonada pelas falsas Igrejas
O bando de fugitivos desesperados
vítimas da crueldade e do desprezo
Amei tudo que refutaram
Tudo que lhes dava nojo
e ameaçava suas máscaras
Amei este povo!
Cada resíduo.Cada escombro.
Todo refugo. Toda xepa. Toda sombra.
Amei o cancro. Amei a ferida suja.
Os olhos com remela, amei
O pé rachado. O saburro.
O muco do nariz. O olhar opaco.
Amei. Amei toda esta feiúra
Amei !
Os desenhos dos fungos
me abriram mapas
Os barulhos das vísceras
me contaram segredos
As mãos que se abriam e fechavam
foram como baralhos
em que li a sorte e os astros
Amei
Não para transformá-los
Amei
Aquilo que eles eram
Simples e facilmente
amei
Sem sacrifício
Sem heroísmo
Sem precisar nada pedir
Amei
Esta foi a minha salvação
porque
"Ninguém pode se sentir
no inferno
quando ama o inferno"
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