Genética
Os locais mais inimagináveis
do meu corpo
possuem códigos ancestrais
como tatuagens
Não sei as datas.
Guardam fidedignos as marcas
como se fosse nesses pedaços
de pele
que as minhas avós pudessem ficar
vivas.
As tantas avós remanescentes
em séculos de passado
com cheiro de guardado.
Avós com enormes quadris
balançando de bons costumes
com segredos indomáveis.
Avós de chapéus com penas
e aventais de domingo
e homens ocultos com ternos
chegados à noite em segredo
em adúlteras carruagens.
Sou um conjunto orgânico
de vértices existenciais
onde os carimbos seculares
plasmam seus genes históricos
e denunciam-me sem saber.
Revelam-se em alguns gestos
antepassadas e fortes
avós com enormes pernas
avós com magreza astuta
e outras, sem qualquer charme.
Avós que costuram mantas
Ou roubam
Ou fazem farra.
É delas que tenho as garras
das fêmeas que mordem forte.
Desperta-me às vezes uma
com voz de uma tribo estranha
e sei que sai dos meus braços
e sou do seu ser
a parte.
Atiro flechas e tenho
as lendas em mim qual conto
voando azul como pássaro
em suave tarde de outono.
Carrego tácito lema, avanço
dos anos vinte
metrópoles tecnológicas
mundo
cansaço mudo:
e as partes que levo dentro
avós das avós que tive.
Descubro quando envelheço
que a vida retorna e fica;
que pede
que se repete...
e sabe-se lá de quantas
avós temíveis resulto
meu corpo traz o segredo
de todas
e algumas tristes...
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