Francisco Miguel de Moura*
Se o que existiu resiste
Á queda do fio de cabelo,
Á pele que sentiu o cheiro,
Viu o amanhecer pelo sereno,
Ouviu seu 'bem' dizer com alma:
- "Dou-te o meu DNA"!
Existir é só querer.
O risco no papel resiste,
Depois que o fogo o devorou,
O verso que o poeta fez,
A linha do tempo que não pára,
O risco invisível no céu, sem cor,
Como um relâmpago sutil,
Quando Deus mandar a eternidade:
Tudo existirá, tudo precisa
Existir como a dor
Que a não-dor separa.
E há o "nós" como ser sem "eu",
E há o feito e o desfeito
E ainda o defeito e o "por fazer"
Que só Deus, sábio, sabe
Como acontecer.
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*francisco miguel de moura, poeta brasileiro
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